É de se perguntar: o que o Brasil e MT ganham com um “escritório de negócios” em Jerusalém, além da provocação aos árabes?

É de se perguntar: o que o Brasil e MT ganham com um “escritório de negócios” em Jerusalém, além da provocação aos árabes? bolsonarobelicoso
Por Mário Marques de AlmeidaTalvez, a notória “sapiência” do capitão Jair Bolsonaro em matéria de política externa e relações comerciais internacionais consiga explicar no que o Brasil é favorecido, em termos econômicos práticos, com a abertura de um “escritório de negócios” em Jerusalém? Vindo mais perto, o que isso implica, por exemplo, em retorno para Mato Grosso cuja economia é estruturada no segmento agropecuário, grande parte dele voltado às exportações.Este colunista, que assina o texto, também não é nenhum expert na matéria de negócios mundiais, mas tem o mínimo de bom senso para entender que aquela região do Oriente Médio já é suficientemente conturbada, tendo como um dos principais pivôs das beligerâncias ali instaladas, uma cidade histórica (Jerusalém) para os fundamentos das religiões judaica e cristã, e a não ser reminiscências religiosas, as quais respeitamos, pouca coisa ou quase nada tem a oferecer ao Brasil, e vice-versa, em questões comerciais.No entanto, a atitude de Bolsonaro, a de abrir o dito escritório – uma espécie de embrião que culminaria com a transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv, capital de Israel, para Jerusalém -, soa como provocação às dezenas de países árabes que se solidarizam com os palestinos – habitantes históricos da região.Os palestinos reclamam ser deles a cidade. Ocupada por tropas israelenses desde a malfadada “guerra de seis dias” entre Israel e Egito há cerca de quatro décadas.Trata-se, portanto, de uma região marcada por confltos enraizados, passados e subjacentes, com tensão à flor da pele das pessoas que ali vivem, sejam judeus ou árabes, fato que era para se dispensar Jair Bolsonaro – e o Brasil por vias de consequências, por ele ser o presidente da República – de meter o bedelho numa área onde nosso país pouco ou nada tem a ganhar, mas tem muito a perder.  A começar pela reação negativa que já se esboça da parte dos árabes, cujas nações em seu conjunto mais importam que exportam para o Brasil, o que significa superávit financeiro para o nosso país nesse intercâmbio, e já externaram preocupação e incômodo com a intromissão bolsonarista no intricado e complexo palco da disputa entre israelenses e palestinos. Bola fora   Para ser mais concreto, dados de 2017 apontam que o Brasil vendeu para os árabes US$ 13,590 bilhões gerando um saldo positivo na balança comercial brasileira de US$ 6,234 bilhões. Os árabes adquiriram basicamente carnes bovina e de frango, além de açúcar. Descontentes com a politica externa bolsonarista, podem retaliar e se abastecer desses produtos em outros mercados internacionais. Bola fora de Bolsonaro.   Se sobrasse sensatez à atual política diplomática em vigor no Brasil, de se meter onde o nosso país não cabe e nem tem afinidades regionais ou elos econômicos mais fortes, mas fazendo isso apenas para agradar a megalomania de Trump, a nação poderia continuar se relacionando bem – como, aliás, sempre se relacionou – com Israel sem caçar encrencas com o mundo árabe.No tocante à admiração de Bolsonaro por Trump é um direito dele ter o presidente dos EUA como ídolo e modelo a ser seguido, o que precisa ficar claro é que presidentes, daqui, de lá ou de qualquer outro país são passageiros, mas as nações foram feitas para permanecer. E países não devem pautar suas relações por eventuais afinidades e gostos pessoais de mandatários de plantão, mas por interesses que podem convergir, ou não.   Vale salientar que nessas investidas na política internacional, contrariando a tradição pacifista de não-intervenção em assuntos políticos internos de outras nações da diplomacia brasileira, Bolsonaro deixa transparecer um impeto belicoso aparentemente maior do que o já vigente em áreas conflagradas, como é o caso específico do que ocorre no território de Jerusalém e arredores. Política de disseminar ódios e divisões, já basta a que vem sendo fomentada internamente no Brasil!É simples praticar política externa sem viés ideológico ou ranço ultrapassado pela globalização, baseada em resultados para o Brasil e seu povo, o duro é entender como Bolsonaro inventa complicar esses relacionamentos internacionais, colocando o Brasil em desnecessário desconforto com parte expressiva do mundo!É por essas e por outras patacoadas bolsonarianas que exportadores brasileiros, em especial do setor de agronegócio, conforme se lê na Imprensa, ficam de “cabelo em pé” com as incursões “diplomáticas” do presidente que, via regra, adquirem mais o tom de acirramento, a exemplo dos que ele já dirigiu à China, meramente por questões ideológicas (pelo fato que os chineses são “comunistas”), sem atentar que aquele país é o maior parceiro comercial no volume e valor de vendas feitas pelo Brasil – notadamente, e fato que interessa mais de perto a nós mato-grossenses, na aquisição de soja.Mário Marques de Almeida é jornalista em Cuiabá.