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Diretor-geral da PF é exonerado por Bolsonaro a contragosto de Moro; ato abre nova crise entre presidente e ministro da Justiça
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23/04/2020 - 17:00
BOLSO
Redação
O presidente Jair Bolsonaro usou as redes sociais nesta sexta-feira, 24, para falar pela primeira vez sobre a exoneração de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal. A decisão da saída do agora ex-diretor foi oficializada no Diário Oficial da União (DOU) desta sexta. Pelo Twitter, Bolsonaro citou a Lei 13.047, de 2014, que reorganiza a carreira de policiais federais. O chefe do Executivo destacou o artigo da legislação que prevê que o cargo de diretor-geral da instituição é "nomeado pelo presidente da República".
A publicação de Bolsonaro pode ser entendida como um recado para o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que ameaça deixar o cargo caso não possa indicar o substituto para a vaga de Valeixo.
A divergência com o presidente deu início a mais uma crise no governo. Valeixo foi indicado por Moro e era um homem de confiança do ministro.
A publicação de hoje do DOU não traz o nome do substituto do diretor. A lei define que a indicação de um nome para o cargo seja feita pelo presidente, mas tradicionalmente a escolha tem sido feita pelo ministro da Justiça.
Segundo notícias veiculadas pela imprensa nacional, o ministro da Justiça não abre mão de indicar para o comando da PF um nome de sua estrita confiança, enquanto Bolsonao teria preferência por outra indicação para o cargo, fato que desagradou o ex-juiz federal e hoje ministro.
Sempre de acordo com o noticiário, generais que atuam como ministros de Bolsonaro, preocupados com uma eventual saída de Moro do governo e os desgastes decorrentes dessa decisão, estão em cena para acalmar os ânimos e buscar uma solução de consenso entre o presidente da República e o ministro da Justiça quanto à escolha do nome que será nomeado para dirigir a Polícia Federal.
Sobre o assunto, leia, abaixo, matéria inserida neste site no final da tarde de ontem (23) e quando era grande o rumor, em Brasília, sobre o desentendimento entre Moro e Bolsonaro a respeito de quem vai substituir Valeixo.
ANÁLISE POLÍTICA
POR MÁRIO MARQUES DE ALMEIDA
Caso se consume realmente a saída do ministro Sérgio Moro, da Justiça, do staff bolsonarista, conforme voltou a ser especulado nesta quinta-feira (23), em função de mais um dos vários desentendimentos entre o ex-juiz e o mandatário que vêm ocorrendo em menos de um ano e meio de governo, esse desenlace fatalmente – podem apostar suas fichas! – terá fortes implicações nas eleições de 2022, quando Bolsonaro pretende concorrer à reeleição.
Para observadores mais atentos da política nacional, a demissão do ex-juiz, pelo tamanho do racha que causará no cerne do chamado bolsonarismo, terá impacto maior do que aquele que seria representado pela união de todas as oposições juntas para enfrentar o capitão de plantão na presidência, na hipótese de que ele vá à reeleição.
Símbolo
Corroborando com essa avaliação, é oportuno lembrar que, antes das eleições e logo após a posse, Moro foi endeusado por Jair Bolsonaro como o verdadeiro “mito” da vida pública brasileira, ao ponto que até no seio de muitos bolsonaristas considerados de raíz, quem eles idolatram como “mito “- ou seja, o próprio Bolsonaro - seria uma figura menor diante do ícone da moralidade e da Lava Jato, ALGUÉM ACIMA DO BEM E DO MAL – Sérgio Moro.
Embora esteja sendo “frito” em fogo brando por Bolsonaro, Moro que, segundo pesquisas, teria uma aprovação maior que o presidente, há tempos deve estar sentindo sinais que a “frigideira” poderia esquentar para o seu lado, razão pela qual, talvez, tratou de se aquietar desde o início deste ano – e mais ainda agora com a crise do coronavírus - em seu quadrado ministerial, saindo de protagonismos e os holofotes.
Medida, quiçá, adotada pelo ex-paladino da Lava Jato para não eriçar mais os ânimos contra ele por parte do presidente mercurial e de reações imprevisíveis. Ou melhor, previsível, considerando que Bolsonaro sobrevive de alimentar o ambiente de tensão política e institucional no país.
Em que pese a turma do "deixa disso", a uma altura dessas, já ter entrado em campo para colocar os providenciais panos "quentes" na busca de serenar as coisas, existe o fato que o pivô de uma bastante provável demissão de Sérgio Moro, de acordo com fontes sérias, reside na insistência do presidente, mais uma vez, querer trocar o comando da Polícia Federal, atualmente ocupado pelo delegado Maurício Valeixo.
Resumo da ópera: Na hipótese de Bolsonaro exonerar Valeixo à revelia de Moro e este “engolir” em seco, ainda que resmungando, mas ficando em seu canto, cada vez mais espremido, na Esplanada dos Ministérios, estará de bom tamanho para Bolsonaro, cujo estilo é de sempre esticar a corda...
Em tempo: Valeixo foi escolhido por Moro para o cargo no início do ano passado. O delegado comandou a Diretoria de Combate do Crime Organizado (Dicor) da PF e foi Superintendente da corporação no Paraná, responsável pela Lava Jato, até ser convidado pelo ministro, ex-juiz da Operação, para assumir a diretoria-geral.