A estranha movimentação do deputado federal José Medeiros (PL), anunciando apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à sua pré-candidatura e à do governador Mauro Mendes (União) ao Senado, em 2026, causou tensão no ambiente político de Mato Grosso. O apoio não seria um fato consumado.
O deputado bolsonarista aproveitou entrevistas e usou suas redes sociais, na semana passada, para se apresentar como uma espécie de "candidato de Bolsonaro", justamente no momento em que o ex-mandatário era condenado a 27 anos de prisão pelo STF, por tentativa de golpe de Estado, com outros sete aliados.
Não há confirmação de que Bolsonaro tenha consentido com as escolhas, pois as candidaturas ao Senado, obrigatoriamente, têm que passar pela disputa ao Governo do Estado, que tem o senador Wellington Fagundes - ainda na metade do seu segundo mandato de oito anos - como candidato da direita.
Ou seja, descartar o parlamentar equivale a criar uma celeuma desnecessária dentro do próprio PL e arrumar um inimigo no Senado por pelos menos quatro anos.
A única definição que se tem, e que já foi propagada pelos mais próximos do ex-presidente - inclusive, pelos filhos, antes de sua condenação pela Suprema Corte - é de que o "núcleo duro" do PL trabalharia pela eleição de senadores e deputados federais, visando comandar, a partir de 2027, o Congresso Nacional e anistiar o ex-presidente.
Além de impor sanções e o impeachment de ministros do STF, como retaliação pela condenação ou pelo que os bolsonaristas convencionaram chamar de "perseguição política" ao ex-presidente.
O presidente da Assembleia Legislativa, Max Russi (PSB), aliado de primeira hora dos ocupantes do Palácio Paiaguás, afirmou que é "muito cedo" para se definirem estratégias e candidaturas, “pois ainda tem muito trabalho a ser realizado e muita conversa a ser colocada na mesa de discussão”.
Russi destacou que não se pode definirem as coisas deixando de fora das discussões nomes de peso na política como a deputada estadual Janaina Riva, presidente do MDB, o senador Jayme Campos (União), o senador Carlos Fávaro (PSD), o deputado José Medeiros (PL), o empresário Antônio Galvan (DC), que disputou 2022 e fez mais de 300 mil votos, entre outros.
O chefe do Legislativo está perto de se filiar ao Podemos, justamente por causa da proximidade do PSB com o presidente Lula (PT) e do Podemos com o grupo de Bolsonaro
“Não temos nem certeza de que o próprio governador Mauro Mendes será candidato”, disse Max Russi. Observou, de outro lado, que, se o governador se dispuser a disputar uma das duas cadeiras para o Senado, terá seu apoio, assim como o vice-governador Otaviano Pivetta (Republicanos), que seria candidato do grupo ao Governo de Mato Grosso.
Mauro está na parte final do seu segundo mandato e tende a disputar uma das duas cadeiras que estarão em disputa para o Senado e que hoje são ocupadas por Jayme Campos e Carlos Fávaro.
Os dois senadores já declararam que pretendem disputar a reeleição, o que torna o quadro sucessório instável e de alto risco para todos os lados. As vitórias de 2018 e de 2022, mesmo sob o comando de Mauro Mendes, foram construídas em cima de unidade de discursos e de um amplo arco de alianças, que, pelo visto já não existe mais.
"Ou estão fazendo muita força para dissolver esse arco, o que pode representar prejuízos para todos os lados”, disse uma fonte do Palácio Paiaguás, que discorda da maneira como é tratada a questão da sucessão eleitoral e da definição dos nomes. Ou seja, sem consenso e com expurgo de alguns nomes, como deseja a ala mais radical do PL, ligada ao prefeito de Cuiaba, Abílio Brunini.
O anúncio de José Medeiros soou como um jogo de pressão. E pior, supostamente combinado com o governador Mauro Mendes, que tentou, sem sucesso, por mais de vez, ingressar (ou pelo menos filiar seu vice-governador no PL) para construir uma chapa centro-direita, mas com uma sinalização para a extrema-direita, mais próxima de Bolsonaro e seus adoradores.
Uma definição prematura poderia consolidar processos de escolha. Ou seja, a candidatura de Medeiros (PL), que é próximo de Bolsonaro, tem mais dificuldades em ser colocada na disputa, tendo Wellington Fagundes como candidato a governador. E essa dificuldade seria melhor vencida com Mauro Mendes, puxando votos para a chapa de senador e para Pivetta, no caso, disputando o Governo do Estado.
O presidente do PL em Mato Grosso, Ananias Filho ,que é intimo de Wellington Fagundes e principal articulador do prefeito Abílio Brunini, insiste na candidatura do senador ao Governo do Estado, o que, indiretamente, beneficiaria o próprio Mauro Mendes, pois o primeiro suplente do senador foi escolhido em 2022 pelo próprio Mauro.
Trata-se de Mauro Carvalho, presidente regional do PRB, ex-chefe da Casa Civil, amigo e sócio de Mauro e de Pivetta e já declarou apoio à pré-candidatura do vice-governador. O problema maior é que se tem um volume considerável de nomes de peso, mas poucas vagas para contemplar a todos os pré-candidatos.
Fora isto, Wellington Fagundes carrega ainda outro problema: a candidatura de Janaina Riva, presidente do MDB e sua nora, que é pré-camdidata a uma das duas vagas para o Senado, tornando ainda mais complexa a disputa majoritária. Afinal, a deputada, segundo pesquisas de intenção de votos, poderia ser beneficiada pelo efeito político do segundo voto, já que, em 2026, teremos eleição para duas vagas de senador. Portanto, cada eleitor terá direito a votar duas vezes para o Senado, o que torna o resultado sempre uma incógnita.
Os senadores são eleitos para mandatos de oito anos, o dobro de anos de mandatos de presidente da República, governador, deputado federal e deputado estadual. Só que, a cada quatro anos, se têm eleições para o Senado, alternadamente: numa eleição, há duas vagas e, na outra, apenas uma vaga.
Se levarmos em consideração as eleições para o Senado em Mato Grosso em 2018, quando foram eleitos Selma Arruda (PSL), cassada no primeiro ano de mandato, e Jayme Campos (UB), se percebe que, para presidente da República, governador, deputado federal ou deputado estadual compareceram 1.757.938 de eleitores.
Só que para o Senado foi contabilizado o dobro de votos: 3.515.876. Nesse total, são contados os votos válidos, nulos e brancos, menos as abstenções.
É neste volume extra de votos que, nas últimas eleições em que foram eleitos dois senadores, sempre se teve surpresas, como a derrota de Dante de Oliveira, em 2002, para Serys Slhessarenko (PT), tendo Jonas Pinheiro (PFL) como eleito em primeiro lugar.
Em 2006, a disputa para o Senado foi de apenas uma vaga, na qual foi eleito Jayme Campos.
Em 2010, foram eleitos Blairo Maggi (PR) e Pedro Taques (PDT), que derrotou o então favorito, Carlos Abicalil (PT), que fazia par com Maggi.
Em 2014, novamente a eleição foi para apenas uma vaga e foi eleito Wellington Fagundes (PR).
Já em 2018, foram eleitos Selma Arruda (PSL), posteriormente, cassada no primeiro ano de mandato, e Jayme Campos.
Em 2020, em eleição suplementar, foi eleito o atual senador Carlos Fávaro, que, em 2018, era o par de Jayme e ficou como terceiro mais votado.
Em 2022, Wellington Fagundes foi reeleito senador.
Essa contabilidade de voto extra torna os resultados eleitorais para o Senado imprevisíveis, tanto que essa possibilidade assusta e muito Mauro Mendes e seus mais próximos auxiliares ,que admitem não ser 100% certo projeto do governador. Se ele cumprir seu mandato até o final, prejudica o vice-governador Pivetta, que perderia força política e eleitoral. Se deixar o mandato, vai ter que disputar em igualdade de condições com Jayme, que é do mesmo partido, Janaina Riva (MDB), Carlos Fávaro (PSD), Antônio Galvan (DC) e José Medeiros (PL).
Em síntese: pela fala de Medeiros, seu companheiro de chapa seria Mauro, o que abre brechas grandes para a vitória de um nome secundário.
“Não existem definições, nem conversas. Pelo menos comigo e com meu grupo, não houve nenhuma conversa. O que se veem são pesquisa e posições na imprensa, mas definições nenhuma. Nem poderia ser diferente, pois a legislação eleitoral não permite. Eu mesmo, hoje, sou pré-candidato, até porque não pode se definir candidatura neste momento”, bbservou Max Russi.
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