RETRATO DA FOME: Além dos “ossinhos”, cresce em MT número de pedintes que abordam consumidores em frente a supermercados e imploram por alimentos
RETRATO DA FOME: Além dos “ossinhos”, cresce em MT número de pedintes que abordam consumidores em frente a supermercados e imploram por alimentos
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22/07/2022 - 06:03
Por Mário Marques de Almeida
As áreas em frente a supermercados em Cuiabá e Várzea Grande, desde o ano passado, mostram cenas constrangedoras representadas por pessoas que abordam clientes e imploram para que estes os ajudem com a compra de um “litro de leite, um litro de óleo de cozinha ou um pacote de arroz” ou qualquer outro produto alimentício. Envergonhados, eles ficam se esgueirando entre carros nos estacionamentos e, pelo semblante de cada um, percebe-se que são pessoas de bem, desempregadas e se estão mendigano o pão, é por não terem mais para onde apelar.
Nesse compasso, também se observa o aumento de pessoas que se dirigem a esses locais, não para efetuar compras, mas vasculhar containers, tambores e caixas com restos de frutas e verduras com validade vencida e lançadas fora pelos estabelecimentos comerciais.
Além da “fila dos ossinhos”, com aglomerações de pedintes na porta de um açougue em Cuiabá – uma imagem já emblemática da fome que, a exemplo do que ocorre no restante do país, também se alastra na Capital de Mato Grosso, unidade federativa proclamada como terra do agro e da fartura, o aumento de pessoas pedindo alimentos em portas de supermercados é um retrato pungente da miséria total e absoluta que hoje afeta mais de 33 milhões de brasileiros.
Seres humanos que passam necessidades para comer e cujos limites de subsistência estão abaixo da linha da pobreza e da própria insegurança alimentar.
Esse universo dramático de famélicos, acrescido por outro tanto de brasileiros que ainda conseguem comer algo, mas estão reduzindo drasticamente suas aquisições de carboidratos e até trocando almoços por lanches baratos, ocorre 10 anos após o Brasil ter superado o “Mapa da Fome” – uma monstruosa chaga social que nos remetia a índices vergonhosos quanto a ingestão mínima de proteínas necessárias para cada pessoa ser considerada alimentada.
Este Brasil onde o salário mínimo foi desvalorizado em proporções jamais vista, desde que esse índice de referência de ganho foi instituído, e com o poder de compra da maioria da população reduzido a extremos aviltantes, estará sendo passado a limpo, nas eleições do próximo dia 2 de outubro.
Uma eleição polarizada, principalmente entre uma minoria bem nutrida e aqueles que já afundaram econômica e socialmente, seguidos por outros milhões e milhões que tentam se segurar nos estratos de uma classe média empobrecida e temerosa de também descambar para os desvãos já lotados por pessoas que anoitecem e amanhecem sem saber se terão comida nas horas seguintes.
É este Brasil onde setores da sociedade inclinados à intolerância falam mais em armas do que em livros e a cultura do ódio, com pregações explicitas de violência física e até mortes (ocorrências que, aliás, infelizmente, já acontecem) de adversários políticos, que estará sendo avaliado nas urnas.
A política de desmonte deliberado de órgãos de controle e fiscalização do meio ambiente, com o objetivo de acelerar o desmatamento, a invasão de terras públicas e indígenas, o avanço de garimpos ilegais e a contaminação por mercúrio de mananciais de água, também estará em julgamento nessas eleições que as aproximam.
Em meio a tudo isso, estará sendo julgado ainda se é correto, ou não, uma nação das dimensões do Brasil estar constantemente em sobressalto diante de ameaças golpistas e de ruptura institucional, com o seu sistema eleitoral - considerado modelo para o mundo -sendo alvo de ataques mentirosos!
E o juiz de todas essas questões é o eleitor(a)!