Sapo não solta leite: projeto da UFMT quebra mitos em escola
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22/05/2025 - 05:00
Quem nunca ouviu dizer que sapo joga leite? Essa é uma das crenças passadas há anos, e que o Projeto de extensão Sapo Pantaneiro, desenvolvido pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), tem atuado para desmistificar e ampliar o conhecimentos sobre esses anfíbios e répteis. A ação, com foco na educação ambiental e sensibilização para a preservação da fauna do Pantanal, atendeu até o momento, mais de 1.500 alunos de escolas públicas de Cuiabá, Várzea Grande, Cáceres e Poconé.
Coordenado pelo professor Matheus Oliveira Neves, do Instituto de Biociências da UFMT, em Cuiabá, o projeto realiza palestras interativas que abordam a importância dos anfíbios no equilíbrio ecológico. “Com o uso de material visual, como fotos, vídeos e sons, as apresentações tornam-se mais dinâmicas, facilitando o aprendizado dos alunos”, explica o coordenador, que é também do Programa de pós-graduação em Zoologia da UFMT e membro/colaborador do Laboratório de Herpetologia da Universidade, coordenado pela professora Christine Strüssmann.
Até o momento mais de 15 escolas, projetos e eventos já receberam o projeto, entre elas comunidades indígenas e quilombolas, como a Casa Warao (comunidade indígena venezuelana) e a Comunidade da Terra Prometida. “Essa atividade do projeto também tem sido uma ferramenta importante para levar a universidade até as escolas, um ponto destacado por muitos professores”, conta o coordenador.
“Ao final de cada atividade, há uma amostra de animais fixados, possibilitando que os alunos vejam e toquem as espécies, o que contribui para uma aprendizagem mais prática e lúdica. Muitos alunos chegam com receios e crenças errôneas, como a ideia de que os sapos e rãs ´soltam leite´”, complementa o professor, informando que essas informações equivocadas são corrigidas de forma didática, mostrando a verdadeira natureza dos animais e destacando sua importância no controle de pragas, como aranhas e escorpiões.
“O sapo não lava o pé… e também não faz mal”
Ainda nos conteúdos ministrado pelo projeto, ele conta que são abordadas formas de retirar os animais das casas de maneira segura, sem a necessidade de prejudicá-los. “É interessante observar como a percepção dos alunos muda ao longo das palestras. Inicialmente, muitos se mostram receosos e até desconfortáveis com o tema, mas, ao final da atividade, ao interagir com os animais, é evidente a mudança”, explica o professor.
“Eles não causam nenhum dano ao ser humano e não transmitem doenças. Embora possuam veneno na pele, esse veneno não é prejudicial para as pessoas. Caso alguém os manuseie, é recomendável lavar bem as mãos com sabão e evitar levá-las aos olhos, pois isso pode causar uma leve queimação ou dor, mas nada grave ou que possa comprometer a visão”, disse.
Sobre o “eles jogam leite", Matheus Oliveira Neves explica que na verdade, alguns sapos possuem glândulas de veneno localizadas atrás dos olhos. “Essas glândulas acumulam um veneno branco e leitoso que pode ser expelido quando o animal é pressionado ou agredido, por exemplo, ao ser mordido ou atingido por um objeto. No entanto, esse veneno só é liberado mediante estímulo externo; o animal não tem capacidade de expeli-lo voluntariamente”, ressalta.
Sapos e pets: o cuidado necessário é com os bichos de estimação
Nas orientações, o pesquisador traz que o único cuidado que se deve ter é em relação aos animais de estimação, como cães e gatos, que podem tentar capturá-los e, ao morderem ou engolirem o anfíbio, podem sofrer intoxicação. No entanto, para os seres humanos, eles não representam risco.
“Caso seja necessário remover o animal de algum ambiente, é possível pegá-lo com a mão — desde que se lave bem as mãos depois — ou utilizar um pote, colocando o anfíbio dentro com cuidado, fechando com uma tampa por baixo. Em seguida, ele deve ser solto em um local adequado, de preferência com vegetação e próximo a fontes de água, onde poderá permanecer em segurança”, orienta.
No estudo “Amphibians and reptiles of urban area springs in the Cerrado savannah, Brazil”, foram analisadas 220 nascentes entre 2015 e 2020. Os cientistas da UFMT registraram 45 espécies de anuros — grupo de anfíbios que inclui sapos, rãs e pererecas — e 33 espécies de répteis. O levantamento mostrou que essas áreas urbanas concentram 21% dos anuros e 12% dos répteis conhecidos no Cerrado, superando outras cidades já estudadas no bioma. Veja a íntegra do estudo.
Educação básica, Universidade e consciência ambiental
O Projeto Sapo Pantaneiro continua com suas ações e eventos programados para os próximos meses. No dia 17/05, o projeto realizará um evento no Colégio Portal, com uma palestra para pais e alunos. Já em 30/05, o projeto receberá alunos do Ensino Médio de uma escola pública de Barra do Bugres para o Projeto Pré-Enem, com foco no conhecimento das universidades de Mato Grosso.
Escolas e instituições interessadas em participar das atividades podem entrar em contato com o coordenador do projeto, Matheus Oliveira Neves, por meio do Instagram (@projetosapopantaneiro) ou pelo WhatsApp no número (32) 98809-5518. As ações do Projeto Sapo Pantaneiro continuam a crescer, com novos eventos e mais alunos alcançados a cada semestre.
O projeto conta com o apoio de importantes instituições, como a Fundação Rufford, a Fundação Ecotrópica, a UFMT, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).