MORTE DE UM BIOMA: Além de asfixiado por agrotóxicos que poluem suas águas, Pantanal agoniza com incêndios frequentes e mais agressivos

MORTE DE UM BIOMA: Além de asfixiado por agrotóxicos que poluem suas águas, Pantanal agoniza com incêndios frequentes e mais agressivos
Por Mário Marques de Almeida Outros já disseram antes que se trata de um pedaço do paraíso fragilizado pelas agressões que o ferem de morte. O bioma pantaneiro, além dos Estados brasileiros de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, em seus 210 mil quilômetros quadrados abrange territórios da Bolívia e Paraguai, onde é chamado de Chaco. Toda sua extensão, embora pequena para as dimensões brasileiras (cerca de 2% do território nacional), o Pantanal equivale à soma das áreas de quatro países europeus – Bélgica, Suíça, Portugal e Holanda. Presente no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o Pantanal é conhecido por suas belezas naturais, que mudam de acordo com os ciclos de cheia e vazante, e também por ser a maior planície alagada do mundo. O Pantanal está localizado em uma área de ocorrência do clima tropical, com duas estações bem definidas (por enquanto, mas até quando?): o verão chuvoso e o inverno seco. Esse fato é essencial para a atividade turística da região, uma das grandes impulsionadoras da economia. Por ser um bioma com ligações próximas à Floresta Amazônica e ao Cerrado, a paisagem pantaneira é bem diversificada, com árvores de médio e grande porte, típicas da Amazônia, mas também conta com a presença de árvores tortuosas de baixo e médio porte, muito comuns no Cerrado. Trata-se de um bioma tão lindo quanto frágil e seus maiores problemas derivam do Planalto que o circunda pelo lado brasileiro, com lavouras de soja que despejam agrotóxicos em suas águas, situadas na Planície, o que vem levando especialistas e estudiosos achar que o Pantanal está morrendo sufocado pela poluição. É esse recanto antes exuberante do planeta que, além das ameaças antropológicas que sofre pela ocupação humana crescente do seu entorno, acrescida pela população nativa – os pantaneiros, cada vez mais escassos -, agora é vítima de focos impiedosos de incêndios, que vêm incinerando suas áreas já degradadas no Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Fato que levou ambos os estados a decretarem emergência climática, cujos efeitos apenas retardam o ritmo da destruição inexorável, infelizmente, à qual o bioma está exposto. Os dados são aterradores. O fogo já consumiu mais de milhão de hectares do Pantanal neste ano, o triplo do registrado em 2022, de acordo com dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa/UFRJ). Apenas nos primeiros 15 dias de novembro, foram 3.024 focos, o pior registro para o mês na série histórica desde 2002. Pode ser que nossa geração esteja vendo o fim de um ciclo de vida no planeta, o representado pelo Pantanal fadado a desaparecer, a exemplo de outros que já desapareceram do planeta. Vida que segue, ainda que aos tropeços. Mário Marques de Almeida é jornalista.