MORTE DE UM BIOMA: Além de asfixiado por agrotóxicos que poluem suas águas, Pantanal agoniza com incêndios frequentes e mais agressivos
MORTE DE UM BIOMA: Além de asfixiado por agrotóxicos que poluem suas águas, Pantanal agoniza com incêndios frequentes e mais agressivos
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17/11/2023 - 05:19
Por Mário Marques de Almeida
Outros já disseram antes que se trata de um pedaço do paraíso fragilizado pelas agressões que o ferem de morte. O bioma pantaneiro, além dos Estados brasileiros de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, em seus 210 mil quilômetros quadrados abrange territórios da Bolívia e Paraguai, onde é chamado de Chaco.
Toda sua extensão, embora pequena para as dimensões brasileiras (cerca de 2% do território nacional), o Pantanal equivale à soma das áreas de quatro países europeus – Bélgica, Suíça, Portugal e Holanda.
Presente no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o Pantanal é conhecido por suas belezas naturais, que mudam de acordo com os ciclos de cheia e vazante, e também por ser a maior planície alagada do mundo.
O Pantanal está localizado em uma área de ocorrência do clima tropical, com duas estações bem definidas (por enquanto, mas até quando?): o verão chuvoso e o inverno seco. Esse fato é essencial para a atividade turística da região, uma das grandes impulsionadoras da economia.
Por ser um bioma com ligações próximas à Floresta Amazônica e ao Cerrado, a paisagem pantaneira é bem diversificada, com árvores de médio e grande porte, típicas da Amazônia, mas também conta com a presença de árvores tortuosas de baixo e médio porte, muito comuns no Cerrado.
Trata-se de um bioma tão lindo quanto frágil e seus maiores problemas derivam do Planalto que o circunda pelo lado brasileiro, com lavouras de soja que despejam agrotóxicos em suas águas, situadas na Planície, o que vem levando especialistas e estudiosos achar que o Pantanal está morrendo sufocado pela poluição.
É esse recanto antes exuberante do planeta que, além das ameaças antropológicas que sofre pela ocupação humana crescente do seu entorno, acrescida pela população nativa – os pantaneiros, cada vez mais escassos -, agora é vítima de focos impiedosos de incêndios, que vêm incinerando suas áreas já degradadas no Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
Fato que levou ambos os estados a decretarem emergência climática, cujos efeitos apenas retardam o ritmo da destruição inexorável, infelizmente, à qual o bioma está exposto.
Os dados são aterradores. O fogo já consumiu mais de milhão de hectares do Pantanal neste ano, o triplo do registrado em 2022, de acordo com dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa/UFRJ).
Apenas nos primeiros 15 dias de novembro, foram 3.024 focos, o pior registro para o mês na série histórica desde 2002.
Pode ser que nossa geração esteja vendo o fim de um ciclo de vida no planeta, o representado pelo Pantanal fadado a desaparecer, a exemplo de outros que já desapareceram do planeta.
Vida que segue, ainda que aos tropeços.
Mário Marques de Almeida é jornalista.