Mané Catraca “analisa” a confusão e "encrencas ideológicas" do capitão Jair Bolsonaro em matéria de política externa

Mané Catraca  “analisa” a confusão e catraca
Na contramão da história moderna da politica externa brasileira, que defende a busca e ampliação de mercados internacionais para comprar produtos brasileiros e cuja guinada a favor do pragmatismo econômico começou ainda na gestão do presidente Geisel, na década de 70, o capitão Jair Bolsonaro está adotando um arriscado viés político e ideológico na diplomacia brasileira que pode causar enormes prejuízos à economia nacional em um mundo onde essas “fronteiras” de separação por ideologia dessa ou daquela nação é uma prática rançosa e ultrapassada e que nem o próprio Trump  - alvo número 1 da admiração de Bolsonaro - advoga, haja vista os esforços dos Estados Unidos para superar divergências tarifárias com a China. Com essa visão antiquada, dos tempos da “guerra fria”,  o capitão se aproxima com volúpia inusitada de Israel que pouco ou quase nada compra do Brasil e, com isso, pode estremecer, desnecessariamente, relações diplomáticas e comerciais com dezenas de países árabes. No caso israelense, Bolsonaro estava empenhado (mas, ao que parece, foi dissuadido dessa ideia por membros mais sensatos de sua equipe) em transferir a sede da embaixada brasileira de Tel Aviv, capital política de Israel, para Jerusalém – uma área de conflito entre judeus e palestinos. Talvez, essa sanha do capitão para mudar o domicílio da representação diplomática brasileira possa ser explicada pela “adrenalina” de estar mais perto do “barril de pólvora”... Resumo: A mudança de endereço da embaixada, caso ocorresse, é um assunto irrelevante para o Brasil e, talvez, até para a própria nação israelita, mas tem um simbolismo que desagradaria o mundo árabe – uma região do planeta, por si só já conflituosa e, portanto, desnessário ter o Brasil como fomentador de mais desavença naquela parte convulsionada do globo.Nessa mesma caminhada para “ideologizar” a política externa, Bolsonaro quer um atrelamento maior do que já existe com os Estados Unidos. País concorrente do Brasil no mercado externo agrícola. E nesse aspecto, nem tudo que é “bom” para os EUA, necessariamente é bom para o Brasil! Além de que, as relações do Brasil com aquele país estão boas e dispensam maiores estreitamentos.Essa que pode ser uma distorção cujos danos ainda precisam ser melhor avaliados, pode levar o Brasil, apenas por questões políticas suscitadas nesta fase bolsonarista, se afastar, por exemplo da China, maior parceiro comercial do Brasil na importação de soja e que tem em andamento investimentos vultosos no Brasil, resultado da parceria estabelecida por uma política externa de resultado que vem sendo posta, até agora, em prática pelo Brasil.Sobre esse assunto, confira também matéria do blog do jornalista Tales Faria, do Uol, cujo texto é reproduzido abaixo com intuito de fornecer mais informações sobre a “encrenca” que pode estar sendo armada por Bolsonaro nesse campo sensível da diplomacia, atropelada por ele.Leia a matéria na íntegra:Contra militares, Bolsonaro tenta por fim à Era Geisel na política externaTales FariaO presidente Jair Bolsonaro recebeu nesta sexta-feira (8) o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para discutir acordos e parcerias a serem assinados durante suas próximas viagens internacionais.Neste mês de março ele irá aos EUA, ao Chile e a Israel.No início da noite de quinta-feira, em sua primeira live no Facebook depois de assumir o cargo no Palácio do Planalto, Bolsonaro anunciou as viagens. A escolha dos países não foi feita ao acaso. Marca o interesse do presidente em uma mudança drástica na política externa brasileira.A live foi postada para explicar a polêmica declaração, poucas horas antes, segundo a qual democracia e liberdade só existem quando as Forças Armadas assim o querem.No mesmo trecho em que tratou da, digamos, questão democrática, Bolsonaro falou de sua visão para a política externa:"A (…) missão será cumprida ao lado das pessoas de bem do nosso Brasil, daqueles que amam a pátria, daqueles que respeitam a família, daqueles que querem aproximação com países que têm ideologia semelhante à nossa, daqueles que amam a democracia e a liberdade".Curiosamente, essa ideologização da política externa pretendida pelo capitão da reserva Jair Bolsonaro, se ocorrer, será uma pá de cal na grande virada no Itamaraty promovida pelo regime militar. Mais especificamente, entre 1974 e 1979, pelo ex-presidente Ernesto Geisel e seu chanceler, Azeredo da Silveira, nome até hoje cultuado entre os diplomatas.Geisel e Azeredo estabeleceram uma política externa pragmática com atos de grande alcance, como o acordo nuclear com a Alemanha, rompendo uma parceria comercial com a norte-americana Westhinghouse.Em contraposição à menor interação com os Estados Unidos, o Brasil estreitou laços com a Europa, especialmente Inglaterra e França, com a Ásia e com os países árabes. Votou pela concessão à OLP (Organização para Libertação da Palestina) do status de observador na ONU (Organização da Nações Unidas). Rompeu com Taiwan para estabelecer relações diplomáticas com a socialista República Popular da China. Reconheceu ainda o então governo marxista de Angola, que tinha fortes ligações militares com cubanos e russos.Tudo voltado por interesses comerciais. O acordo nuclear com a Alemanha veio após os EUA imporem restrições de transferência tecnológica ao Brasil. A questão das transferências de tecnologia impulsionou a aproximação com todos os países europeus. E também porque para lá é que estava indo boa parte do capital do mundo árabe. Os investimentos europeus no Brasil quadruplicaram no período.A aproximação com os árabes foi quase obrigatória diante da crise mundial do petróleo. Resultou também num grande incremento, até hoje, das exportações de manufaturados do Brasil para a região e para a África. A China se tornou nosso segundo maior parceiro comercial.Enfim, o Brasil de Geisel e Azeredo da Silveira se abriu para o mundo com uma política externa marcada por forte pragmatismo econômico e desideologização.Praticamente veio até os dias de hoje, com apoio da alta cúpula militar do país.Bolsonaro propõe uma mudança radical de rumo que terá impacto não só na sua relação com os militares (vide desentendimentos em relação à Venezuela) como na área econômica. Não se sabe ainda como reagirão, por exemplo, os países árabes sobre a escolha preferencial por Israel. Nem o que fará a China, com investimentos gigantescos planejados para o Brasil.Os generais e o ministro da Economia, Paulo Guedes, estão apreensivos.