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CADÊ O CÉU? Enquanto o Pantanal tem as maiores queimadas nos últimos 23 anos e o fogo aumenta na Amazônia, Cuiabá tem os dias mais quentes em 109 anos
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02/10/2020 - 10:21
Redação
Uma cena recorrente na cidade, nos ultimos dias, é o céu cotidianamente carregado por núvens poluidoras de funaça proveniente de queimadas no entorno de Cuiabá
A Capital mato-grossense vem constatando aumentos insuportáveis na sua temperatura, que chegou a registrar na tarde de ontem 44 graus na sombra, com sensação térmica acima desse patamar – a maior elevação verificada nos últimos 109 anos.
A cidade enfrenta um forte mormaço, com o céu carregado do amanhecer ao anoitecer por nuvens escuras de fumaça, cujo clima dificulta a respiração das pessoas, aumentando o índice de problemas pulmonares, de garganta, tosses, gripes e outros tipos de mal-estar que apavora a população local, a maioria já adaptada ao meio ambiente cuiabano, normalmente bastante calorento, mas não na intensidade que se verifica nos dias de hoje.
Enquanto isso, segundo dados científicos, o Pantanal registra atualmente as maiores queimadas já constatadas nos últimos 23 anos. Por se tratar de um ecossistema que se encontra próximo de Cuiabá – a maior aglomeração urbana localizada ao Norte desse bioma e que recebe os impactos negativos dessa destruição da flora e da fauna pantaneira de uma maneira assustadora.
Para piorar essa situação, a Amazônia contabiliza os maiores índices de focos de incêndio desta década. Em setembro, os satélites registraram 32.017 focos de incêndio na maior floresta tropical do mundo.As queimadas na Amazônia aumentaram 13% nos primeiros nove meses do ano na comparação com o mesmo período de 2019, e a floresta vive o pior período de incêndios em uma década, mostraram dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) nessa quinta-feira.
Em setembro, os satélites registraram 32.017 focos de incêndio na maior floresta tropical do mundo, um aumento de 61% em relação ao mesmo mês de 2019.
Em agosto do ano passado os crescentes incêndios na Amazônia ganharam as manchetes no mundo todo e provocaram críticas de líderes mundiais, como o presidente da França, Emmanuel Macron, de que o Brasil não estaria fazendo o suficiente para proteger a floresta tropical.
Na terça, o candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, propôs um esforço mundial para fornecer 20 bilhões de dólares para parar com o desmatamento da Amazônia e, sem especificar, ameaçou o Brasil com “consequências econômicas significativas” se o país não parar a devastação da floresta.
O presidente Jair Bolsonaro foi duro na resposta a Biden e classificou a declaração dele como “desastrosa e gratuita”, afirmando ainda que o democrata fez “infundadas ameaças”.
Os dados do Inpe mostram que, em 2019, os incêndios tiveram um pico em agosto e caíram consideravelmente um mês depois, mas neste ano o pico tem se mantido. Tanto em agosto quanto em setembro deste ano o pico dos mesmos meses do ano passado foi igualado ou superado.
“A gente teve dois meses de muito fogo. Pior do que o ano passado já está. Pode piorar ainda mais, se a seca continuar. A gente está à mercê das chuvas”, disse Ane Alencar, diretora científica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
A Amazônia enfrenta uma temporada de seca mais severa do que no ano passado, o que os cientistas atribuem ao aquecimento do Atlântico Norte tropical.
Em toda a Amazônia, que se espalha por nove países, há atualmente 28.892 focos de incêndio, de acordo com uma ferramenta de monitoramento financiada em parte pela Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos.
Os incêndios em setembro não queimaram apenas áreas recentemente desmatadas e áreas agrícolas, onde produtores iniciam o fogo para limpar a terra, mas atingem cada vez mais a mata virgem, uma tendência preocupante que sugere que a floresta está cada vez mais seca e mais propensa ao fogo.
Cerca de 62% dos maiores incêndios na Amazônia aconteceram em florestas em setembro, contra somente 15% em agosto, de acordo com análises de imagens de satélite da entidade sem fins lucrativos sediada nos EUA Amazon Conservation.
O aquecimento do Atlântico Norte também está influenciando a seca no Pantanal, que segundo dados do Inpe registrou o maior numero de focos de incêndios desde o início dos registros em 1998.
“O Brasil está em chamas”, disse Cristiane Mazzetti, do Greenpeace Brasil, em comunicado.