Governo de MT vai ao STF contra decreto de Lula que amplia Terra Indígena Manoki

Governo de MT vai ao STF contra decreto de Lula que amplia Terra Indígena Manoki Fellipe Sampaio/STF

O Governo de Mato Grosso acionou o Supremo Tribunal Federal para suspender os efeitos do decreto presidencial que amplia a Terra Indígena Manoki, em Brasnorte, de aproximadamente 46 mil para 252 mil hectares. A medida, segundo o Estado, é inconstitucional e provoca insegurança jurídica em toda a região.

O pedido foi protocolado nesta semana dentro da Ação Declaratória de Constitucionalidade nº 87, que está sob relatoria do ministro Gilmar Mendes. Na petição, a Procuradoria-Geral do Estado afirma que o decreto editado pelo presidente Lula afronta diretamente a Lei 14.701/2023, responsável por definir o marco temporal.

Para o governo, a ampliação desrespeita o artigo 13 da legislação, que proíbe a expansão de terras indígenas já homologadas. A PGE sustenta ainda que não há comprovação de ocupação indígena na área até 5 de outubro de 1988, data utilizada como referência legal no reconhecimento dos territórios tradicionais.

O Estado argumenta que registros históricos e jurídicos comprovam que a área ampliada passou a ser ocupada por famílias não indígenas desde a década de 1950, com pleno conhecimento do poder público. De acordo com a ação, não existem vestígios materiais, indícios culturais ou documentos que indiquem presença indígena na área durante o período exigido.

Outro ponto levantado pelo governo é o impacto fundiário provocado pela ampliação. A PGE afirma que a medida atinge centenas de produtores rurais e famílias com títulos legítimos, Cadastros Ambientais Rurais ativos e até decisões judiciais reconhecendo ocupação regular. Para o Estado, o decreto “desestrutura a malha fundiária e instaura o caos jurídico”, ao penalizar moradores e produtores que, segundo a ação, sempre atuaram dentro da lei.

O governo também critica a falta de diálogo com o município de Brasnorte e com o próprio Estado, afirmando que não houve consulta formal apesar do impacto direto sobre as administrações locais.

O governador Mauro Mendes disse que a ação não busca contestar direitos históricos das comunidades indígenas, mas sim evitar o que considera um avanço ilegal do governo federal sobre áreas produtivas consolidadas.

“Não aceitaremos que um decreto presidencial, editado sem respaldo legal, cause prejuízos a quem vive e produz há décadas nessas regiões”, declarou.

Atualmente, Mato Grosso possui 73 terras indígenas demarcadas, que juntas somam mais de 15 milhões de hectares, o equivalente a 16% do território estadual. Mendes reforça que o Estado respeita os povos indígenas, mas cobra que qualquer ato de ampliação siga o que determina a Constituição.

“Defendemos o meio ambiente, respeitamos as comunidades indígenas, mas tudo precisa ser feito dentro da lei. A Constituição não pode ser ignorada para atender interesses ideológicos”, concluiu o governador.