Gabriela Manssur, a promotora de justiça que empodera mulheres, revela: “Quero ser presidente da República”

Gabriela Manssur, a promotora de justiça que empodera mulheres, revela: “Quero ser presidente da República” promotora
Uol/ GlamuramaNo dia em que a lei Maria da Penha completa 12 anos, Glamurama traz a entrevista feita pela revista Joyce Pascowitch na edição de julho de 2018 com a promotora de Justiça, Gabriela Manssur, que luta pelos direitos das mulheres.À frente do blog Justiça de Saia, ela empodera mulheres, luta pela igualdade de direitos e, mais ainda, pelo fim da violência contra o sexo feminino. Gabriela Manssur é promotora de Justiça, militante e uma das maiores representantes das vítimas de agressões pelo Brasil – a cada 15 segundos, uma mulher sofre violência no nosso país pelo simples fato de ser mulher. Aqui, um papo sobre conquistas, batalhas diárias e revelações da nossa próxima presidente da República – é o desejo dela! Quem sabe, né?Por Fernanda Grilo para a revista Joyce Pascowitch – julho/2018J.P: Qual o maior engano em relação ao feminismo?   GABRIELA MANSSUR: Que sempre existe união entre todas as mulheres. Não é assim e precisamos avançar. Quando estamos juntas, somos imbatíveis. J.P: Como você se descobriu feminista?   GM: Quando precisei dele para viver, trabalhar e combater a violência contra as mulheres.J.P: O que fazer para sair de uma relação abusiva?   GM: Não esperando o primeiro tapa. Controle, ciúmes exagerado, xingamento e agressividade são sinais de relacionamento abusivo.J.P: Qual a grande diferença entre ciúme e paixão?   GM: Do ponto de vista penal, nenhuma. Em excesso, podem se transformar em controle, obsessão e crime. Não existe mais o crime passional.J.P: Rico também bate em mulher?   GM: Claro que sim. Bate, xinga, humilha e acha que não vai acontecer nada. Mas a lei é para todos, não tem classe social.J.P: E essa mulher denuncia?   GM: Elas têm mais vergonha e medo de represália: perda patrimonial, julgamento social e a relação com os filhos. O caso da Luiza Brunet, por exemplo, abriu muitas portas: elas estão denunciando muito mais.J.P: Estão mais na atitude do que no discurso?   GM: Sim! Veja o aumento de denúncias, a união das mulheres na internet, participação feminina no fundo partidário para as próximas eleições. Estamos organizadas e dispostas a conquistar o mundo.J.P: Você já recebeu alguma ameaça?   GM: São 15 anos de carreira, então já recebi algumas. Uma vez denunciei um réu por ele ter cortado o cabelo da namorada. Ele me ameaçou dizendo que ia cortar o meu também. Fiquei um mês andando de coque, com medo.J.P: Quais as conquistas do Justiça de Saia?   GM: Visibilidade à causa, voz para as mulheres e um canal de comunicação. Fui muito criticada no começo, era cafona falar sobre isso. Agora é chic.J.P: O que de positivo e de negativo acompanhou nestes anos de Ministério Público?   GM: Positivo: conscientização das autoridades sobre a gravidade da violência contra a mulher no Brasil. Negativo: ver que muitas mulheres ainda são julgadas pela sociedade.J.P: Qual a dica para as mulheres se libertarem das “regras da sociedade”? GM: Tenham seu próprio dinheiro, não dependam de ninguém.J.P: Femismo x feminismo.   GM: Preconceito x igualdade.J.P: O radicalismo atrapalha o feminismo? GM: Quando as próprias mulheres não se identificam com o feminis¬mo por causa do radicalismo, todas nós estamos perdendo.J.P: Quando deixa de ser feminismo?   GM: Quando há “guerra dos sexos”. O feminismo não está contra os homens, mas a favor das mulheres.J.P: Dado mais alarmante em relação à violência contra as mulheres?   GM: Ainda ouvir de muita gente que tudo isso é mimimi. Não é!J.P: Como fazer com que o empoderamento chegue até trans e negras?   GM: Com a inclusão, debate, cons¬trução de políticas públicas, para ocupar todos os espaços ao nosso lado. Você já parou para pensar quantas amigas negras tem?J.P: O que não sai da sua cabeça?   GM: Injustiças.J.P: Inspiração?   GM: Minha mãe. Guerreira, inde¬pendente, está sempre feliz e nem aí para a opinião dos outros.J.P: Momento que definiu sua vida…   GM: Quando me aceitei do jeito que sou e parei de tentar me transfor¬mar para agradar os outros. Minha vida decolou.J.P: Do que se arrepende?   GM: De não ter cultivado algumas amizades. Minha vida se resume ao trabalho, família e treinos de cor¬rida. Foi uma escolha, mas às vezes me sinto “sozinha de amigas”.J.P: Melhor conselho que já deu?   GM: Não faça com o outros o que não quer que façam com você.J.P: Melhor conselho que já ouviu?   GM: Respira.J.P: Quem gostaria de ser?   GM: Eu mesma, só que numa versão melhorada e como presidente da República. Amo o Brasil, amo trabalhar para sociedade e fazer a diferença na vida das pessoas.J.P: O que falta fazer na vida?   GM: Tudo o que estiver por vir. Estou só no começo.