FUMACEIRO TÓXICO: Queimadas no Pantanal e na Amazônia provocam surto de tosses e bronquites, dificultam a respiração e podem aumentar casos de câncer na população
FUMACEIRO TÓXICO: Queimadas no Pantanal e na Amazônia provocam surto de tosses e bronquites, dificultam a respiração e podem aumentar casos de câncer na população
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30/08/2020 - 05:44
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Redação
Os frequentes incêndios na região do Pantanal, cuja área abrange Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e partes do território boliviano e paraguaio, onde se denomina “Chaco”, além das queimadas na Amazônia, a exemplo do que está ocorrendo agora, pioram a qualidade do ar que se respira e, como consequência disso aumentam problemas respiratórios nas pessoas.
As populações que vivem nesses biomas ou nos seus entornos, como é o caso dos mato-grossenses, sabem perfeitamente o que isso significa com o agravamento das incidências de crises de tosses e bronquites, trazidas pelo clima abafado – efeito das fumaças e material tóxico carregado pelos ventos que entopem as narinas das pessoas.
Quem habita por estas bandas pantaneiras e amazônicas é obrigado a conviver com esse problema ambiental e suas consequências negativas na saúde, sem falar nos danos imensos à flora e fauna desses biomas.
Corroborando com essa situação, um estudo divulgado nesta semana mostrou que cerca de 2.195 pessoas foram hospitalizadas apenas no tocante a Amazônia por problemas respiratórios causados pela inalação de ar poluído pela fumaça das queimadas que atingem a região.
O levantamento é uma parceria entre o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Instituto de Estudos de Políticas de Saúde (IEPS) e a Human Rights Watch (HRW).
Entre as pessoas afetadas, há 467 bebês e 1.080 idosos com mais de 60 anos, que correspondem a 70% das hospitalizações, informou o relatório.
O estudo feito pelo grupo vem sendo elogiado por especialista. Um deles é o médico Alexandre Milagres, renomado pneumologista, que disse que as queimadas têm trazido efeitos negativos para a saúde da população da região.
"É inegável que essas queimadas na Amazônia têm contribuído muito para o adoecimento da população, principalmente daquela área. Também tem gerado um número imenso de internações de pessoas adultas, idosas e crianças, com efeito até na saúde neonatal", afirmou.
Alexandre Milagres explicou que os incêndios na floresta amazônica provocam doenças especialmente no aparelho respiratório e no aparelho cárdio-cerebrovascular.
"Quando a gente analisa com detalhe as doenças provocadas pela inalação das fumaças produzidas pelas queimadas a gente vê um aumento muito grande das alterações que a gente chama de inflamatórias. Nós temos desde onde o ar passa, pelo nariz, caso de rinite, caso de faringite, laringite, de bronquite. Essas bronquites podem ser bronquites agudas ou podem mesmo levar a bronquites crônicas. A gente nota também uma descompensação dos casos de asma ou de enfisema", explicou.
O médico pneumologista chamou atenção para o fato que muitas substâncias ao serem expostas aos raios ultravioleta se tornam mais tóxicas ao organismo.
"Muitas substâncias são aditivadas, por assim dizer, pelos raios ultravioleta e se transformam muitas vezes em substâncias mais tóxicas e mais inflamatórias do que as próprias substâncias inaladas naturalmente", destacou.
A exposição desses elementos aos raios ultravioleta pode inclusive causar câncer de pulmão nas pessoas que são afetadas, segundo Alexandre Milagres.
"A gente vê um número muito aumentado de diagnóstico de câncer de pulmão em pacientes expostos a esse tipo de fumaça, de fuligem de cinza. Já está sendo detectada a alteração no DNA das células, as células estão afetadas tão profundamente que seu DNA está sendo transformado o que a longo prazo pode gerar uma quantidade inestimável de casos de câncer de pulmão e de outros sítios", disse.
Dados do governo federal mostram que o número de incêndios na Amazônia brasileira aumentaram 28% frente a julho de 2019, chegando a 6.803 focos.