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SEM PROPOSTA PARA O BRASIL: Diante da perspectiva de derrota, Bolsonaro troca o sim pelo não e fica cada vez mais negacionista
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19/09/2022 - 20:08
Presidente deixa de destacar realizações e propostas para focar na negação de pautas de comportamento
Fernando Molica
Candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL) bem que tentou dar um tom positivo à sua campanha, enfatizar realizações como ampliação do Auxílio Brasil, queda da inflação e de preços de combustíveis, conclusão da transposição de trechos do Rio São Francisco; até ensaiou parar de lançar dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral
Mas o presidente não resistiu aos números desanimadores das pesquisas em que finge não acreditar – e tratou de mudar rumo da prosa, voltou a jogar no estádio em que atua melhor, no campo da negação. E, como na antiga canção de protesto de Carlos Coqueijo e Alcyvando Luz, trocou o sim pelo não.
Sua campanha, como tem demonstrado em diversos comícios – entre eles, o improvisado na sacada de um prédio público em Londres, algo que contraria a legislação eleitoral -, passou a priorizar ataques ao seu principal adversário e a ressaltar não o que ele, Bolsonaro, pretende fazer caso seja reeleito, mas o que, adverte, pode ocorrer caso Lula (PT) volte ao Palácio do Planalto.
No discurso de quatro minutos que fez na embaixada brasileira, o presidente falou quatro vezes em Deus e usou seis vezes a palavra “não”: entre as citações, disse não ao aborto, não à liberação das drogas, não à aceitação do que classifica de ideologia de gênero. Não, não e não.
Pouco importa que o ex-presidente Lula depois da repercussão negativa de uma fala em abril, tenha deixado de tratar da descriminalização do aborto, passe longe do tema das drogas ilícitas e, embora apoie, não tenha como foco a defesa de pautas identitárias.
De olho no eleitorado mais conservador e evangélico, que terceiriza para a política a resolução de medos e angústias pessoais, Bolsonaro trata de dizer sim aos fantasmas do não que impulsionaram sua vitória em 2018.
Sim, na eleição presidencial anterior, ele também fez coro ao liberalismo e levantou a questão da liberação das armas, mas seu discurso foi fincado no não: não ao petismo, não à corrupção, não à pecadora trindade aborto/drogas/diversidade sexual. A questão é saber se, quatro anos depois, a mesma receita também dará certo.
De quebra, o presidente dá novo gás ao tema de eventual fraude nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral, mesmo depois de o Tribunal Superior Eleitoral ter feito concessões reivindicadas pelo ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, um integrante do governo Bolsonaro.
As sucessivas declarações de que vencerá no primeiro turno não são baseadas em qualquer pesquisa séria, estão lastreadas apenas na necessidade do presidente em lançar dúvidas junto aos seus eleitores e em criar ambiente favorável a uma crise institucional.
Ao abrir mão de discutir planos de seu eventual novo governo, Bolsonaro, mais uma vez, joga para a arquibancada e tenta fugir de temas incômodos, como a redução de verbas para programas como Farmácia Popular, Casa Verde e Amarela e de combate à violência contra a mulher e o congelamento dos recursos da merenda escolar.
Medidas que foram tomadas não por maldade, mas pela necessidade de manter o maior sim de seu governo, a aprovação aos pedidos da base aliada no Congresso, carinhos feitos especialmente ao Centrão, hoje responsável pelo destino de boa parte do orçamento federal – quem governa não é necessariamente quem discursa, mas quem diz sim ou não ao destino do dinheiro.