Mesmo com prisão de Arcanjo, genro e do concorrente de ambos, o jogo do bicho nunca parou de funcionar em MT
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19/09/2019 - 10:27
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Redação
O jogo do bicho continua funcionando abertamente em Cuiabá e Várzea Grande, mesmo após a Operação Mantus, desfechada pela Polícia Judiciária Civil (PJC) em 29 de maio, e quando foram presos os chefes da contravenção em Mato Grosso.
“Aliás, nunca parou. Deu apenas ‘um tempo’, uma ‘esfriada’ quando foram efetuadas as prisões”, comenta um cliente das apostas.
Comentários ouvidos pela reportagem do Página Única dão conta que, ao contrário do que acontecia até a eclosão da Mantus, quando dois grupos disputavam o controle do jogo do bicho no Estado, atualmente apenas um deles, que seria chefiado por João Arcanjo Ribeiro, atua nesse “mercado” de jogos de azar, que concorre diretamente com as várias loterias oficiais exploradas pela Caixa Econômica Federal.
No entanto, a reportagem, até porque esses jogos são ilegais e realizados de forma clandestina, não conseguiu checar a veracidade das informações sobre se o controle do bicho está, ou não, apenas nas mãos do veterano bicheiro João Arcanjo.
Retrospecto
Até culminar com a Operação no final de maio, as investigações iniciaram em agosto de 2017, conseguindo descortinar duas organizações criminosas que comandavam o jogo do bicho no Estado de Mato Grosso, e que movimentaram em um ano, apenas em contas bancárias, mais de R$ 20 milhões.
Uma das organizações é liderada por João Arcanjo Ribeiro e seu genro Giovanni Zem Rodrigues, já a outra é liderada por Frederico Muller Coutinho.
João Arcanjo Ribeiro, conhecido como “Comendador”, é acusado de liderar o crime organizado em Mato Grosso, nas décadas de 80 e 90, sendo o maior “bicheiro” do Estado, além de estar envolvido com a sonegação de milhares de reais em impostos, entre outros crimes.
No ano de 2002, Arcanjo foi alvo da operação da Polícia Federal, Arca de Noé, em que teve o mandado de prisão preventiva expedido pelos crimes de contravenção penal, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e homicídio. A prisão do bicheiro foi cumprida em abril de 2003 no Uruguai. Arcanjo conseguiu a progressão de pena do regime fechado para o semiaberto em fevereiro de 2018, após 15 anos preso.
Já empresário Frederico Müller Coutinho, que ousou concorrer com Arcanjo, é um dos delatores da Operação Sodoma, que investigou fraudes que resultaram na prisão do ex-governador Silval Barbosa. Müller trocava cheques no esquema e chegou a passar dinheiro para o então braço direito do ex-governador.
Durante as investigações, foi identificada uma acirrada disputa de espaço pelas organizações, havendo situações de extorsão mediante sequestro praticada com o objetivo de manter o controle da jogatina em algumas cidades.
Os investigadores também identificaram remessas de valores para o exterior, com o recolhimento de impostos para não levantar suspeitas das autoridades. Foram decretados os bloqueios de contas e investimentos em nome dos investigados, bem como houve o sequestro de ao menos três prédios vinculados aos crimes investigados.