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Queimada na Amazônia em junho é a maior dos últimos 13 anos e preocupa até grandes bancos, além do agro
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01/07/2020 - 19:09
Redação
Os dados podem apressar a fuga de capitais externos do país, prejudicar o agronegócio que teme retaliações às exportações de alimentos. As regiões brasileiras que não possuem economia diversificada e se estruturam nas atividades agropecuárias, como é o caso de Mato Grosso, por exemplo, correm risco de serem as mais afetadas pela leniência como os atuais governantes brasileiros vêm tratando a questão ambiental.
A eventual saída de recursos financeiros externos é trágica nesse momento e na pós-pandemia, quando o Brasil necessitará de lastro forte para alicerçar investimentos que ajudem na recuperação econômica.
O Brasil fecha o mês de junho com o maior número de focos de queimadas na Amazônia dos últimos 13 anos. São dados oficiais, do próprio governo federal. Foram registrados 2.248 focos de calor neste último mês, um volume que não era atingido desde 2007 e que representa um aumento de 19,57% em relação ao registrado em junho de 2019, quando 1.880 focos foram detectados.
Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
Logo que tomou posse e entregou o Ministério do Meio Ambiente para o anti-ambientalista Ricardo Salles, o governo federal iniciou uma política de desmonte e fragilização de orgãos de fiscalização do próprio executivo federal, a exemplo do Ibama, que ficou durante muitos meses tolhido em suas ações preservacionistas. Essa atitude de Bolsonaro, por sua vez, representou também a sinalização que o caminho estava aberto para os garimpos ilegais, as invasões e grilagens de reservas indígenas, terras da União e áreas protegidas, ocasionando os desmatamentos e queimadas.
Só recentemente, a luz vermelha de que essa política errática poderia custar caro, não apenas para a imagem do país, interna e externamente, mas também para negócios do Brasil no exterior, é que o presidente Jair Bolsonaro convocou o vice-presidente Hamilton Mourão para coordenar uma frente de combate à devastação amazônica. Pode ser tarde!
Pois os números alarmantes colocam em xeque as medidas que o governo, com Mourão à frente, passou adotar para evitar que se repita o cenário catastrófico ocorrido no ano passado. O que tem ocorrido, porém, é uma devastação ainda pior.
O controle do desmatamento saiu do Ministério do Meio Ambiente e migrou para o chamado Conselho Nacional da Amazônia, liderado pelo vice-presidente da República.
Numa tentativa de dar uma resposta à situação, o governo iniciou, em 11 de maio, a operação militar "Verde Brasil 2". Os resultados da operação, porém, como revelou o jornal O Estado de S. Paulo, estão inflados, embutindo em seu balanço operações de combate ao desmatamento que não tiveram nenhuma ligação com o apoio militar.
O decreto 10.341/2020, que autorizou o emprego das Forças Armadas na Garantia da Lei e da Ordem (GLO), criando a operação Verde Brasil, tem custo mensal de R$ 60 milhões, o equivalente a quase 80% do orçamento anual de fiscalização do Ibama, mas a resposta aos altos índices de desmatamento não chegou.
"As queimadas contribuem simultaneamente para as crises globais do clima, da biodiversidade e com a catástrofe sanitária na região. O Brasil precisará fazer mais, muito mais, se quiser detê-las, fortalecendo os órgãos de controle, com planos permanentes e metas claras, e não de operações pontuais e custosas", diz Rômulo Batista, do Greenpeace.
Na avaliação do especialista, os próximos três meses poderão ser catastróficos ao País. "É difícil nutrir esperança de que a catástrofe ambiental que vimos no ano passado, marcada por uma série de queimadas criminosas, seja menor em 2020.
Afinal, a contenção do colapso está nas mãos de um governo que joga contra o meio ambiente e vem se mostrando incapaz de combater a destruição do maior patrimônio de todos os brasileiros, a Amazônia", afirma Rômulo.
Na semana passada, um grupo formado por quase 30 instituições financeiras em todo o mundo divulgou uma carta na qual exige que o governo brasileiro freie o crescente desmatamento no País. A informação foi noticiada pelo jornal britânico Financial Times.
Para o grupo, a continuidade da prática criou "uma incerteza generalizada sobre as condições para investir ou fornecer serviços financeiros ao Brasil". "É provável que os títulos soberanos brasileiros sejam considerados de alto risco se o desmatamento continuar", escreveu o grupo, conforme reproduziu o jornal.
O assunto foi comentado pelos presidentes dos bancos Bradesco e Itaú. A questão ambiental é, na opinião do presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, o principal "perigo" que ameaça o Brasil. "No momento em que a sociedade se percebe frágil, a gente deve olhar para outros perigos. As consequências ambientais podem até vir de uma maneira mais lenta do que as da saúde como a covid-19, mas são mais duradouras e difíceis de reverter", declarou.
O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, destacou que "todo mundo falava de sustentabilidade, de problema com o Planeta, de aquecimento global, reflorestamento, derrubada, de qualidade do ar, da água, todo mundo falava sobre isso, mas de fato nós temos de reconhecer que fizemos muito pouco em relação a isso"
Com informações da Agência Estado