Governo instala câmara técnica para ampliar uso de dados científicos em comitê de mudança do clima

Governo instala câmara técnica para ampliar uso de dados científicos em comitê de mudança do clima
O Governo Federal instalou, na segunda-feira (26/5), a câmara de assessoramento técnico e científico do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM). O grupo é composto por 30 especialistas e representantes da comunidade acadêmica, sendo 16 titulares e 14 suplentes, e contribuirá com a formulação e execução de políticas climáticas fundamentadas em evidências científicas. A incorporação do colegiado foi proposta pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). O secretário nacional de Mudança do Clima da pasta, Aloisio Melo, explicou que a iniciativa é parte do esforço para consolidar uma estrutura de governança robusta, com diálogo permanente entre governo, sociedade e ciência. “Nossa expectativa é que essa câmara cumpra um papel fundamental para que a gestão da política de clima no Brasil seja, de fato, amparada no melhor conhecimento científico — tanto em adaptação quanto em mitigação, e também nas agendas de justiça climática, transição justa e implementação das ações”, afirmou o secretário, durante a primeira reunião da Câmara, realizada na tarde de ontem. A câmara técnica foi criada em junho de 2024, a partir do decreto que reestruturou o CIM. A partir de então, teve início a composição do grupo, com representantes da comunidade acadêmica, escolhidos por meio de processo seletivo. Os mandatos são de dois anos, com possibilidade de renovação por igual período. A instalação ocorre em um momento decisivo, em que o governo conclui a atualização do Plano Clima, instrumento que orientará as ações brasileiras de adaptação e mitigação nos próximos anos. O plano servirá de base para o cumprimento das metas estabelecidas na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil. A câmara técnica contribuirá com um modelo de avaliação contínua das políticas, incluindo as previstas no Plano Clima, inspirado nas melhores práticas internacionais. “A proposta é que a comunidade científica tenha um olhar crítico sobre a implementação da agenda, oferecendo subsídios sobre prioridades e ajustes de rumo. Um ciclo de monitoramento interno e externo, com revisões preferencialmente anuais e avaliações bianuais”, explicou Melo. Agora, o CIM passa a contar com três câmaras permanentes: a de assessoramento técnico e científico, a de participação social e a de articulação federativa, esta última voltada ao diálogo com estados e municípios. Para o secretário de Mudança do Clima, a nova estrutura representa uma etapa de “redesenho” e de “ampliação” da política climática. “Isso dá uma robustez fundamental para conduzir as ações em clima no país”, destacou. Parceria interministerial A composição da câmara técnica foi articulada em parceria com a Casa Civil e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Na primeira reunião, realizada por videoconferência, representantes das duas pastas expressaram a importância da atuação dos estudiosos e cientistas na elaboração das políticas climáticas. Para o representante do MCTI, Márcio Rojas, o desafio está em alinhar o que a ciência aponta como prioritário com as decisões políticas. “A gente vai precisar conciliar valores epistêmicos com valores não epistêmicos. Mas estou seguro de que com esse time aqui montado, a gente vai conseguir ser bem-sucedido”, afirmou. A integração entre ciência e gestão pública foi também enfatizada pelo representante da Casa Civil, Diogo Santana. Para ele, é preciso criar uma via de mão dupla entre governo e academia. “A ciência tem se esforçado para se fazer ouvir, mas também precisa se apropriar das perguntas que o governo tem, dos problemas que precisam ser resolvidos no curto, médio e longo prazo. Trazer essas questões para dentro da academia pode inclusive reformular o que se oferece como resposta”, avaliou. A expectativa é que, a partir da câmara, o conhecimento científico ganhe um papel ativo e institucionalizado na condução da política climática brasileira. “O contexto atual, com mudanças rápidas na base legal do licenciamento ambiental, mostra o quanto ainda precisamos reafirmar que o conhecimento científico deve ser orientador das políticas públicas”, concluiu Aloisio Melo.