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Médicos Sem Fronteiras mobiliza equipes de saúde para enfrentar crise provocada por deslocamento em massa na República Democrática do Congo
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03/03/2025 - 05:09
Após violentos combates e ordens de evacuação do grupo armado M23/AFC, filas intermináveis de homens, mulheres e crianças surgiram nas estradas da região
Centenas de milhares de pessoas estão fugindo dos acampamentos de deslocados ao redor de Goma, na República Democrática do Congo (RDC), após violentos combates e ordens de evacuação do grupo armado Mouvement du 23 Mars/Alliance Fleuve Congo (M23/AFC).
Em resposta à crise, Médicos Sem Fronteiras (MSF) adaptou suas atividades na região, mobilizando equipes para apoiar as pessoas que, mais uma vez, estão se deslocando em massa. Muitos dos que retornam às suas cidades de origem enfrentam condições incertas e perigosas.
A paisagem de Goma, capital da província do Kivu do Norte, mudou drasticamente em poucas semanas. Antes da tomada da cidade pelo M23/AFC, no final de janeiro, Goma abrigava cerca de 650.000 deslocados internos – a maioria vivendo em assentamentos improvisados nos arredores – além de seus dois milhões de residentes.
Alguns acampamentos começaram a esvaziar à medida que os combates se intensificaram no final de janeiro. Agora, praticamente todos foram abandonados após as ordens para que as pessoas retornassem aos seus locais de origem.
Enquanto algumas pessoas deslocadas optaram por ficar perto de Goma, a maioria partiu para o norte ou oeste em direção aos territórios vizinhos, sem saber o que a aguardava. Em poucos dias, filas intermináveis de homens, mulheres e crianças surgiram nas estradas, carregando o pouco que podiam a pé, de moto ou de micro-ônibus compartilhado. Alguns pacientes de MSF nos relataram que, às vezes, caminhavam por dias sem acesso à comida ou água.
"Diante desses grandes deslocamentos, enviamos equipes ao longo das rotas de retorno para avaliar as unidades de saúde que poderiam ficar sobrecarregadas por esse súbito aumento de pacientes", explica Anthony Kergosien, responsável pelas atividades das clínicas móveis. "Em todos os lugares, encontramos a mesma realidade: unidades de saúde que já eram precárias antes da crise estavam agora abandonadas ou, pior, destruídas ou saqueadas. E agora espera-se que essas mesmas instalações consigam atender a um grande número de pessoas, e com o risco de propagação de doenças como cólera, Mpox (mais comumente conhecida como varíola dos macacos) e sarampo, que já estavam presentes nos acampamentos de deslocados."
Com base nas avaliações iniciais, as equipes de MSF começaram a fornecer equipamentos, medicamentos e profissionais para mais centros de saúde nos territórios de Nyiragongo e Masisi. Profissionais da organização também montaram clínicas móveis em áreas de difícil acesso para oferecer atendimento médico gratuito às pessoas que estão retornando ou em trânsito.
Necessidade urgente de melhorar as condições para os deslocados
Uma das instalações apoiadas por MSF é o centro de saúde de referência em Sake, uma pequena cidade localizada a 25 quilômetros a oeste de Goma. Sake tem sido palco de intensos confrontos nos últimos anos devido à sua localização estratégica. A cidade é um ponto de passagem essencial para aqueles que viajam em direção à cidade de Masisi, ao oeste; Kitchanga, ao norte; e Minova e Kivu do Sul, ao sul.
"Os moradores estão voltando para Sake e a cidade se tornou o único ponto de conexão para aqueles que retornam ao território de Masisi ou ao Kivu do Sul após deixarem os campos em Goma", explica Kergosien. "Por isso, decidimos realizar reparos emergenciais no centro de saúde, que havia sido severamente danificado durante os últimos combates. Também reconstruímos a unidade de tratamento de cólera, que atualmente atende cerca de 20 pacientes por dia. Agora, quase 200 consultas médicas são realizadas no centro de saúde diariamente, principalmente, para infecções respiratórias e doenças diarreicas. Mas também estamos atendendo casos de Mpox e pacientes que buscam cuidados após sofrerem violência sexual."
A partir de Sake, as equipes de MSF lançaram serviços médicos móveis e apoiaram outras unidades de saúde ao longo das estradas montanhosas. O acesso a cuidados de saúde gratuitos é crucial para as pessoas que regressam dos acampamentos, agora num estado extremamente vulnerável, muitas vezes sem dinheiro, alimentos e, em alguns casos, sem ferramentas para recomeçar.
"Estou de volta a Kabati há uma semana. Está tranquilo, mas a fome é um problema real", diz Bigirimana, que passou dois anos no acampamento de Bulengo antes de retornar para casa. "Precisamos de remédios. A maioria de nós está doente – há muitos casos de diarreia, especialmente entre as crianças."
"Os riscos ligados à insegurança alimentar são graves", alerta Kergosien. "Por isso, restabelecemos várias unidades de nutrição terapêutica. Além disso, enfrentamos a ameaça de epidemias que estavam concentradas em Goma. É urgente melhorar as condições de vida e o acesso a serviços essenciais nas áreas de retorno. E intensificar o apoio humanitário. Infelizmente, pouquíssimas organizações estão operando nessas regiões."
Até 26 de fevereiro, as equipes móveis de emergência de MSF estavam apoiando unidades de saúde em áreas remotas como Buhumba, Kilolirwe, Sake, Kingi, Luhonga e Makombo. Paralelamente, MSF continua prestando atendimento em vários centros de saúde e hospitais em Kivu do Norte, bem como aos feridos nos hospitais de Kyeshero e Virunga. Também seguimos apoiando diversas instalações em Goma, que oferecem cuidados básicos de saúde, tratamento de desnutrição e cólera, além de atendimento para vítimas de violência sexual.