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NÃO É MAIS UNANIMIDADE: Caminhoneiros de MT, que antes estavam "fechados" com Bolsonaro já se dividem nas eleições presidenciais deste ano
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10/07/2022 - 09:50
Carretas
Foto: Ilustração, arquivo internet
Por Mário Marques de Almeida
A divisão entre caminhoneiros nas eleições deste ano é um movimento nacional que já replica em Mato Grosso, unidade federativa considerada a mais bolsonarista do País. Na semana passada, em um ponto que costuma concentrar motoristas de carretas, localizado no distrito industrial "velho" - o pirncipal de Rondonópolis (210 Km o Sul de Cuiabá) - ,um grupo formado por 17 pessoas identificadas como condutores de véiculos de cargas batiam papo, quando a reportagem do Página Única se aproximou deles.
O local é uma área aberta, próxima a grandes garagens de carretas, indústrias ligadas ao setor do agro, algumas oficinas e onde reúne corretores de frete, vendedores ambulantes de lanches e outros produtos, desde cintos a lanternas, além de desempregados à procura de "bicos". Os assuntos, conforme o repórter pode ouvir, variavam entre futebol e os aumentos do custo, não só dos combustíveis, como de peças, pneus e outros itens obrigatórios de uso frequente na manutenção dos caminhões.
Após se entrosar no meio, o jornalista propôs uma rapiida enquete: 9 motoristas aceitaram, quatro deles disseram que ainda votariam em Bolsonaro, apesar do presidente estar "pisando na bola" com a categoria; outros 3 disseram qie iriam votar em Lula e os outros dois afirmaram estar "indecisos". Todos eles afirmaram que iriam tentar pégar os mil reais de auxílio provisório ("é um direito nosso, uma 'merreca", mas é nosso dinheiro que volta numa quantia mixuruca"). mas isso não compraria o voto deles.
Detalhe: todos os 9 condutores garantiram que na eleição de 2018 votaram em Bolsonaro.
Essa pequena amostragem, feita de forma aleatória em Rondónópolis, que concentra um dos maiores contingentes de condutores de cargas do país em cidades do seu porte, talvez replique o que ocorre no restante do país, no quesito polarização eleitoral,
CENÁRIO NACIONAL- Alinhada a Jair Bolsonaro na eleição de 2018, uma parte dos representantes dos caminhoneiros abriu diálogo com adversários do atual presidente na disputa deste ano pelo Palácio do Planalto. Porta-vozes dos trabalhadores que há quatro anos pararam o País durante uma greve têm agora conversado com articuladores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e André Janones (Avante).
A categoria, que ganhou protagonismo eleitoral, se estrutura de forma difusa e usa o WhatsApp como instrumento de mobilização. Dessa forma, possui lideranças pulverizadas e com representações regionais.
A relação do presidente com os caminhoneiros se deteriorou após sucessivos aumentos do diesel. Alguns líderes chegaram a acusar Bolsonaro de traição. Há queixas em relação à política de preços da Petrobras, que hoje segue a cotação internacional do petróleo, e cobranças por fiscalização pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) da tabela do frete, instituída na gestão Michel Temer (MDB) para pôr fim ao movimento de 2018.
O governo tenta aplacar a insatisfação com uma "bolsa-caminhoneiro" de R$ 1 mil. Para a próxima terça-feira, 12, está prevista a votação na Câmara da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que eleva gastos com benefícios às vésperas do pleito. O auxílio de R$ 1 mil, porém, já foi chamado de "esmola" por representante dos caminhoneiros.
Em meio ao desgaste de Bolsonaro, líderes da categoria promoveram encontros com outros pré-candidatos. Na semana passada, se reuniram com Ciro. Em nota, o representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), Carlos Alberto Litti Dahmer, classificou o encontro como "produtivo".
"Ciro se comprometeu com 100% das nossas pautas e nos passou a certeza de que nossas demandas estarão incluídas no plano de governo", afirmou Dahmer. Também em nota, o pré-candidato disse que há um "encarecimento criminoso do combustível" e afirmou ter "uma proposta detalhada de como recuperar a Petrobras para os brasileiros e mudar sua política de preços".
Articulação
Pré-candidata do MDB, em coligação com o Cidadania e o PSDB, Simone Tebet também tem conversado com parte dos líderes da categoria. Ela se reuniu com o deputado Nereu Crispim (PSD-RS), presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas, para tratar de pautas e agendará um novo encontro para aprofundar as discussões.A senadora, no entanto, já se posicionou contra a ideia de intervir na Petrobras. "A gente tem de respeitar a Petrobras como ela é: uma sociedade de economia mista com uma função social estratégica para o Brasil", disse a pré-candidata, em entrevista ao
Estadão.
Projetado nacionalmente durante a greve dos caminhoneiros, quando se apresentou como um dos representantes da categoria, Janones mantém interlocução com os motoristas. Assim como Ciro, Bolsonaro e Lula, o deputado ataca os custos dos combustíveis. Em uma rede social, ele afirmou que o governo "não tem coragem para atuar na política de preços, vende nosso petróleo cru sem impostos, não gera interesse para investimento em refinarias no País e praticamente doa o nosso etanol".
Frustração
Parte dos líderes tem criticado abertamente o presidente e suas propostas. "Bolsonaro apareceu com a categoria em 2018, foi eleito com a promessa de fazer o que precisava e agora está acabando com empresas e tudo", afirmou o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas de Goiás (Sinditac), Vantuir Rodrigues.
Um dos líderes dos caminhoneiros na greve de 2018, o presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o "Chorão", manifestou frustração. "Ganhamos, mas não levamos", disse. Ele ajudou a articular o apoio a Bolsonaro na época e hoje é pré-candidato a deputado federal pelo PSD em São Paulo.
Segundo Chorão, a categoria está "mais esperta" e, para ele, a pauta dos caminhoneiros tem de ser apresentada a todos que se colocam na disputa. "Nem entro nessa questão de apoio a candidato A ou B. A categoria não vai cair em falsas promessas. Estamos buscando conversar com todos os presidenciáveis, levando as pautas da categoria, vamos ver se eles colocam no programa de governo", disse.
Polarização
De acordo com líderes ouvidos pelo Estadão/Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), por ora, a categoria reflete a polarização do País, com mais motoristas apoiando Lula ou Bolsonaro. O presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas de Guarulhos (Sinditac), Luís Fernando Ribeiro, disse que Lula tem avançado entre os caminhoneiros."Estamos migrando para o PT na esperança de que mude alguma coisa", afirmou. Os discursos do petista contra a política de preços da Petrobras animam parcela da categoria, disseram líderes ouvidos pela reportagem. "A briga vai ser entre Bolsonaro e Lula, então os caminhoneiros já querem apoiar alguém com maior chance", afirmou Ribeiro.
A interlocução entre o PT e parte dos líderes dos caminhoneiros tem sido feita pela Frente Única dos Petroleiros (FUP) e pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, bases de Lula. Uma agenda com petroleiros e o petista está em planejamento, mas ainda não há uma data definida.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Com Agência Estado)