COMO O LEIGO PODE CONFIAR? Se maioria dos médicos já questionou tratamento receitado por colegas, de acordo com pesquisa

COMO O LEIGO PODE CONFIAR? Se maioria dos médicos já questionou tratamento receitado por colegas, de acordo com pesquisa MEDICINA
Por Mário Marques de Almeida Levantamento ouviu mais de mil profissionais para coletar dados sobre a experiência dos médicos quando estão na posição de pacientes. Em suma, o estudo aponta que a fragilidade humana - enfim, a angústia das pessoas - exige dos médicos mais paciência e empatia com seus pacientes leigos que não dominam profissionalmente, como eles, os rudimentos da ciência médica. A revelação de sentimentos e a percepção de médicos enquanto pacientes nos mostra que o ser humano, ainda bem, não é um robô e carrega o fardo de suas fragilidades. Embora não faltem aqueles que busquem manter a frieza de máquinas - o que faz parte das imperfeições recorrentes da raca humana que, infelizmente, ainda existem. Diante disso, a superação é manter a confiança no desenvolvimento físico, mental, espiritual e científico da Humanidade -  caminho que é capaz de aproximar a todos nessa jornada chamada evolução. Pesquisa realizada pela plataforma Medscape revelou que 63% dos médicos brasileiros já questionaram a decisão de tratamento receitada por seus colegas quando estavam no papel de paciente. Um novo levantamento, divulgado nesta quarta-feira (29), revelou que 63% dos médicos brasileiros já questionaram a decisão de tratamento receitado por seus colegas quando estavam no papel de paciente. Foram ouvidos 1.089 profissionais de mais de 16 especialidades, entre os dias 6 de abril e 23 de julho de 2023, para coletar dados sobre a experiência dos médicos ao estar na posição de paciente. A maior parte dos médicos ouvidos (73%) reconhece o valor de consultar outros, mas também admitiram que se automedicam quando consideram apropriado. Dentre os entrevistados, 77% diz acreditar que ser médico os torna mais propensos a recusar alguma opção de tratamento. E 74% dos profissionais acham que fazem mais perguntas sobre o tratamento receitado do que os pacientes que não são médicos. Entre as razões citadas para o questionamento de colegas, se destaca a crença de que a introdução de novos medicamentos nem sempre representa uma melhoria em relação às opções já disponíveis. Outras razões foram a decisão de buscar mais evidências sobre o tratamento e outras alternativas antes de acatar o pedido médico. Mesmo assim, 80% dos entrevistados afirmou se sentir seguro ao aceitar medicamentos prescritos por outros médicos, pois confiam no seu próprio discernimento para validar as prescrições. Quase todos os médicos ouvidos — 98% — se consideram mais conscientes dos riscos associados a certos medicamentos do que os pacientes não médicos. Diferença no atendimento Além disso, 55% dos entrevistados avaliam que o atendimento recebido por médicos é melhor do que o recebido por pacientes não médicos. No entanto, a plataforma ressalta que essa percepção também pode se dar por conta do acesso privilegiado dos médicos a hospitais e profissionais de referência quando estão doentes. Embora a maioria (62%) afirme que não espera ser tratado de maneira diferente, um porcentual alto (38%) disse o contrário. “Geralmente não revelo que sou médica para ver como os pacientes são realmente tratados. É sempre bom se colocar no lugar do outro e entender como os pacientes se sentem frágeis quando estão doentes”, disse uma médica de família ouvida na pesquisa. Dentre os entrevistados, 44% dos médicos esperam pagar pela consulta, enquanto 36% acha que a cobrança pode ser eventual, e 20% esperam pela cortesia. Maior receio Dentre os entrevistados, 74% admitiu que o conhecimento prévio tende a aumentar o medo quando eles mesmos apresentam doenças ou quadros clínicos desafiadores. “É assustador estar numa situação de risco com conhecimento detalhado do quadro clínico”, disse um cardiologista que participou da pesquisa. A experiência em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) foi um dos relatos negativos mais frequentes dentre os médicos que já ficaram internados. Uma clínica geral que respondeu à pesquisa relatou: “A experiência em UTI foi muito traumática, dada a impessoalidade do atendimento. Você deixa de ser uma pessoa e passa a ser o leito número X. Faz-se necessária a humanização do setor.” Após passarem por alguma experiência como pacientes, 76% dos médicos indicaram que isso os deixou mais empáticos em relação aos próprios pacientes. E metade afirmou que a experiência teve um impacto significativo em sua prática profissional.