Opinião Quarta-feira, 26 de Outubro de 2022, 10:06 - A | A

Quarta-feira, 26 de Outubro de 2022, 10h:06 - A | A

TIRO PELA CULATRA: Caso de Roberto Jefferson continua fazendo estragos no bolsonarismo e é fator de divisão interna no grupo de extrema-direita

Inicialmente visto como um epísódio que poderia  render dividendos políticos e eleitorais para a candidatura de Jair Bolsonaro, a ordem de prisão decretada pelo Ministro Alexandre Morais contra o ex-deputado federal Roberto Jefferson, no último final de semana, teve efeito contrário e se revelou um tiro na cabeça do bolsonarismo. Os desgastes, como é óbvio, decorrem do fato que os 4 agentes da Polícia Federal designados para a missão se dirigiram para cumprir o mandado de prisão de forma discreta, sem grande aparato, e alguns até desarmados, e foram recebidos a bala de fuzil de grosso calibre e por granadas atiradas por Jefferson - uma das principais estrelas políticas da linha mais extremada de apoio a Jair Bolsonaro e visto como fiel seguidor do presidente.

Como era de esperar,  o caso continua repercutindo negativamente nas hostes bolsonaristas e é um dos fatores que chega a dividir o grupo entre defensores da atitude tresloucada do ex-deputado, porém vista pelos mais radicais como um ato de coragem e enfrentamento ao ministro do STF, e aqueles que agora execram Jefferson (antes elogiado), chamando-o de "bandido".

Análise Política
Por Mário Marques de Almeida

De herói a bandido, eis a trajetória de Roberto Jefferson em apenas um dia. Veja como essa mudança ocorreu, na velocidade igual a de como se movimentam as redes sociais.

Operando em grupos espalhados pela internet, os seguidores mais fanáticos de Jair Bolsonaro já se acostumaram a voz de comando de seus líderes (em especial do capitão deles), basicamente feitas no sentido de agredir o sistema eleitoral brasileiro, particularmente a segurança das urnas eletrônicas que acusam sem prova de serem sujeitas a fraudes, e também de ataques ao STF, principalmente a um dos braços do Supremo, o TSE – Tribunal Superior Eleitoral.

Nessa narrativa já bastante martelada nesses últimos dois anos, bolsonaristas se arregimentam com facilidade. Exceto com o fato que teve seu ápice, no domingo (23), com as repercussões da resistência armada do ex-deputado federal Roberto Jefferson, que usou seu arsenal de grosso calibre e farta munição, incluindo granadas, para se negar a acatar um mandado de prisão que estava sendo cumprido por uma equipe da Polícia Federal, na residência de Jefferson, no interior do Rio de Janeiro.

Como já é do conhecimento público, esse episódio culminou com dois agentes da PF feridos por tiros, fato que gerou confusão e dividiu a opinião entre bolsonaristas locais e do país inteiro, ou seja, entre apoiar o ex deputado federal belicoso pela “coragem” de estar deixando de obedecer a um mandado expedido pelo ministro Alexandre de Moraes – escolhido como principal alvo do bolsonarismo -, ou execrar Roberto Jefferson?

Eis a questão: qual o tratamento os seguidores da extrema-direita dariam (e ainda darão) a Jefferson? O de “bandido”, conforme postou o presidente Jair Bolsonaro, que agora quer distância de seu, até poucos dias aliado fiel, ou de herói pelo fato do ex-deputado federal seguir ao pé da letra, talvez pecando por “excesso de zelo”, a política odienta que o atual governo implantou no país, de armamentismo exacerbado dos que tem dinheiro para adquirir armas, dividindo a nação, entre eles, os que se consideram “homens e mulheres de bem”, e os que não comungam com suas ideias, tachados de “comunistas” e antipatriotas.

Não pensem que essa confusão acabou entre os bolsonaristas, pois, tanto em Mato Grosso, a exemplo do restante do País, muitos deles estão inconformados com o tratamento que o presidente dispensou a Roberto Jefferson - o de criminoso.

Independente se o adjetivo pejorativo (bandido) é apenas uma válvula de escape momentânea para se safar de “acidente de percurso” (a ser consertado depois da eleição, na hipótese de vitória, é claro) inoportuno – a reação armada -, na reta final da campanha, e quando Bolsonaro precisa captar votos preciosos fora de sua bolha fanatizada. 

De acordo com algumas postagens, não faltam apoiadores radicais do ‘mito’ que equiparam essa posição semelhante a de quem abandona um companheiro ferido no campo de batalha – um questionamento que não favorece Bolsonaro, em nenhuma hipótese. Se não tira votos dele, ao menos impede que os chamados “indecisos” – contingente que deve definir quem vencerá a eleição daqui a 4 dias - embarquem de cabeça nessa canoa, que pode estar mais furada que a viatura da PF, após receber a saraivada de tiros despejados pelo fuzil de Roberto Jefferson.

Nessa visão distorcida, “criminosos” para esses grupos, é a maioria do povo brasileiro que se recusa a apoiar Bolsonaro.

Mário Marques de Almeida é jornalista em Cuiabá

 

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