O DILEMA DE SELMA: Considerada “lavajatista” e sob pressão de Flávio Bolsonaro, senadora por MT admite debandar do PSL

O DILEMA DE SELMA: Considerada “lavajatista” e sob pressão de Flávio Bolsonaro, senadora por MT admite debandar do PSL selma100
RedaçãoA senadora por Mato Grosso, Selma Rosane de Arruda, eleita pelo PSL, “emparedada” por ameaça de ter que deixar o Senado em função da cassação do seu mandato pelo TRE-MT e, para piorar sua situação, ainda sofrendo pressão do senador Flávio Bolsonaro, do mesmo partido, que articula para que ela retire apoio da CPI chamada de “Lava –Toga”, que visa investigar membros do Poder Judiciário,  a ex-juíza admite em nota deixar a legenda bolsonarista.A possível debandada de Selma vem sendo atribuída ao movimento da cúpula do PSL, articulado pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), para abafar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado que tenha como foco ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)  e vem provocando um racha no partido.   DiscursoSegundo fontes políticas, o temor da senadora Juíza Selma é de continuar no PSL e perder o discurso de paladina da moralidade e do combate à corrupção com o qual se elegeu – o que pode ocorrer diante do “enterro” da CPI da Lava Toga, através de  gestões de Flávio Bolsonaro, o que equivale a dizer que por trás do senador estaria o clã Bolsonaro.´Por outro lado, segundo as mesmas fontes, esse “patrimônio” da ética e moralização na vida pública, a própria Selma já teria perdido quando foi cassada pela Justiça Eleitoral por crime de caixa 2 em sua tumultuada campanha eleitoral.   Número 01 Filho do presidente Jair Bolsonaro, Flávio é o único dos quatro senadores do PSL que não apenas não assinou a petição pela abertura da comissão como agiu para enterrá-la. Tanto no Congresso como no Palácio do Planalto as investigações da CPI são vistas como perigosas, com potencial para afetar a relação entre os Poderes. O presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), admitiu que Flávio foi chamado para convencer seus pares a retirar assinaturas do pedido de abertura da CPI. A preocupação é porque o objetivo da comissão é apurar o que parlamentares chamam de "ativismo judicial" de magistrados, incluindo ministros do Supremo. A crítica de senadores favoráveis à CPI é a de que a Corte muitas vezes toma decisões sobre assuntos ainda em discussão no Congresso, sobrepondo a atribuição dos parlamentares de legislar. Também questiona inquérito aberto pelo ministro Alexandre de Moraes para apurar ataques virtuais contra integrantes do tribunal. A CPI tem sido defendida principalmente por parlamentares classificados como "lavajatistas", que se elegeram com a bandeira do combate à corrupção. O Supremo se tornou alvo do grupo após atuar como um contraponto à operação e rever decisões tomadas em primeira instância. Ao ameaçar deixar o partido, a senadora Juíza Selma - magistrada aposentada, que foi eleita com a alcunha de "Moro de Saias" e hoje recorre da decisão que cassou seu mandato por uso de caixa 2 - apontou desavenças políticas. "A senadora Juíza Selma esclarece que, devido a divergências políticas internas, entre elas a pressão partidária pela derrubada da CPI da Lava Toga, está avaliando a possibilidade de não permanecer no PSL", disse, em nota.   Líder   O líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP), que na semana passada também já havia ameaçado deixar o partido, também se manifestou contra derrubar a CPI. "Não adianta pressão não porque vamos para cima", afirmou, em vídeo. Na postagem, ele convoca manifestação para o dia 25, na Praça dos Três Poderes, para pressionar senadores. A quarta integrante da bancada do PSL, Soraya Thronicke (MS), minimizou a ação partidária. "O Bivar e nenhum outro dirigente do partido nunca me pressionaram para nada", disse. Soraya assegurou que manterá seu apoio à comissão. Esta é a terceira tentativa para emplacar a CPI no Senado. As outras duas foram enterradas pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que já classificou a medida como inconstitucional. "Se há entendimento de que a comissão não pode investigar decisão judicial, como vou passar por cima disso?" Para sair do papel, a CPI precisa da assinatura de pelo menos 27 dos 81 senadores. Segundo o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), autor do requerimento de criação da comissão, o número já havia sido atingido, mas sua colega Maria do Carmo (DEM-SE) anunciou que vai retirar o nome da lista para atender a uma solicitação de Alcolumbre. O presidente do Senado negou ter pedido a retirada de assinaturas. Admitiu, porém, que tentou convencer parlamentares sobre seu posicionamento contrário à Lava Toga. Articulação A ação de Flávio para derrubar a CPI no Senado faz parte de uma estratégia para aparar arestas com o Supremo. Nas últimas semanas, o filho "01" do presidente iniciou uma aproximação até pouco tempo inimaginável entre o presidente da Corte, Dias Toffoli, com parlamentares do partido, incluindo um jantar conjunto no dia 21 de agosto. A deputada Carla Zambelli (PSL-SP), que já levou um boneco do presidente do STF a manifestações, não compareceu. Flávio vê Toffoli como uma autoridade que traz estabilidade para o cenário político. O ministro foi o autor da ordem para paralisar todas as investigações no País que utilizassem informações de órgãos de controle sem aval da Justiça. A decisão teve como base um pedido de Flávio. Toffoli apontou ilegalidade no compartilhamento dos dados do Coaf com o Ministério Público do Rio sem prévia autorização judicial. Flávio também tem mantido contato com o ministro do Supremo Gilmar Mendes, que já o recebeu em casa. Mendes é, na Corte, o principal crítico do que classifica como "abusos" da Lava Jato.  Cassação Em parecer enviado na terça-feira ao Tribunal Superior Eleitoral, a procuradora-geral Eleitoral, Raquel Dodge, manifestou-se pela execução imediata da decisão do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso que, por unanimidade, cassou o diploma da senadora Juíza Selma e de dois suplentes, e determinou a realização de novas eleições para o Senado no Estado. Selma, que é juíza de Direito aposentada, foi cassada por caixa 2 de R$ 1,2 milhão na campanha.