- Home Page
- Saúde & Pets
- ESTUDO E PESQUISA: Apesar do presidente recuar na compra de vacina contra a Covid-19, Brasil é o segundo país cuja população (mais de 85%) aceita ser imunizada
ESTUDO E PESQUISA: Apesar do presidente recuar na compra de vacina contra a Covid-19, Brasil é o segundo país cuja população (mais de 85%) aceita ser imunizada
|
22/10/2020 - 04:45
Redação
Estudo publicado na revista Nature (a maior publicação científica do planeta) revela que 85,3% dos brasileiros estão dispostos a se vacinar contra a covid-19 se "um imunizante comprovadamente seguro e eficaz estiver disponível". O porcentual brasileiro de aceitação é o segundo mais alto do mundo. Fica atrás apenas do da China, onde chega a 88,6%. A informação foi divulgada um dia após o presidente Jair Bolsonaro afirmar que uma futura vacina contra a doença não será obrigatória no País. Nesta quarta, 21, o mandatário também descartou comprar o imunizante chinês. Contestou o que adiantara, na véspera, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Nesse contexto, vale salientar que Bolsonaro, no entanto, até recentemente, mesmo sem nenhuma comprovação científica e na contramão dos profissionais da saúde, chegou a ser comparado a "garoto-propaganda da cloroquina - um remédio contra a malária -, preconizando o uso do antimalárico para combater a Covid-19. Fato que levou a faltar o medicamento em muitas farmácias do país.
O levantamento divulgado na Nature envolveu especialistas dos Estados Unidos e da Europa. Eles analisaram as respostas de 13,4 mil pessoas nos 19 países mais atingidos pela pandemia. O objetivo era descobrir qual seria a potencial hesitação global diante de uma vacina. Os números gerais mostram que 72% dos entrevistados aceitariam o imunizante. Os demais 28% o recusariam ou hesitariam em tomá-lo.
Para os especialistas envolvidos, esse porcentual de hesitação é alto diante de uma emergência global de saúde do porte da covid-19. Sobretudo se o percentual de proteção oferecido pela vacina for baixo.
Hoje, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem mais de cem potenciais vacinas contra a covid-19 em desenvolvimento em todo o mundo. Muitas estão em fase final de testes em seres humanos e são pré-negociadas com vários países, inclusive o Brasil. Diante de uma segunda onda da infecção já assolando a Europa, um imunizante eficaz é considerado a maior esperança no combate ao novo coronavírus. Mas ele precisa ser aceito pela população.
"Será uma tragédia se conseguirmos desenvolver uma vacina segura e eficiente, e as pessoas se recusarem a tomá-la. Precisamos desenvolver um esforço robusto e sustentado para lidar com essa hesitação em relação à vacina e restaurar ar confiança do público no benefício das imunizações para as famílias e as comunidades", alertou Scott C. Ratzan, co-autor do estudo, da Escola de Saúde Pública e Políticas Públicas da Universidade de Nova York (EUA). "Nossas descobertas são consistentes com pesquisas recentes nos Estados Unidos, que mostram uma redução da confiança do público em uma vacina contra a covid-19."
O porcentual mais baixo de resposta positiva para a vacina foi detectado na Rússia: 55%. Nos Estados Unidos, 76% dos entrevistados afirmaram que tomariam o imunizante."Esse porcentual do Brasil não é uma surpresa. Vários outros estudos já mostraram a mesma coisa", afirmou a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai. "O brasileiro confia em vacina, entende que a vacinação é importante."
Segundo Isabella, dados recentes de baixa cobertura vacinal no País teriam outras explicações. "Só a confiança no imunizante não faz a pessoa se vacinar. Ela precisa ser informada, ter acesso, ser lembrada. Esses são os fatores principais quando falamos em baixa cobertura na América Latina", explicou a especialista. "Agora, se continuarmos com essa guerra política, essa desinformação, a vacina de um país contra a vacina de outro país, isso tudo que está acontecendo, leva à desconfiança sobre a vacina. É fundamental que a população tenha confiança nas autoridades públicas, elas não podem estar brigando."
Um dos coordenadores do estudo, Ayman El-Mohandes, da Escola de Saúde Pública e Políticas de Saúde da Universidade de Nova York, defendeu a necessidade de "aumentar a confiança na vacina". Ele também afirmou ser necessário expandir a "compreensão das pessoas sobre o quanto um imunizante pode controlar a disseminação da covid-19 em suas famílias e suas comunidades".
Na atual pandemia, o ideal seria que os países conseguissem obter a mais alta cobertura vacinal possível contra a covid-19. Como nenhuma vacina foi aprovada, não se sabe ao certo qual será a eficácia do imunizante; ou seja, ele pode proteger um porcentual pequeno de pessoas. Já há candidatas a vacina na fase final de testes, como os da parceria entre o laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantã, de São Paulo, e o do projeto da farmacêutica AstraZeneca com a Universidade de Oxford, do Reino Unido.
RESUMO POLÍTICO DA QUESTÃO
O presidente da República Jair Bolsonaro conseguiu reunir contra si gente das mais variadas ideologias políticas ao desautorizar publicamente seu ministro da Saúde, na tarde desta quarta (21), declarando que não vai comprar a vacina produzida em parceria do Instituto Butantan - uma instituição centenária e reconhecida pela seriedade de seus trabalhos científicos na área de saúde e medicina -, do Governo de São Paulo, com cientistas chineses, o que o mandatário da nação batizou de "vacina da China". Por conta de desavenças com o ex-amigo João Doria, Bolsonaro politizou a saúde pública - mais de 150 mil mortes no País, milhões mundo afora.