Paulo Taques bancou esquema de “grampos”; escutas seriam por interesses políticos e eleitorais, confessa cabo Gerson
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28/07/2018 - 02:53
GRAMPOS
RedaçãoApós quase 16 horas de depoimento, encerrou por volta das 5h40 da manhã deste sábado (28) audiência que começou as 13h30 de ontem (27) e varou esta madrugada, perante o juiz Murilo de Moura Mesquita, da 11ª Vara Criminal, e na qual o cabo da Polícia Militar, Gerson Luiz Ferreira Corrêa Júnior, conforme já era esperado, confessou sua participação nos “grampos” telefônicos ilegais, revelou detalhes de como as escutas começaram a funcionar em Mato Grósso e apontou que o ex-chefe da Casa Civil do Governo de Mato Grosso, advogado Paulo Taques, primo do governador Pedro Taques, era o financiador da compra de equipamentos e manutenção do esquema de escutas clandestinas em Mato Grosso. Já o encarregado de passar as ordens e nomes das pessoas a serem “grampeadas” ilegalmente era o coronel Zaqueu, então comandante da Polícia Militar As escutas, sempre de acordo com o cabo, eram feitas com objetivos políticos e eleitorais e não com finalidade de desvendar crimes.O cabo Gerson passou a ser réu-confesso por ter assumido que era o operador do esquema de interceptações clandestinas que ficou conhecido como “grampolândia pantaneira” e começou em julho de 2014 – período pré-eleitoral da campanha que culminou com a eleição do atual governador.Ele cita que recebeu R$ 50 mil das mãos de Paulo Taques para comprar a aparelhagem e instalar a central de escutas. Em certo trecho de seu longo e detalhado depoimento, o cabo Gerson Ferreira chegou a ficar bastante emocionado quando disse que seu erro foi não ter dito “não” ao coronel Zaqueu, que o instruia sobre quais eram os alvos da “grampolândia pantaneira”, como ficou conhecido o esquema.Empresários, políticos, jornalistas, advogados e até membros do Judiciário tiveram suas ligações interceptadas e gravadas pelo grupo de militares.Em sua oitiva, Gerson disse que em setembro de 2014 foi ao encontro do advogado, juntamente com o coronel Evandro Lesco : “... eu e Lesco deslocamos até um lugar que não sei se é escritório ou comitê de campanha, fomos até o bairro Consil, em uma casa onde Paulo Taques trabalhava, e pegamos os R$ 50 mil, pegamos o dinheiro e começamos a comprar o que precisava. Eu e Torezan montamos o sistema dentro da sala locada para operacionalizar. Com o dinheiro arrumamos tudo e ainda ficou em caixa, quem comparava tudo era eu e Torezan”, afirma o cabo.Além do cabo Gerson e do coronel Lesco, são réus no processo criminal os coronéis da PM Zaqueu Barbosa, coronel Ronelson Jorge de Barros e o tenente-coronel Januário Antônio Edwiges Batista. Os oficiais foram interrogados primeiro, o cabo Gérson ficou para ser ouvido por último..O coronel Zaqueu, em seu depoimento, negou ter ordenado as escutas.
Pedro Taques
O governador Pedro Taques, em tese o principal beneficiado política e eleitoralmente com supostas informações sobre adversários adquiridas de maneira criminosa através dos “grampos”, vem negando, desde que o escândalo veio à nota, no ano passado, sua participação no esquema. Nesse sentido, a ação à qual responde os quatro oficiais e o cabo, teve desdobramento na área jurisdicional e uma parte dela, por questão de foro, está no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Tramita um inquérito naquela corte em função de que o próprio governador Pedro Taques (PSDB) pediu para ser investigado diante das suspeitas de seu envolvimento no caso.