VIAGEM AO EXTERIOR: Com Mourão na presidência, Bolsonaro "pode ver a poeira abaixar" na crise com o seu partido

 VIAGEM AO EXTERIOR:  Com Mourão na presidência, Bolsonaro  MOURÃO10
RedaçãiA crise desgastante na principal base política e parlamentar do presidente Jair Bolsonaro, que espatifou com o seu partido, dividindo o PSL em duas alas – contra e a favor do presidente – pode esfriar e dar um “tempo” com a viagem de Bolsonaro ao continente asiático (Japão e China) e a países árabes,.  No lugar do presidente, durante os dias da estada do titular no exterior, que é visto por muitos como de temperamento “mercurial”, assume o vice, general Hamilton Mourão. Com ele, a expectativa é que a briga interna na legenda bolsonarista perca intensidade, o que faria com que a “poeira abaixasse”.Dando assim uma trégua a Bolsonaro para, na volta, ele fazer as mexidas na articulação política do governo, considerada fraca e vista como pivô de muitos descontentamentos.   Conforme reclamações persistentes das bancadas ruralista, evangélica e da bala. Esses três agrupamentos constituem o tripé de sustentação política e parlamentar de Jair Bolsonaro.Sobre o assunto, leia também análise do Página Única:“VÁLVULA DE ESCAPE": Viagem a China é providencial para Bolsonaro sair do “tiroteio” e das derrotas na crise deflagrada no PSL ANÁLISE POLÍTICAPor Mário Marques de AlmeidaApós usar discursos inflamados contra a China, maior comprador no mundo de produtos brasileiros, chegando a dizer durante a campanha e imediatamente após a posse que aquele país “estava comprando o Brasil”, o presidente Jair Bolsonaro embarcou neste sábado para o Japão e, depois, seguirá para China, com a promessa de que a visita visa estreitar as relações comerciais e diplomáticas com aquele país. Relacionamento pragmático, aliás,  construído em governos anteriores a ele e que, se dependesse da visão polarizada de Bolsonaro dividindo o mundo entre “esquerda e direita”, jamais teria ocorrido.Mesmo assim, embora com menor ênfase (também pudera! depois de tantos desacertos) o presidente segue levando na bagagem a retórica de que o entendimento com os chineses será pautado pelo respeito a “soberânia brasileira”, o que é uma questão óbvia e sempre foi observada nos acordos comerciais anteriores com aquele país.O que chama atenção é a insistência bolsonarista em um tema já batido e desgastado, desde que  a “Guerra Fria” acabou há mais de cinco décadas. O tom dessa “ladainha” sobre soberania sugere que a China ou quem quer que fosse representasse alguma a ameaça à soberania, quando quem considera o Brasil e, de quebra, as Américas do Sul e Central juntas como sua área histórica de influência são os Estados Unidos.A ida de Bolsonaro a China ocorre após o escândalo do vazamento de uma carta do governo dos EUA à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) em que propôs “convidar apenas a Argentina e a Romênia” para entrar na organização. O apoio de Trump ao ingresso do Brasil na OCDE havia sido alardeado como o grande resultado da visita de Bolsonaro a Washington em março.Mas, autoridades da área diplomática e de comércio exterior do governo Bolsonaro minimizam essa questão e dizem que o Brasil segue na fila de espera de ingressar na OCDE e que os dois países (Argentina e Romênia) estavam na frente para entrar na organização. O fato, no entanto, chegou a ser comparado, com certo exagero, é verdade, como um “amor de Bolsonaro por Tump não correspondido” pelo presidente dos Estados Unidos.Além dessas explanações acima, a viagem é providencial por servir de válvula de escape para o presidente sair do “tiroteio” deflagrado pela crise no seu partido, o PSL, que se dividiu em duas alas: a bolsonarista e a bivarista, que vem impondo derrotas ao clã Bolsonaro em disputas pelo comando da sigla, chegando ao ponto de expurgar dois de seus filhos (Eduardo e Flávio) de postos estratégicos na direção do partido.Confira, abaixo, trechos pinçados de material fornecido pela Agência Estado sobre a ida do presidente brasileiro a Ásia:O secretário de Comércio Exterior, Marcos Troyjo, disse ontem que a viagem do presidente Jair Bolsonaro para a China deve servir para discutir oportunidades que tornem a dinâmica comercial entre os dois países mais do que uma "relação de clientela". Ao sugerir que é equivocado dizer que há uma "parceria comercial" entre as duas nações, ele afirmou que não existe uma interdependência do Brasil com a China e que é preciso buscar uma relação "pragmática" desde que com "respeito à soberania".Segundo ele, o governo quer alcançar uma relação benéfica para os dois lados. "Queremos manter a soberania, queremos ser parceiros"."A China é o principal destino do investimento estrangeiro direto americano. Os EUA são o principal destino do investimento estrangeiro direto chinês. Se você quer usar o termo 'parceiro comercial', então os EUA são os principais parceiros comerciais da China e vice-versa. Há uma interdependência muito importante", disse Troyjo."Nós não temos tanta interdependência com a China atualmente. Temos uma relação comercial. É verdade que o investimento chinês no Brasil está aumentando, mas ainda há bastante a percorrer", disse.