FOTO: ASSESSORIA
O senador Jayme Campos (União Brasil) afirmou que ter água em casa em Várzea Grande “é artigo de luxo”. A declaração foi feita durante a entrega de maquinários ao município, na última sexta-feira (24), e soou como uma crítica direta à prefeita Flávia Moretti (PL), que recentemente decretou estado de calamidade pública por causa da crise no abastecimento.
Na fala, Jayme lamentou que moradores estejam ficando até 20 dias sem água e disse que “a esperança do povo várzea-grandense morreu”. O senador ainda afirmou que a gestão atual “está de mal a pior”, apontando desorganização e falta de resultados.
Ocorre que a crise no abastecimento não é nova. O problema se arrasta há mais de 40 anos e atravessa governos de diferentes partidos, quase todos ligados direta ou indiretamente ao próprio grupo político do senador. Desde 1983, a família Campos e seus aliados controlaram a prefeitura por cerca de 34 dos últimos 42 anos.
Jayme foi prefeito por dois períodos (1983 a 1988 e 1997 a 2004) e sua esposa, Lucimar Campos, administrou o município entre 2015 e 2020. Antes de Flávia Moretti, o comando estava com Kalil Baracat, ex-secretário de Lucimar e aliado político do clã. Mesmo durante essas gestões, o sistema do Departamento de Água e Esgoto (DAE-VG) enfrentou colapsos recorrentes, vazamentos, reservatórios inoperantes e promessas não cumpridas de ampliação da rede.
Em 2018, a então prefeita Lucimar chegou a anunciar um plano de modernização do DAE que previa resolver o abastecimento em dois anos, o que não aconteceu. Sob Kalil Baracat, a situação piorou, com bombas queimadas, bairros sem água por até 20 dias e denúncias de falhas na execução de obras financiadas com recursos federais.
Ao decretar calamidade pública em outubro de 2025, a prefeita Flávia Moretti herdou um sistema praticamente falido. O decreto, com validade de 180 dias, restringe o uso da água para lavagem de calçadas, enchimento de piscinas e atividades não essenciais.
A fala de Jayme reacende um debate que persegue Várzea Grande há décadas: o da responsabilidade sobre o colapso no abastecimento. Em vez de ser um problema pontual, a crise se tornou o símbolo de uma herança política mal resolvida, uma herança que nasceu, cresceu e se perpetuou sob o domínio da própria família Campos.
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