PERÍODO DE “ESCURIDÃO”: Na vigência dos “grampos”, MT passou por “terrorismo de Estado” com as pessoas sujeitas a serem gravadas ilegalmente

PERÍODO DE “ESCURIDÃO”: Na vigência dos “grampos”, MT passou por “terrorismo de Estado” com as pessoas sujeitas a serem gravadas ilegalmente escuridão
RedaçãoEm seu novo depoimento ao juiz Murilo de Moura Mesquita, da 11ª Vara Criminal Militar, na tarde desta segunda-feira (27), o cabo da Polícia Militar Gerson Luiz Ferreira Corrêa Júnior, réu em ação penal que apura o esquema de interceptação telefônica ilegais e direcionadas principalmente contra adversários políticos do grupo do governador Pedro Taques, revela que as escutas foram ordenadas por Paulo Taques, primo de Pedro Taques.De acordo com o PM, o esquema de grampos telefônicos teve início poucos dias antes das eleições de 2014 e que culminaram com a vitória de Pedro Taques. O militar, em sua nova oitiva, afirma que entregou pessoalmente para Paulo Taques, no Palácio Paiaguás, um “pendrive” com os registros das gravações. O relato do cabo é minucioso e leva que se conclua que Mato Grosso, durante a vigência dessas escutas ilegais, passou por situação que pode ser comparada à de “terrorismo de Estado”. Ou disseminação de um ambiente de medo e intimidação de pessoas sujeitas a serem gravadas ilegalmente e ter seu sigilo telefônico violado sem ordem judicial. Um crime que afronta o Estado de Direito e princípios democráticos, sem que as pessoas tenham suas garantias constitucionais preservadas.Com essa aberração institucional ocorrendo longe dos olhos da opinião pública, promovida por setores influentes do governo que se acumpliciaram para perseguir quem fosse, a critério deles, considerados desafetos do governador e do então todo-poderoso chefe da Casa Civl, o advogado Paulo Taques. Esse período de “escuridão” política vai do final de 2014 até meados de 2017, quando o esquema veio à tona e passou a ser foco da mídia local e nacional, com repercussões negativas para Mato Grosso.Em sua fala ao juiz da Vara Militar, o cabo Gerson diz que Paulo Taques tentou suborná-lo, oferecendo dinheiro para “blindar” o governador nas declarações e depoimentos que viesse fazer à Justiça. Mas, no entanto, a promessa não foi cumprida, segundo informa o militar.É difícil acreditar que, diante da extensão das ilegalidades e crimes perpetrados nas entranhas oficiais, tanto o governador, quanto o seu primo Paulo Taques não soubessem da existência dos grampos clandestinos, sobre os quais, aliás, ambos negam qualquer envolvimento no esquema. No entanto, além das declarações do cabo – espécie de “braço técnico” – que operava o sistema das escutas, e agora alega que estava a mando de Paulo Taques, as evidências da articulação da então cúpula do Palácio Paiaguás em prol do esquema são muito fortes, a partir da constatação que os alvos das interceptações, basicamente, eram pessoas das quais os mandatários divergiam politicamente e tiveram enfrentamento nas urnas.O conteúdo do depoimento do cabo pode trazer elementos importantes no curso das investigações que se processam sobre o episódio conhecido como “grampolânda” pantaneira.No decurso desse processo, além do cabo, mais cinco oficiais da PM já foram presos e viraram réus, entre os quais o coronel Zaqueu Barbosa, ex-comandante-geral da Polícia Militar.A nova oitiva desta segunda-feira é decorrente de um pedido do cabo ao juiz da Vara Mlitar, sob a alegação de que várias passagens importantes ao esclarcimento dos fatos foram esquecidas por ele (Gerson), no depoimento realizado no dia 28 de julho, no qual passou mais de 15 horas nas dependências do fórum, ou seja, desde o  início da tarde daquele dia até o início do dia seguinte, tendo encerrado sua oitiva com o cansaço já prejudicando sua memória. MAIS DETALHES   Paulo Taques teria oferecido dinheiro ao cabo, segundo este informou em seu interrogatório. por duas vezes quando ambos estavam presos no Centro de Custódia de Cuiabá. O objetivo de assegurar o silêncio do militar seria o de garantir que as investigações não chegassem até o governador Pedro Taques,    “Recebi oferta de ajuda financeira de Paulo Taques quando eu estava preso no Centro de Custódia da Capital”, enfatizou o cabo, informando que a conversa entre eles ocorreu quando os dois estavam presos em decorrência da “Operação Esdras” em 2017. Para tratar desse assunto, conforme relato de Gerson, houve dois contatos entre ambos   ”Já na segunda ocasião, ele retornou para o CCC e tratamos melhor sobre ajuda para advogados. Ele me ofereceu um advogado do escritório dele e eu neguei, mas aceitei a ajuda financeira. Ele disse que o Siqueira iria procurar minha esposa, mas acabaram não a procurando”, contou.    “Graças a Deus não recebo ajuda deste senhor. O que tenho a dizer são estes fatos. O dono disso aqui se chama Paulo Taques e seu primo [no caso, o governador Pedro Taques]. Se não fosse isso, porque me ofereceria ajuda? O senhor Paulo pediu para não chegar ao governador, era a condição para me ajudar", declarou.COMO FUNCIONAVA As gravações ocorriam esquema, conhecido como “barriga de aluguel”, se deu por meio da inserção de números telefônicos em uma investigação sobre tráfico de drogas no município de Cáceres. Cerca de 120 pessoas teriam grampeadas ilegalmente. Entre eles, adversários políticos do governador Pedro Taques, jornalistas, advogados e empresários.Em seu depoimento, o cabo ainda revelou que a juíza aposentada Selma Arruda, que concorre ao Senado no pleito deste ano, sabia que uma denúncia de organização criminosa havia sido forjada para que nomes fossem inseridos em escutas.no ano de 2015 - detalha o cabo da PM - a magistrada procurou o Gaeco para relatar uma suposta ameaça contra a sua pessoa. Na oportunidade, ela teria sido recebida pelo chefe do departamento na ocasião, o promotor Marco Aurélio de Castro, que determinou que Gerson apurasse a denúncia.“Ela narrou que tinha conhecimento que uma pessoa da família de Antonio Carlos Milas tinha recebido algumas pessoas em uma fazenda, dentre elas o deputado Riva. E essas pessoas começaram a tecer comentários sobre ela, que ela era a cabeça do Gaeco”, relatou. “De imediato levei essas informações ao Marco Aurélio (promotor), que abriu investigação de maneira anônima. Foi então que foram incluídos os número do senhor Filadélfo dos Reis Dias, Silval Barbosa e Antônio Barbosa. Eles não tinham nada a ver com a história. Nós inserimos os três no bojo dessa investigação”, afirmou. ALERTA SOBRE ILEGALIDADE   “Falei ao doutor Marcos que o crime de ameaça não gerava interceptação. Então, simularam o crime de organização para poder grampear. Eu formulei a denúncia anônima. Foi combinado com Selma para se declarar impedida para julgar o caso que envolvia a ameaça e repassado ao substituto. Não tinha nenhum fundamento que contra Silval e outros. Tudo fui eu que fiz”, revelou.De acordo com ele, o mesmo “modos operandi” foi utilizado pelo Gaeco nas Operações Ouro de Toulo, que culminou na prisão da ex-primeira dama do Estado Roseli Barbosa, e Ventrílogo, Imperador e Metástase.   OUTRO LADO   Por meio de nota, o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (GAECO) disse que os fatos apontados pelo cabo Gérson não configuram “barriga de aluguel”.De acordo com a nota, a utilização de dados cadastrais obtidos em investigações não é vedada e não pode ser confundida com “barriga de aluguel”.