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Após ser humilhada aos gritos por filho de Bolsonaro, Selma Rosane não está “saindo” do PSL: é o PSL que “saiu” dela
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14/09/2019 - 19:51
selma
REDAÇÃO
Alegando se sentir constrangida e pressionada no PSL, para retirar o seu nome do pedido de CPI destinada a investigar o Judiciário, a senadora mato-grossense informa que na quarta-feira (18) estará se filiando no Podemos. A legenda é presidida no país pelo senador Álvaro Dias, do Paraná, que vem anunciando o crescimento do Podemos. O partido teria como meta disputar a presidência do Senado e se fortalecer nos Estados. A filiação da senadora Juíza Selma faria parte dessa estratégia de Àlvaro Dias.
Um outro senador do PSL, major Olímpio, de São Paulo, também vem manifestando descontentamento com o partido e não descarta deixar a sigla bolsonarista. O PSL possui quatro senadores e, caso se confirme a debandada do major Olímpio, a bancada ficará reduzida pela metade. perdendo espaço no Senado.
Principalmente, pelo protagonismo que Olímpio exerce (ao contrário da pacata Selma Rosane, que até agora não disse ao que veio), um dos senadores mais atuantes da Casa e que não teme criticar diretrizes com as quais não concorda, inclusive quando essas orientações emanam da cúpula do governo chefiado por Jair Bolsonaro.
Quanto a Selma Arruda, fustigada pela ameaça de ser desligada do Senado em função da cassação do seu mandato pelo TRE-MT e cujo processo está em fase final de julgamento no TSE, para onde ela recorreu, a senadora também enfrenta um "astral político" negativo por não ter contado com a solidariedade dos dirigentes nacionais do PSL no episódio da cassação do seu mandato.
A situação de Selma no PSL chegou ao ponto vexaminoso de ser destratada, aos gritos, por seu colega de partido, o também senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro. Esse fato mostra que ela não está "saíndo" do PSL: é o PSL que saiu dela!
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Além de ter repercutido mal entre congressistas do sexo feminino, a declaração da senadora Juíza Selma (PSL-MT) desagradou mulheres que se manifestaram nas redes sociais.
“A senadora errou ao generalizar que as ‘mulheres não gostam de política’, por criar uma imagem falsa que nós, mulheres, somos alienadas politicamente”, protesta Juliana Sanches Silva.
“Ela tenta nos medir pela régua dela! Que parece não entender nada de política, tanto assim que foi parar no PSL, um partido de extrema-direita e que tem um monte de pessoas preconceituosas”, reitera outra internauta, Francisca Matias, pedagoga..
No entanto, a Redação do Página Única conferiu comentários de mulheres que concordaram com a afirmação da senadora.
É o caso de Suzana Martins, para a qual a Juíza Selma pode ter sido ingênua ao fazer a declaração, mas foi sincera. “Realmente, mulher costuma não votar em mulher, fica “amarrada” nos votos dos homens de sua família e a grande maioria se comporta de forma alienada e distante das questões políticas”, fulmina Martins.
Para essa internauta, o erro de Selma é ter sido “ingênua”, ao fazer um comentário que acirrou críticas de uma parte atuante do universo das mulheres, que é representada pelo 'movimento feminista', "dominado pela esquerda", segundo ela, que se declarou bolsonarista.
Também no meio político e parlamentar, representantes femininas se mostraram contrárias ao que pensa a senadora.
Nesse aspecto, reportagem do jornal O Gliobo ouviu parlamenrtares que são mulheres e opinaram sobre a fala de Selma.
EXEMPLO: Feminista e engajada em projetos de direitos das mulheres, Sâmia Bomfim (PSOL-SP) diz discordar completamente de Selma. Para ela, mulheres gostam da política e querem ter mais espaço de participação, mas entraves na sociedade dificultariam a participação política feminina.
— O principal (entrave) está dentro de alguns partidos políticos, que não cumprem com a legislação de garantia de 30% de reserva de vagas e também do fundo eleitoral. E tem também a própria misoginia do presidente Jair Bolsonaro e de alguns de seus ministros, que sempre dão declarações machistas e que confrontam as mulheres — declara a deputada federal.
Ela menciona o fato de que até 2016 não havia banheiro feminino no plenário do Senado e diz que esses "elementos simbólicos e culturais expulsam as mulheres da política".
— Dizer que as mulheres não gostam da política é não assumir a culpa que alguns desses partidos, inclusive do PSL, têm na ausência de mulheres nos espaços de poder.
A deputada estadual Leticia Aguiar afirma que a frase da senadora é "muito forte", mas justifica que o tempo dedicado aos "afazeres pessoais" impedem as mulheres de procurar trabalhos que exijam delas muito tempo.
— Estou aqui hoje justamente porque eu gosto e entendo que a política é importante. Não é que elas não gostem de política. As mulheres são maioria no eleitorado, mas elas não estão votando nas candidatas mulheres ou porque talvez não se tenha uma participação boa de candidatas. Mas acho realmente é que temos que conquistar nossos espaços, e não pelo fato de ser mulher.
Letícia diz que a dedicação que a política exige é muito grande e isso acaba afastando as mulheres que precisam se dedicar às casas, famílias e filhos. Ela, no entanto, diz ser contra cotas para mulheres e que o espaço feminino na política deve ser conquistado por "merecimento e competência".
Colegas de Senado, Mara Gabrilli (PSDB-SP) discorda da posição de Selma. Para a senadora paulista a declaração de que "mulher não gosta de política" é um "pensamento sexista e equivocado". Mara defendeu a tipificação do crime de feminicídio e a adoção de cota mínima para candidatas nas eleições. Esse é um pensamento equivocado e sexista. É o mesmo que dizer que homem não pode, por exemplo, ser cuidador. Tem homem e mulher para tudo. O que precisamos é estimular, não desconstruir capacidades e potenciais-disse Mara.
Para a senadora tucana, a vocação para a política é inerente à mulher.
— Temos senso de governança porque é da nossa natureza conceber, cuidar, conduzir. Basta pensarmos que para cada político (homem) houve uma mulher que o educou. A vocação política de cada uma de nós, mulheres, só é canalizada em áreas diferentes – seja na esfera pública ou privada.