Primeira senadora de MT destaca desafios e incentiva mulheres para a política

Primeira senadora de MT destaca desafios e incentiva mulheres para a política REPRODUÇÃO

Aos 80 anos, 60 deles dedicados à vida pública, transitando entre as salas de aulas, secretárias de governo, Assembleia Legislativa e Senado, a ex-senadora por Mato Grosso, Serys Slhessarenko, avalia sua trajetória política e desafios de ser mulher em cargo eletivo quando havia pouca representatividade feminina.

 

Longe das eleições há anos, ela, que foi a primeira senadora de Mato Grosso, afirma que não quer voltar à polícia, mas torce para que a filha concorra e estimula outras mulheres a também seguirem seus passos.

 

Formada em direito e pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), onde também foi professora. Serys ocupou o cargo de Secretária Municipal de Educação de Cuiabá, em 1986, e foi Secretária Estadual de Educação de Mato Grosso ainda naquela década.

 

Elegeu-se em 1990 deputada estadual, sendo reeleita duas vezes consecutivamente. Assim, ela esteve na ALMT entre 1991 e 2003. Foi eleita a primeira mulher senadora no estado de Mato Grosso em 2002, com votação recorde, numa disputa contra os ex-governadores Carlos Bezerra e Dante de Oliveira. Permaneceu no parlamento federal até 2011.


Em 2006 disputou o governo do Mato Grosso, obtendo o terceiro lugar com 11,5% dos votos. Nas eleições de 2010, tentou uma vaga na Câmara dos Deputados, mas, mesmo com 78.543 votos, a sexta maior votação, não foi eleita.

Tentou ser prefeita em 2016 e deputada federal em 2018, mas sem sucesso nas urnas.

 

Em décadas de política, ela já passou pelos partidos PV, PT, PTB, Republicanos e atualmente está no PSB.


GD– A senhora teve uma votação recorde e foi a primeira mulher senadora por Mato Grosso, a que atribui esse feito histórico?

Serys: A votação recorde foi consequência do meu trabalho. Eu só posso entender assim. Porque eu ia o tempo todo aos município, buscava as reivindicações, nada de clientelismo, porque eu falava: "Eu só faço o que é possível ser feito dentro da absoluta legalidade". Trabalhamos para dar asfalto ao Araguaia, levamos energia elétrica a 125 mil casas em zonas rurais, através do Luz para Todos, trabalhamos defendendo o meio ambiente. Existiam municípios de Mato Grosso que sequer tinham torres de celular, conseguimos implantar também. Foram muitos serviços.


GD– Enquanto mulher senadora, sentia "olhares tortos" no ambiente dominado por homens quando pouco se falava sobre representatividade feminina?
Serys: Olha, nacionalmente eu tive muitos enfrentamentos, porque mexia com assuntos do país inteiro. Mas preferido analisar um marco positivo, quando eu estava no último ano de mandato, eu encontrei uma equipe de reportagem de TV, que me disse: "E aí, o que a senhora tem a dizer sobre estar entre os 10 melhores senadores dessa legislatura e a única mulher? Eu falei, eu? Ela falou, é. E eu responde, o que eu posso te dizer?". Nossa, eu levei um susto, eu não sabia. A avaliação do mandato tinha os 10 melhores e de mulher era só eu. Fiz muitas coisas.

GD– Seu nome segue sendo lembrado pelos eleitores e, inclusive, citado pelo presidente Lula em visita ao estado. A senhora cogita um retorno à política?
Serys: Não. Eu gosto muito de política, mas me afastei há muito tempo e não cogito retorno. Tem outras pessoas surgindo, mas precisamos de pessoas sérias. Eu falo de política o dia inteiro. Eu brigo com o Trump o dia inteiro na televisão. Então, eu acho que isso aqui é muito do meu sangue. Eu amo política, mas eu acho que eu não sei mais fazer política como estão fazendo. Aquelas barbaridades que tão acontecendo, dos caras acharem que tão acima do bem e do mal, invadir a Câmara. O que é isso, gente? Sim. O que é isso? Tá virando um lixo.

 

GD– No ano passado, Mato Grosso registrou um aumento no número de mulheres eleitas, qual conselho a senhora daria para aquelas que se dispõe a entrar na política.
Serys: Tem que se dispor, ir buscar. Eu falava, no meu tempo, e parece que continua quase a mesma coisa. "O problema é que quando a gente tá na política, como mulher, a gente tem que ser espelho, se apresentar para as outras mulheres como exemplo". Olha, eu era chamada de "a mulher" na Câmara. Porque era aquela que brigava feito doida, entendeu? Que defendia todo mundo, que ia na frente, apanhava da polícia, levava murro de deputado, tudo acontecia, mas ia. Eu acho que começaram a surgir algumas prefeitas, vereadoras e agora aqui na capital quantas mulheres. Aquilo que eu sempre digo: não basta ser mulher, tem que ter princípios, verdades, defesa de princípios.

 

GD– Sua filha, médica Natasha Slhessarenko, está ensaiando uma candidatura ao governo. Esse projeto te agrada? Será uma apoiadora fiel no ano que vem?
Serys: Eu sou apoiadora fiel, mas acho que a situação é difícil, porque depois da puxada de tapete que deram, uma coisa mais feia que eu já vi na política [lembrando que em 2022 o PSB não lançou a médica como senadora, apesar dos rumores] e os caras estão aí, posando de bons meninos. E eu sempre falo: "Eu acho que é importante entrar na política. Você é uma empresária bem-sucedida, você tem cursos de especialização em direito financeiro e administrativo público na Fundação Getúlio Vargas, de dois anos". Ela tem conhecimento bastante grande. Agora, ela é um pouco diferenciada de mim, o que é muito bom, entendeu? Ela convive já com gente da idade dela, conversa com políticos, com pessoas da sociedade. Eu estou sentindo onde ando, as pessoas falando: "E a sua filha, e a sua filha. Eu falo talvez, talvez". Eu não posso fazer nenhuma afirmação, quem tem que fazer é ela. Ela tá pensando.