QUEDA DE BRAÇO: Antes de Bolsonaro ameaçar cassar emissora, presidente na ditadura tentou cancelar concessão da Globo

 QUEDA DE BRAÇO: Antes de Bolsonaro ameaçar cassar emissora, presidente na ditadura tentou cancelar concessão da Globo
Blog Sala de TV Briga de Roberto Marinho com general Figueiredo fez o canal romper alinhamento com o governo militar e sofrer pressão ao cobrir as Diretas Já  Se quiser suspender a concessão da Globo, Bolsonaro precisa do apoio de dois quintos da Câmara e do SenadoA novela sobre a concessão pública da TV Globo segue sem previsão de data para o último capítulo. Jair Bolsonaro se mantém calado. “Vai ter que estar direitinho a contabilidade para que possa ser renovada. Se não estiver tudo certo, não renovo”, avisou em abril de 2020. A licença atual de funcionamento, assinada por Lula em 2008 (retroativa a 2007) com validade de 15 anos, expira em 5 de outubro de 2022. É da competência do presidente da República renovar ou não, e seja qual for a decisão, precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional. Não é a primeira vez que a Globo se vê sob ameaça de perder a autorização estatal para funcionar. Em 1984, o general João Figueiredo, último presidente do regime militar, cogitou cassar a concessão se a emissora fizesse cobertura positiva das Diretas Já, movimento político com adesão popular de reivindicação de eleições diretas para presidente. “Ameaçaram tirar o canal do dr. Roberto Marinho”, relatou o então ex-vice presidente da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, à ‘Folha de S. Paulo’. Ele foi questionado pelo jornal sobre quem fez a ameaça. “O general Figueiredo”, respondeu. “O dr. Roberto brigou com ele quando ele dividiu a TV Tupi em duas redes para concorrer com a Globo: a Manchete e o SBT”, contou. Apoiador do regime militar, Roberto Marinho decidiu descolar sua rede de TV do governo após o desentendimento. Irritado, o general Figueiredo não queria que o mais influente canal do País transmitisse ao vivo o comício histórico de 25 de janeiro de 1984, em São Paulo, em defesa da emenda ‘Dante de Oliveira’, que propunha o restabelecimento das eleições diretas. “Foi montado na sala do Roberto Irineu (Marinho, filho mais velho de Roberto Marinho) um esquema para controlar se o discurso fosse muito pesado”, lembrou Boni, que ocupou cargos de direção na Globo de 1967 a 1997. Disse ainda que a emissora era “pressionada por pessoas do governo”. A emenda das eleições diretas não passou no Congresso. O general Figueiredo deixou a Presidência em 15 de março de 1985, quando José Sarney, vice de Tancredo Neves (impedido de tomar posse por estar doente), assumiu o poder após eleição indireta entre os parlamentares. Em 1989, a Globo ajudou Fernando Collor contra Lula na primeira eleição direta após o fim da ditadura. Em entrevista ao ‘Morning Show’ da rádio Jovem Pan em 2016, Boni admitiu a interferência da emissora na campanha. “Eu fui responsável pela preparação dele (Collor)”, afirmou o executivo. “O dr. Roberto Marinho me pediu para ajudar nesse sentido. Ele acreditava no Collor.” Mais notícia sobre o assunto O portal Diário do Centro do Mundo publicou na segunda-feira (15) que Jair Bolsonaro “vai barrar nova concessão da Globo em 2022 De acordo com texto assinado pelo editor Daniel César, o presidente sequer levaria em consideração os documentos obrigatórios que a emissora precisa apresentar ao governo no processo de renovação. A reportagem do DCM ouviu um parlamentar da tropa bolsonarista. “No que depender dele, a Globo termina em 2023”, disse a fonte mantida no anonimato. O Sala de TV acompanha esse clima bélico desde 2019, quando o presidente sinalizou pela primeira vez a possibilidade de não dar autorização para a rede carioca continuar a funcionar. A concessão atual expira em 5 de outubro do ano que vem. Teoricamente, o chefe do Executivo pode negar, suspender ou cancelar uma concessão na ‘canetada’. Mas a decisão precisa ser confirmada pelo Congresso. No caso da Globo, isso dificilmente aconteceria. A emissora possui relevante influência política em todos os estados e vários parlamentares são donos de afiliadas e retransmissoras. Os políticos que comandam Brasília não se colocariam contra a gigantesca vitrine que é a Globo justamente em um ano eleitoral, com a propaganda na televisão vista como imprescindível para os candidatos e os partidos. Ainda que os parlamentares viessem a ratificar tal decisão de Bolsonaro, a TV da família Marinho poderia judicializar a questão. Não sairia do ar até o julgamento definitivo da questão. Ao longo da história brasileira, poucas emissoras perderam a concessão. Dois casos merecem destaque. Em 1970, a TV Excelsior foi extinta após uma série de desentendimentos com o governo militar. Dez anos depois, a TV Tupi teve a concessão cassada por não apresentar condições financeiras de continuar a operar.