Exatamente na última terça-feira (19), começou a disputa política pelas eleições gerais de 2026, em Mato Grosso.
O União Brasil (UB) e o Partido Progressista (PP) realizam suas últimas convenções, antes de formalizarem oficialmente a federação União Progressista (UP), que, segundo o que prevê a legislação eleitoral, terá duração de quatro anos no mínimo. Portanto, UB e PP têm que caminhar juntos nas eleições de 2026, que vão de presidente e vice; passando por 27 governadores e vice; 54 senadores (ou 2/3 dos atuais); 513 ou 531 deputados federais e 1.059 ou 1.089 deputados estaduais.
O evento vai colocar na mesa quem tem poder de decisão, pois o União Brasil em Mato Grosso está fragmentado, com a postura unilateral do governador Mauro Mendes de declarar, publicamente, que o candidato à sua sucessão é o vice-governador Otaviano Pivetta (Republicanos).
Ao declarar isso, Mauro, mesmo sinalizando que sua fala era pessoal e não partidária (como se ele tivesse dois votos, um como cidadão e outro como presidente do partido em Mato Grosso), fragmentou a legenda, que, além do seu cargo de governador, tem dois deputados federais, cinco estaduais e o senador Jayme Campos.
O problema é que Jayme está no final do seu segundo mandato e, naturalmente, quer disputar um novo mandato. Mas, assim como ele, Mauro também sabe que uma chapa com dois candidatos do mesmo partido é um empreitada difícil de ser enfrentada e sem precedentes nas últimas disputas eleitorais, em todos os estados.
Se a chapa encabeçada por Pivetta, cujo Republinos tende formalizar uma federação com o MDB de Janaina Riva, candidata ao Senado e desafeta de Mauro Mendes e ainda mais de Virgínia Mendes, primeira-dama do Estado, e sem deixar espaço político e partidário para Jayme, este tende a disputar o Governo do Estado.
Logo, se o União Brasil vai ter candidato próprio ao Governo de Mato Grosso, ele não tem como apoiar uma candidatura de Pivetta, que é de outro partido, que sequer deve se coligar com a federação Progressista, em que pese isto já estar sendo conspirado nos bastidores políticos pelo núcleo duro de apoio de Mauro.
Simplesmente a conta não fecha. São três vagas de primeira grandeza. Uma de governador, com a figura decorativa do seu vice-governador e duas de senador, também com as respectivas figuras decorativas de dois suplentes para cada um dos dois senadores.
Também se tem problemas no outro extremo da disputa. O fim do mandato de Carlos Fávaro, que comanda o PSD em Mato Grosso e foi liberado pela Executiva Nacional para montar o palanque no Estado que melhor convier, mesmo mantendo o compromisso em apoiar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de quem é ministro da Agricultura, com muita liberdade para trabalhar, muito recurso e, querendo ou não, divide uma parcela considerável do agronegócio, principalmente a agricultura familiar, que é a maioria esmagadora dos eleitores.
Então, se o União Brasil fechar as portas para a reeleição de Jayme Campos, que, em seu histórico político, disputou seis eleições majoritárias, todas no voto popular, ele pode insistir em uma candidatura própria para o Governo do Estado, contrariando Mauro Mendes, em seu apoio a Pivetta e colocando água no chope do atual grupo político que comanda, desde 2019, o Palácio Paiaguás.
Ou, pior aind:, ele pode romper com o grupo político e apoiar ou ser candidato dissidente com apoio de Carlos Fávaro e de Janaina Riva.
Ainda existiria uma terceira opção, que seria ainda mais desastrosa para o grupo do atual governador: Jayme apoiar a candidatura ao Governo de Mato Grosso do atual senador e no meio do seu segundo mandato, Wellington Fagundes, do PL de Jair Bolsonaro. Só que mais de centro do que de extrema-direita.
Em tempo: nas últimas eleições gerais, Bolsonaro ou os candidatos apoiados por ele foram vencedores.
Uma movimentação dosenador Jayme Campos pode colocar em risco os projetos do União Brasil e levar junto o combalido e sem representatividade Partido Progressista, que tem apenas um deputado estadual: Paulo Araújo, outro agregado do governador Mauro Mendes.
Então, hoje, nas convenções do União Brasil e do Partido Progressista, que selará em definitivo a federação União Progressista (UP), se terá um desenho exato de quem o partido, em nível nacional, tende apoiar: se a reeleição de Jayme para uma das duas vagas de senador, dividindo chapa com Mauro e Pivetta para governador, ou então Jayme se lança ao Governo do Estado, o que deixa Mauro em maus lençóis e com sérios riscos em colocar uma candidatura majoritária para senador, tendo uma legião de filiados conspirando durante todo o processo eleitoral.
Um outro problema a ser enfrentado, após vencida todas essas discussões partidárias internas, no tocante às eleições, propriamente ditas, pois o atual cenário de amplo apoio popular, pelo menos nas pesquisas eleitorais, e favoritismo para uma das duas vagas de senador, remete o grupo de Mauro a um passado recente que assusta. Trata-se do "fantasma" que levou à derrota de Dante de Oliveira (PMDB), em 2002.
Dante foi o primeiro governador reeleito após aprovada a reeleição que, até hoje, não consta nem na Constituição Federal e nem na Estadual, e mesmo sendo, a época, considerado um gigante eleitoral, ruiu e perdeu a disputa para a então deputada estadual pelo PT, que ganhou as eleições, Serys Slhessarenko, que não estava na chapa encabeçada pelo então candidato vitorioso ao Governo do Estado, o empresário Blairo Maggi (PPS).
Naquele ano, além de Maggi e Serys, foi reeleito o senador Jonas Pinheiro, que era o padrinho político de Blairo, que havia sido seu suplente, no primeiro mandato de senador.
Blairo só passou a ser favorito - como se diz em jogo de futebol; disputadíssimo - durante a prorrogação do segundo tempo das eleições gerais de 2002.
Na época, o candidato do governo do Estado era o senador Antero Paes de Barros (PSDB), que acabou derrotado, assim como o favorito para uma das duas vagas de senador da República, tido como eleito antes mesmo das eleições, Dante de Oliveira.
Só que as urnas não trouxeram o resultado esperado.
Naquele ano, também aconteceu a primeira eleição do hoje presidente da Republica, que está em seu terceiro mandato, Luiz Inácio Lula da Silva.
Sobre o número de deputados federais e estaduais, é preciso esclarecer que a diferença nos número de representantes a serem eleitos para deputado federal e estadual, se estabelece em cima de uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que determinou ao Congresso Nacional que promovesse o reordenamento na representatividade das bancadas federais na Câmara dos Deputados. Consequentemente, isto alteraria o número de deputados estaduais, que tem a proporção de 1 federal para 3 estaduais até a trava de 36 representantes por Estado.
O problema é que o Congresso Nacional cumpriu em parte a ordem do STF. Mas, ao invés de remanejar representantes entre as bancadas federais existentes e causar mais prejuízos do que acertos, foi construída uma nova opção: aumentaram o número total de 513 deputados federais para 531, a serem eleitos em 2026 e assumirem em 2027.
Aumentando os federais, aumentam-se também os estaduais, que vão, em todo o Brasil, de 1.059 para 1.089.
Os deputados federais e senadores só não contavam que o presidente Lula, pressionado pela baixa popularidade, iria vetar o Projeto de Lei Complementar (PLC), que, para se tornar efetivo, precisará que deputados e senadores derrubem o veto presidencial, o que exigirá muitos votos de muitos candidatos a reeleição, que não desejam contrariar os eleitores em ano de disputas ferrenhas e de polarização entre extrema-direita e extrema-esquerda.
Se não conseguirem derrubar o veto, volta a valer a decisão dos ministros do STF e o aumento se dará proporcionalmente. Mas com Mato Grosso ganhando uma vaga de deputado federal e de três deputados estaduais.
Com isso, no caso de Mato Grosso e diante do total apontado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como sendo a representatividade populacional, a bancada federal, com o veto derrubado, vai dos atuais 8 deputados para 10 deputado e de 24 para 30 deputados estaduais.
Veto mantido, cresce uma representação federal e três representações estaduais em Mato Grosso.
É importante lembrar que, pela atual legislação eleitoral, o número de deputados federais é que tem o condão de definir o montante financeiro que cada partido terá disponíveis do Fundo Eleitora,l que soma mais de R$ 5 bilhões. Bem como define também os tempos de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, requisitos considerados essenciais, principalmente nas disputas majoritárias. Ou seja, para governador e seu vice, os senadores e seus suplentes, mas ampliando também os programas para as eleições proporcionais (deputados federais e estaduais).
A sorte estará lançada, a partir desta terça-feira, para o União Brasil e para o Partido Progressista, com a federação União Progressista.
Agora, se a sorte será a mesma para o governador Mauro Mendes, para o senador Jayme Campos e para o grupo político de ambos que marcharam juntos em 2018, 2020, 2022 e 2024, e pode-se dizer que se sagraram vencedores na quase totalidade das disputas, mas unidos.
Agora separados, restará a ambos convencer o eleitorado que está com os nervos a flor da pele por causa da polarização política do Brasil como um todo. E, diante da crise econômica que afeta não apenas o bolso dos eleitores, mas o humor e a vontade de participar do momento político, seja para que lado for.
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