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Bolsonaro se comporta como pregador, mas o Brasil não precisa de guru ou “Salvador da Pátria” – e sim de gestão eficiente e com resultados
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29/05/2022 - 23:43
brasÃlia
Editorial
Por Mário Marques de Almeida
Frequentemente, se esquivando de falar sobre temas concretos, que afetam o dia a dia dos brasileiros, mesmo quando é provocado a tratar do assunto, Bolsonaro desvia o foco de temas para os quais não tem resposta ou capacidade para discutir.
Quais sejam, a inflação, a fome que avança sobre milhões de famílias, o desemprego, os combustíveis entre os mais caros do planeta. Além de mazelas em políticas ambientais, cujos órgãos de fiscalização e controle foram desmontados na gestão bolsonarista, acrescida de uma política de relacionamento internacional sem rumo, equivocada e personalista – sem atentar para os interesses macros brasileiros - e que levou ao descrédito a imagem do Brasil no contexto das principais nações ricas e desenvolvidas do mundo, remetendo o país ao nível de pequenos reinos ou “paisecos” sob regime extremistas.
Um governo minimamente eficiente jamais se atrelaria a “rabeira” de grandes potências, independente de viés ideológico ou do poderio das mesmas, mas iria buscar se firmar nesse universo de países desenvolvidos, conceituado de Primeiro Mundo, como já aconteceu em passado recente com o Brasil, época em que ganhou respeito e relevância internacional. Cujo ápice dessa conquista deu-se nas duas gestões do presidente Lula e, em menor escala, com Dilma.
Se tivesse seguido esse compasso pragmático de priorizar acima de ranços os interesses nacionais, o Brasil ainda poderia se dar ao luxo de manter boas relações, liderança e até influência junto àquelas nações que ainda estão atreladas ao atraso científico, econômico, cultural e financeiro. E no papel de liderança, poderia apontar caminhos e ajudar esses povos a diminuirem o gigantesco fosso de desigualdades que os separam dos mais ricos e desenvolvidos. O Brasil pode ter perdido esse protagonismo, que o tornaria mais respeitado e ouvido junto às grandes nações, mas, com Bolsonaro acabou indo para o fim da fila...
Debater questões geopoliticas, de retomada da importância internacional que o Brasil havia obtido, deve estar no cerne das grandes discussões a serem travadas nesse pleito que se aproxima.
Para evitar a abordagem dessas questões de macropolíticas, complexas, é verdade, mas que afetam a vida de contingentes cada vez mais expressivos da população, o presidente da República foge do debate desses temas como o “diabo foge da cruz”. E busca se refugiar numa religiosidade, prá lá de suspeita de estar sendo manipulada com motivos eleitorais ou eleitoreiros – o que reforça a crença, cada vez maior, de amplos setores da sociedade brasileira que desconfiam da sua capacidade para gerir os rumos do Brasil à luz da racionalidade, principalmente na seara econômica, que, ao contrário do que segmentos neoliberais pregam, não funciona por conta própria, sem estímulos ou direcionamentos governamentais. Se assim fosse, não se precisaria de governantes; bastava deixar tudo por conta do “mercado”...
Nesse aspecto, por sinal, desde que assumiu como presidente, Bolsonaro não tapeou ninguém e foi sincero quando disse que “não entendia nada de economia”.
Quase quatro anos passados, ele provou que desconhece mesmo de assunto tão relevante para quem pretende governar e traçar metas e diretrizes para uma nação de dimensões continentais como o Brasil. O absurdo fica por conta do "apagão" político e intelectual que abriu espaços para ele chegar, de então parlamentar do baixíssimo clero do Congresso Nacional, defensor de pautas retrógadas e que a maioria, inclusive da própria direita, não levava a sério e viam nele apenas um político folclórico, como muitos de seus atuais seguidores. Esse descuido cívico, não tê-lo levado a sério, deu no que deu! E o Brasil paga, principalmente os setores sociais mais vulneráveis. um preço alto por esse "cochilo" institucional e político.
E o pior da tragédia que se abate sobre o Brasil que vai precisar ser reconstruído, inclusive no sentido de apagar o ranço do ódio e do armamentismo estúpido a que foi submetido por Bolsonaro e suas ameaças e reiteradas insinuações à ruptura da ordem democrática, é que se perderam 4 anos para se confirmar que ele não entende mesmo de economia e gestão – mas sabe dissimular essa deficiência com discursos que vão de “sermões” pseudamente religiosos, com tonalidades "apocalípticas", ao fomento de campanhas de descrédito de uma das maiores conquistas da jovem democracia brasileira – justamente, a segurança e eficiência do sistema eleitoral em vigor. Nesse afã de tentar desmoralizar a lisura das eleições, ele se esmera no negacionismo e deixa de reconhecer que as urnas eletrônicas são invioláveis e não existe uma prova sequer, nenhum indício de que tenham sido burladas para favorecer essa ou aquela candidatura!
Assim, estribada em fake News e em táticas negacionistas, a vertente obscurantista atualmente no poder, tenta, quase um século depois de Goebbels, reeditar a falácia de que “mentiras repetidas milhares de vezes”, adquirem foros de verdade.
No entanto, a história nos mostra que o bem sempre vence o mal e mentiras jamais se transformam em verdades, ainda que replicadas milhões de vezes por robôs – humanos ou midiáticos.
E quem vai mostrar essa assertiva é o povo brasileiro, daqui a menos de seis meses.
É aguardar, conferir o resultado e constatarmos, aliviados, que Deus é mesmo brasileiro! E depois da tempestade, costuma vir a bonança!
Mário Marques é diretor do site e jornal Página Única.