Os produtores de soja dos Estados Unidos estão à beira de um "precipício comercial e financeiro" e não conseguem sobreviver a uma guerra comercial prolongada com a China, o maior comprador do produto colhido no país. Esse é o alerta de Caleb Ragland, presidente da American Soybean Association (Associação Americana de Soja, que representa 21 mil produtores dos EUA).
Segundo a entidade, as tarifas de Donald Trump deixaram a soja americana 20% mais cara do que a brasileira, e a China está mais do que nunca recorrendo aos grãos do Brasil, que expandiu a exportação para atender à demanda.
Em carta enviada ao presidente republicano na terça-feira, Regland pediu ao governo que chegue a um acordo com a China para remover as tarifas rapidamente e, se possível, inclua o compromisso de compras significativas de soja americana pelo gigante asiático.
BRASIL LIDERA COM FOLGA
A China é o maior comprador de soja do mundo e importou cerca de 105 milhões de toneladas no ano passado, a maior parte procedente do Brasil. Os chineses ainda não compraram sequer uma carga de soja da próxima safra americana, que começa em setembro. Em anos típicos, o país asiático encomendava, em média, 14% de suas compras estimadas dos EUA antes do início da colheita, segundo análise enviada ao governo Trump junto com a carta da associação de produtores do país.
No ano passado, os chineses importaram 74,7 milhões de toneladas de soja do Brasil (que somaram US$ 36,5 bilhões) e 22,1 milhões de toneladas dos EUA. Só no mês passado, a China importou do Brasil 10,39 milhões de toneladas, 89% de toda a soja que comprou no mercado internacional. Já as compras do produto colhido nos Estados Unidos caíram 11,5% em relação ao mesmo mês de 2024.
‘ESTRESSE EXTREMO’
No último dia 11, pouco antes de os EUA anunciarem a prorrogação da trégua na guerra comercial com Pequim, Trump pediu que "a China quadruplique" suas compras de soja de produtores americanos.
"Quanto mais avançarmos até o outono (no Hemisfério Norte) sem um acordo com a China sobre a soja, piores serão os impactos. À medida que você (Trump) e sua equipe negociam com a China, pedimos que priorizem a soja", disse na carta enviada à Casa Branca o presidente da associação americana de produtores.
Segundo a entidade, as vendas dos EUA para outros países não conseguem compensar a lacuna deixada pelos chineses.
"Os produtores de soja dos EUA não conseguem sobreviver a uma disputa comercial prolongada com nosso maior cliente. Os produtores estão sob estresse financeiro extremo. Os preços continuam caindo e, ao mesmo tempo, nossos agricultores estão pagando muito mais por insumos e equipamentos", diz a carta da associação enviada ao presidente americano.
REAÇÃO DA CASA BRANCA
Em comunicado após o apelo dos produtores de soja, a Casa Branca deu uma resposta genérica:
"O presidente Trump continuará abrindo mercados e equilibrando as condições para os agricultores americanos, garantindo que eles possam vender o máximo possível de produtos feitos nos EUA", escreveu a vice-secretária de imprensa da Casa Branca, Anna Kelly.
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