ALMT aprova reclassificação de biomas, mas Sema alerta para irregularidades no projeto

ALMT aprova reclassificação de biomas, mas Sema alerta para irregularidades no projeto
Assembleia Legislativa de Mato Grosso aprovou, nesta quarta-feira (8), o projeto de lei que pretende reclassificar áreas compostas pelos biomas Amazônia e Cerrado em Mato Grosso. A proposta reduz de 80% para 35% a porcentagem da área que deve ser preservada em propriedades rurais no bioma Cerrado. Já na Amazônia, o percentual obrigatório permanece em 80%. O documento foi apresentado e aprovado em primeira votação na sessão ordinária dessa quarta-feira (30), na Assembleia Legislativa do Estado (ALMT), em Cuiabá. O projeto deve retornar para segunda votação na próxima semana. A nova legislação altera dispositivos do Código Estadual de Meio Ambiente e traz mudanças significativas na definição de vegetação, na delimitação de reserva legal e na compensação ambiental em áreas rurais. A proposta foi aprovada pelo plenário com 15 votos favoráveis e 8 contrários, após ser apresentada como substitutivo pelo deputado estadual Nininho (PSD). LEIA MAIS: ALMT aprova projeto que reduz reserva legal no Cerrado para 35% e mantém 80% na Amazônia Entre as principais mudanças, destaca-se a classificação de vegetação por biomas, com base no Mapa de Vegetação do IBGE, atualizado em 2012. A partir da nova lei, imóveis rurais localizados no Bioma Cerrado deverão preservar 35% da área, enquanto no Bioma Amazônico o percentual permanece em 80%. A proposta também elimina a análise detalhada de fitofisionomia, anteriormente usada como critério técnico. Outra mudança importante é a obrigatoriedade de um relatório técnico, elaborado por órgão ambiental, nos casos em que a vegetação observada em campo divergir do mapa oficial. A vistoria será custeada pelo proprietário do imóvel. A nova legislação também facilita a compensação de reserva legal. Proprietários de imóveis com déficit ambiental poderão adquirir áreas excedentes de outras propriedades para regularizar sua situação, por meio de transações legais reconhecidas. Novos Desdobramentos e Posicionamentos De acordo com o Observatório Socioambiental do Mato Grosso (Observa-MT), a medida pode impactar diretamente mais de 9,6 milhões de hectares no estado, o que equivale a quase 10% do território de Mato Grosso. Esses territórios podem perder a proteção ou a obrigação de restauração com a reclassificação das áreas dos biomas. Pesquisadores e ambientalistas criticaram a decisão, apontando que a requalificação das áreas é feita sem embasamento científico adequado, o que pode levar ao aumento do desmatamento em terras que deveriam ser preservadas. Segundo Alice Thuaul, pesquisadora do Observa-MT, a medida “contraria os objetivos ambientais propostos pelo governo estadual”. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) informou que a proposta aprovada na Assembleia não reflete o texto original enviado pelo governo. Em nota, a Sema esclareceu que “esclarecimentos devem ser solicitados ao Legislativo Estadual, já que a proposta original não tem relação com o texto aprovado”. A secretaria também informou que, ao retornar ao governo, o projeto será detalhado detalhadamente, tanto técnica quanto juridicamente, e que recomenda o veto integral da proposta devido a possíveis irregularidades. A Sema ainda ressaltou que, durante a tramitação na Assembleia, enviou à Comissão de Meio Ambiente uma nota técnica alertando sobre os riscos da aprovação da medida e que, ao receber o projeto, reforçará os alertas feitos anteriormente.