- Home Page
- Meio Ambiente
- SAUDADES DAS ONDAS: Entre os muitos crimes ambientais verificados em MT, desaparecimento da Baía de Chacororé é o que mais choca a opinião pública
SAUDADES DAS ONDAS: Entre os muitos crimes ambientais verificados em MT, desaparecimento da Baía de Chacororé é o que mais choca a opinião pública
|
03/02/2021 - 21:01
No local onde existem apenas poças barrentas, até pouco tempo havia águas que faziam ondas e, nas cheias, ocupavam até mais de 45 mil hectares da planície pantaneira, que agora chora a morte de Chacororé. Quando em vida, alegre "ponto de encontro" de aves e peixes, e tantos outros animais que se refestelavam em suas águas outrora abundantes.
Redação
Entre os muitos crimes ambientais já cometidos contra a fauna e a flora mato-grossenses, um que mais vem chocando a opinião pública é a extinção, o desaparecimento da Baia de Chacoreré – espécie de cartão postal do chamado Pantanal Norte.
A morte do grande lago pantaneiro deixou o local antes ocupado por águas, que faziam ondas, restrito a pequenas poças barrentas. Essa sanha destruidora, que detonou com a imensa baía, causou cicatrizes na maior planície inundável do planeta e uma tristeza profunda na alma de tantos quantos a conheceram antes dessa tragédia, aliás, anunciada, tendo em vista o processo acelerado de agressão aos recursos naturais que aumentaram de intensidades nos dois últimos anos.
No meio desse cenário caótico, há que se destacar iniciativa do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra), que iniciou nesta quarta-feira (3) as obras de engenharia e intervenções necessárias para a recuperação da Baía de Chacororé, em Barão de Melgaço (113 km ao Sul de Cuiabá).
Trata-se de um processo de recuperação difícil, mas que vale a pena ser tentado!
A ação faz parte de uma força-tarefa do Governo de Mato Grosso para a proteção ambiental e garantia da planície inundada, e é acompanhada por técnicos da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema).
Os serviços iniciados fazem parte de um relatório técnico já apresentado ao Ministério Público do Estado (MPE) e é resultado de uma vistoria realizada por engenheiros da Sinfra, com o apoio da gerenciadora RTA Ambiental, profissionais da Sema e da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa.
Serão realizadas obras ao longo da rodovia municipal conhecida como Estirão Comprido, onde estão os principais corixos que levam água para as Baías de Chacororé e Siá-Mariana.
O objetivo é recuperar as condições ambientais e sanar as possíveis causas da diminuição do nível do volume de água na baía.
Ao todo, serão 13 pontos que receberão as intervenções da Sinfra, além da rodovia MT-040.
Eles estão localizados entre o Rio Cuiabá e a Baía de Chacororé e à Nordeste da baía, regiões que têm influência na alteração da dinâmica hídrica superficial e subsuperficial e, consequentemente, na diminuição volumétrica das águas de Chacororé.
De acordo com o secretário de Estado de Infraestrutura e Logística, Marcelo de Oliveira, serão executadas obras de retirada das estruturas de aterros e de matérias orgânicas que impedem as drenagens de curso d’água superficiais, além da desobstrução de bueiros para melhorar a transposição da água do rio, fazendo com que o sistema se torne mais eficiente.
Também serão removidos os desvios que foram feitos na rodovia municipal quando da instalação de pontes de madeira pela prefeitura e que não foram removidos com o término das obras das pontes. Além disso, será feita a limpeza dos bueiros e estruturas de drenagem presentes na MT-040 para melhorar o fluxo de água.
“Durante a vistoria, a Sinfra identificou que os canais e corixos não tem grande quantidade de água agora. Mas quando voltar a chover e ter água isso vai ajudar a aumentar o fluxo para chegar na Baía de Chacororé. São ações emergenciais que estamos realizando agora”, disse o secretário.
A superintendente Ambiental de Obras da Sinfra, Nadja Felfili, esclareceu que todo o material do aterro retirado dos desvios serão utilizados na reparação do encabeçamento das pontes, a fim de melhorar as estruturas e otimizar o serviço. A previsão é de que os serviços sejam finalizados ainda no mês de fevereiro.
MONITORAMENTO - O nível e a qualidade da água da Baía de Chacororé são monitorados pela Sema desde 1999.
De acordo com o analista de meio ambiente, Rafael Teodoro de Melo, a época foi construída uma barragem submersível no corixo do Mato para manter o nível da água da baía de Chacororé, o mesmo tipo de estrutura foi feita no corixo Tarumã para assegurar o nível de Siá Mariana.
O corixo do Mato liga as duas baías, já o Tarumã conecta Siá Mariana ao rio Cuiabá.
A contenção feita com pedras e terra tem cerca de 2,5 metros de altura e além de controlar o fluxo, melhora a qualidade da água.
“O que vimos desde 1999 com a construção da barragem foi uma melhora significativa na qualidade da água das baías, melhorando o ambiente para a vida dos peixes”, relembra o engenheiro sanitarista.
Em 2010, a barragem do corixo do Mato foi destruída por ação humana e precisou ser refeita. Já em 2020, novas avarias foram encontradas e a própria comunidade recompôs a barreira.
Os corixos são corpos hídricos que levam água, nutrientes e ovas e peixes nos dois sentidos: na enchente leva água dos rios para a baía e na vazante a água e os peixes são levados de volta para o rio. Já um rio corre apenas em um sentido a partir de sua nascente.
A Baía de Chacororé é abastecida a montante, parte alta, pelos rios Cupim e Água Branca que descem da região da Serra de São Vicente, já a parte baixa da baía é abastecida pelos corixos que ligam o banhado ao rio Cuiabá e pelo rio Chacororé.
Na cheia, o complexo de baías de Chacororé chega a 45 mil hectares de lâmina de água, a partir da união com Siá Mariana e Lago de Mimoso.
Já na época da estiagem, a Baía Chacororé ocupa uma área de 11 mil hectares.