"UNHA E CARNE": Antes aliados vistos como "inseparáveis", Sergio Moro e Jair Bolsonaro disputam o mesmo espaço político na direita e trocam acusações 

REDAÇÃO O ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça Sergio Moro era aliado do tipo "unha e carne"  de Jair Bolsonaro, mas a disputa do mesmo espaço político na direita e extrema-direita levou-os a que se tornassem rivais. Coisa bem típica da sede de poder que move ambos. Nessa toada, os dois caminham para ser derrotados abraçados. Eles se merecem! Segundo Moro, "todo mundo sabe quem é quem nessa história", defendeu-se o presidenciável sobre as acusações feitas pelo presidente em live na rede social e na qual Bolsonaro, entre outras esculhambações, chamou o ex-aliado de "mentiroso". Já o ex-ministro da Justiça reforçou a acusação de que o chefe do Executivo teria comemorado a saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da prisão e defendeu, citando seu compromisso com a população brasileira, o restabelecimento da execução em segunda instância no País. "Não quero entrar em briguinhas, ofender, mas todo mundo sabe quem é quem nessa história e quem defende as coisas certas", disse Moro, em entrevista na manhã desta sexta-feira (3) à Rádio Jornal do Comércio do Recife. Ao ser chamado por Bolsonaro de mentiroso e sem caráter, o ex-juiz afirmou que não vai fazer acusações pessoais. Para ele, focar em xingamentos e não em programas políticos é "menosprezar a inteligência da população brasileira".  Em tom pacificador e com foco em pregar a convergência entre os políticos, distanciando-se da postura de Bolsonaro, Moro diz que não quer transformar uma discussão sobre o País em brigas pessoais. "Não vamos agredir as pessoas, não vamos ofender as pessoas, por mais que a gente discorde delas." O ex-ministro manteve as acusações de que Bolsonaro teria comemorado a soltura de Lula e que um ministro do governo teria conversado com ele, a mando de Bolsonaro, para que não se trabalhasse para a execução em segunda instância. Sem citar nomes, Moro afirmou que, se o ministro não tiver a intenção de mentir para defender o presidente, não irá negar o relato. Além disso, ele também cobrou que se questione Bolsonaro sobre o episódio: "Pergunte hoje ao presidente se ele defende a aprovação da emenda constitucional que restabelece a execução em segunda instância e se o governo dele vai trabalhar para aprovar. Ou se ele vai de novo se omitir e comemorar quando criminosos são colocados na rua", declarou. "É absolutamente necessário que a CCJ aprove a execução em segunda instância, e depois o Plenário, e depois o Senado. Essa é uma pauta fundamental para o País, não para mim, esqueça as eleições, isso é importante para o País, é uma conquista civilizatória", disse. Moro manteve seu discurso de construção de um governo transparente, verdadeiro e baseado no diálogo, e reforçou que tal projeto se difere dos governos petistas e da atual gestão Bolsonaro. Ao se dizer disposto tanto no combate à corrupção quanto na luta pela não disseminação de fake news e pela liberdade de imprensa, Moro se diz com o compromisso de "sempre falar a verdade". "Não acredito que nós precisamos sacrificar ética para construir boa política, e não acredito que os brasileiros queiram isso", afirmou.  Barbosa Em meio às especulações da construção de uma chapa para a Presidência da República em 2022, Moro admitiu ter procurado o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. Segundo Moro, eles estão conversando, mas o ex-juiz ponderou que "ainda é muito cedo para essas questões de posições, de eventual candidatura". Na visão de Moro, Barbosa é um "grande quadro brasileiro". Ele disse ter procurado o jurista para ouvir suas ideias para o Brasil. "Temos que trazer para esse projeto, seja para participar ativamente, ou seja para colaborar para o projeto, os melhores quadros do País", declarou o ex-juiz, na entrevista. "Ele é uma grande figura da história brasileira, mas estamos ainda conversando", despistando sobre uma provável chapa presidencial entre ambos. "Acho que o ministro Joaquim Barbosa tem condições de ser o que ele quiser para o País, porque ele é um quadro de absoluta qualidade", disse, tecendo elogios ao ex-ministro. Questionado sobre seu posicionamento em um possível segundo turno entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, Moro afirmou que o "eleitor vai ter outras alternativas". "Não acredito que o futuro do Brasil seja tão trágico", disse. "O brasileiro não pode ser forçado a escolher entre um governo no qual houve os dois maiores casos de corrupção da história e que acabou em corrupção e o governo atual da 'rachadinha' e de nova recessão", afirmou.