VIÉS POLÍTICO: Bolsonaristas associam mais o presidente à religiosidade e armas que a questões de educação, saúde, emprego ou transporte

VIÉS POLÍTICO: Bolsonaristas associam mais o presidente à religiosidade e armas que a questões de educação, saúde, emprego ou transporte INTERNET MÓVEL
Mário Marques de AlmeidaSabendo do sentimento de religiosidade beirando ao fanatismo que desperta na grande maioria de seus seguidores, pouco sensíveis às demandas macroecômicas e político-administrativas, o presidente Jair Bolsonaro, via postagem nas mídias sociais, continua “surfando” nessa onda em busca de manter o apoio e a popularidade que o ajudaram a chegar na presidência da República.É nesse cenário que se insere o post feito pelo presidente, no qual ele replica a fala de um pastor afirmando que “Jair Bolsonaro foi escolhido por Deus para governar o Brasil”.De acordo com a visão do pastor, nascido no Congo e que faz pregações na França, pelo fato de ter sido “eleito pelo Criador”, Bolsonaro não pode ser alvo de críticas e nem enfrentar oposição. Ou seja, de acordo com pastor, o presidente precisa estar acima do enfrentamento e dificuldades inerentes aos governantes.É incrível e parece até “fake news” que o presidente da República de um país das dimensões do Brasil, tenha se utilizado de suas redes sociais para reproduzir a “profecia” do pastor.Diante disso tudo, desse caldo de cultura entre fanatismo religioso e a política, que provou não ter dado certo em outras partes do mundo, a dúvida que surge é a seguinte: Até onde Bolsonaro vai conseguir manter fiéis suas bases eleitorais apenas com apelos bíblicos e religiosos ou decretos para armar a população?Para mostrar a dimensão da visão de religiosidade de grandes segmentos bolsonaristas sobre a figura do “mito”, cabe também a pergunta: até quando essa idolatria vai durar em um quadro de crise econômica a caminho da estagnação do país? Para melhor ilustrar nossos internautas, reproduzimos abaixo, na íntegra matéria da Agência Estado que aponta, com dados cientificamente levantados, a extensão do que pode ser fanatismo mesclado à adoração política.   Confira o texto:No dia 6 de setembro de 2018, Aline entrou em sua página do Twitter, indignada com os comentários que lia sobre a facada que o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro tinha acabado de levar, durante um ato de campanha que fazia em Juiz de Fora (MG). "Você que tá comemorando a facada no Bolsonaro, só digo uma coisa, que Deus perdoe sua alma", escreveu. As 17 palavras usadas em sua frase não incluíam qualquer menção a termos ligados à saúde ou à segurança do presidente. O contexto, basicamente, era religioso. A jovem Aline não era a única que faria clamores divinos pela internet. Naquele dia e nos que se seguiriam, dezenas de milhares de postagens similares invadiriam as redes sociais, envolvendo citações de fé e o nome de Bolsonaro. As publicações chamaram a atenção da AP/Exata, empresa de inteligência em comunicação digital, que decidiu pesquisar quais são as palavras mais usadas por pessoas nas redes sociais, quando estas citações envolvem o nome "Bolsonaro". O levantamento se baseou em 2,287 milhões de tuítes, todos geolocalizados em 145 cidades, em todos os Estados do País. O trabalho foi feito em dois períodos: pré-eleitoral, entre 1.º de maio de 2018 e 3 de outubro de 2018; e pós-eleitoral, de janeiro a 9 de abril deste ano. O resultado revela que, em publicações com o termo "Bolsonaro", palavras ligadas à religião sempre estiveram à frente de assuntos centrais em qualquer campanha eleitoral ou programa de governo, como educação, saúde, emprego ou transporte. O único termo que, nas citações que envolvem Bolsonaro, chega a fazer frente a menções religiosas é armas. Os dados apontam que, em 2019, de cada 100 tuítes analisados que continham a palavra Bolsonaro, quatro também traziam citações a Deus, Jesus ou Cristo. Entre os mais citados também apareceu Satanás, como fez questão de mencionar, em sua postagem de 13 de março, o usuário do Twitter Beto Silva. "Satanás e seus asseclas amam a mentira. O problema é que a mentira nunca prevalece sobre a verdade. Resumindo: eles continuarão fracassando e Bolsonaro continuará cavalgando no lombo deles." Para Sergio Denicoli, diretor da AP/Exata, os dados explicam o fato de a religião ter sido incorporada à política do governo. "O governo Bolsonaro é reativo em relação ao que acontece nas redes sociais, é plenamente sensível ao que se passa nelas." Ao comparar as citações religiosas mais associadas ao nome de Bolsonaro, o levantamento apontou que algumas palavras apareciam com grande frequência antes das eleições, mas que depois perderam muito espaço. Foi o caso de termos como Bíblia, Inri, mandamento, pecador, pecadores e cristianismo. Por outro lado, após as eleições, surgiram termos religiosos novos, como Abraão, crucificação, divino, Gênesis, Jacó, salmos e satanás. "De maneira geral, o aparecimento de satanás na lista remete a uma radicalização do discurso, no que diz respeito ao fato de que há uma relação entre o termo "Bolsonaro" e a ideia de que ele é um presidente que luta contra satanás'", diz Denicoli. Já o surgimento dos termos como "Abraão", "Gênesis" e "Jacó" são reflexos da aproximação do presidente com Israel e sua viagem ao País. "É no livro de Gênesis que esta a base bíblica que sustenta o apoio dos evangélicos a Israel", comenta Denicoli.(Com Agência Estado)