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PERTO DO FIM? Secas e fogo destruíram metade das águas do Pantanal; perda é irreparável
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12/09/2021 - 21:59
Redação
Embora algumas iniciativas estejam em andamento para tentar salvar o que ainda resta do bioma pantaneiro, a realidade é que os períodos de estio (secas) estão se intensificando na região, além das queimadas que vão se tornando mais frequentes.
Não é de agora que vozes mais sensatas e abalizadas vêm alertando que a destruição total do Pantanal, se medidas urgentes não forem tomadas para conter sua devastação, pode ser um processo inexorável, inclusive a médio a prazo, infelizmente.
Secas e fogo levaram a que metade das águas panatneiras deixassem de existir e, dificilmente, retornarão ao nível de antes.
Exemplo: a seca alterou o sistema de cheias do Pantanal e a maior planície alagável do planeta não alagou este ano.
O bioma que ocupa uma área de mais de 150 mil km² em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul se ressente dos impactos negativos que alteram seu ciclo de vida.
A planície pantananeira, considerada a maior área inundável do mundo, tem também partes pequenas que abrangem teritórios da Bolívia e do Paraguai, onde é chamada de pantano e chaco, respect ivamente.
Efeito externo
Apesar de ser um imenso reservatório de água, o Pantanal não tem nascentes, por isso ele depende de rios que nascem fora do bioma e que estão cada vez mais assoreados e desprotegidos por causa do desmatamento.
Um desses cursos de água que é tributário da planície alagada é o rio Cuiabá, que tem nascentes em Mato Grosso e está fortemente impactado pelas agressões ambientais, com seu potencial hídrico seriamente degradado.
Destruição
Com as secas se prolomgando, o período de cheia está ficando mais curto e a temperatura média está subindo, formando uma combinação perigosa para o Pantanal, que resulta no fogo.
Tragédia
Em 2020, as chamas destruíram mais de 3 milhões de hectares do bioma, no que foi considerada a maior catástrofe ambiental que ele já sofreu. A devastação teve uma área maior do que a do estado de Alagoas.
Relatos
Angêla e Firmiano Caldas Neto vivem há 22 anos em um sítio em São Pedro de Joselândia, em Barão de Melgaço. Na área, eles mantêm um rebanho de 12 cabeças de gado, a principal fonte de renda da família. Alimentar os animais se tornou um desafio por causa da estiagem.
A região não tem alagado nos últimos 2 anos, fazendo com que o pasto fique completamente seco. O criador explica que assim faltam nutrientes para o gado e ele tem que gastar mais com ração.
A água que vem da rua só chega em dias intercalados e o poço que mantinha o abastecimento da casa secou. Como consequência, as plantações de banana, batata e mandioca do casal morreram.
Iniciativas
Para descobrir como lidar com esse novo ambiente afetado pelos incêndios, pesquisadores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) farão queimadas controladas e programadas para estudar a área.
A queima está sendo realizada em áreas do Pantanal, que têm cobertura vegetal e níveis de inundação diferentes. Os técnicos e pesquisadores observam o comportamento do fogo em condições climáticas variadas e o impacto na fauna e na flora.
Em MT, o experimento está sendo feito na reserva particular do Patrimônio Natural do Sesc, que fica em Barão de Melgaço. Quatro áreas foram selecionadas pela pesquisa, uma mantida intacta para comparação e nas outras 3 as queimadas controladas serão realizadas em períodos diferentes.
Os cientistas usam uma câmera multi-espectral, que capta informações como temperatura. Com isso, eles podem mapear e classificar o ambiente de cobertura vegetal antes e depois da queimada, explica Gustavo Nunes, coordenador do laboratório de sensoriamento remoto e geotecnologia da faculdade de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
A pesquisa é pioneira no Brasil, analisa a pesquisadora do ICMBio, Luane Lima. Ela diz que vão usar o DNA presente no solo para identificar os animais que passam nos locais antes de depois da queimada. A partir daí vai ser possível saber quais estão retornando para o habitat.
Outras linhas de pesquisa também estão em andamento. Felipe Arruda, do Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP) e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), instala armadilhas para identificar quais animais ainda circulam lá.
Ele comenta que coleta principalmente aranhas, formigas e besouros, que são bio-indicadores, ou seja, eles respondem rapidamente aos distúrbios, tanto ao fogo quanto à inundação.
Novas queimadas são agendadas para o período mais crítico da seca e para o início das chuvas. O resultado do estudo vai ajudar a definir políticas públicas de preservação do Pantanal.
Além da pesquisa, os cientistas conseguiram dinheiro com entidades parceiras para financiar as ações de prevenção ao fogo, como a compra de equipamentos. Em paralelo, moradores se organizam para montar uma brigada comunitária de combate a incêndios da região.