RELAÇÕES PERIGOSAS: Investigados e processados por trabalho escravo e crimes ambientais estão entre os principais doadores da campanha de Bolsonaro

RELAÇÕES PERIGOSAS: Investigados e processados por trabalho escravo e crimes ambientais estão entre os principais doadores da campanha de Bolsonaro
*Redação Na reta final do período eleitoral, Jair Bolsonaro (PL) soma mais de R$85 milhões de doações feitas por pessoas físicas para sua campanha, com uma alavancada de arrecadações de mais de R$60 milhões após o primeiro turno. Ao longo da corrida eleitoral, entre os seus principais doadores, há nomes de fazendeiros, empresários ligados ao setor do agronegócio, além de pessoas já multadas e investigadas por crimes ambientais e por trabalho escravo. Segundo dados obtidos em setembro deste ano pelo projeto Data Fixers, em parceria com a agência Fiquem Sabendo, e a análise publicada pelo InfoAmazonia, só no primeiro turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu mais de R$3,1 milhões em doações de campanha de 93 infratores ambientais, como o sojicultor Oscar Cervi e o pecuarista Celso Bala. A análise revela que esses 93 doadores foram multados em mais de R$ 300 milhões por crimes ambientais entre 2005 e 2022, o que fez com que Bolsonaro fosse o candidato que mais recebeu recursos de pessoas autuadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). De acordo com Ana Paula Prates, diretora de políticas públicas do Instituto Talanoa - entidade dedicada à política climática -, a doação de pessoas envolvidas em multas ambientais para Bolsonaro é um indicativo sobre a política atualmente em curso. Como já noticiado anteriormente pela Alma Preta Jornalismo, desde o início de seu mandato, Bolsonaro apoia uma política de redução da atuação de órgãos ambientais, como o Ibama e o ICMBio. Seu mandato foi marcado pela redução orçamentária dessas entidades, o que afeta os processos de fiscalização e defesa do meio ambiente e de comunidades tradicionais e originárias. “Desde o início do governo, a gente vem observando o avanço na questão da violência. Há não só uma intrusão das terras indígenas e de outras áreas tradicionais com garimpo legal e com o desmatamento, mas principalmente há a questão da violência sobre os povos originários. O avanço da criminalidade nessas áreas foi muito normalizado por esse governo e estimulado”, ressalta a diretora de políticas públicas do Instituto Talanoa. “A doação desses doadores demonstra que o crime compensa e que para eles vale a pena continuar com esse tipo de governo”, explica Ana Paula Prates. Segundo ela, as doações recebidas por Bolsonaro de pessoas envolvidas em crimes ambientais também indicam um possível maior avanço criminal nas políticas ambientais em uma reeleição. “O próprio Bolsonaro já esteve envolvido em multa ambiental”, lembra Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima. “Ele teve a multa dele arquivada depois de muita pressão e perseguição contra o fiscal que multou ele por pesca ilegal. Há também o levantamento que revela que o Bolsonaro ganha em termos de votação nas cidades que mais desmatam a Amazônia”, explica o secretário executivo. Segundo ele, Bolsonaro inovou no Brasil, não no sentido de inventar o crime ambiental, que sempre existiu, sobretudo na Amazônia, mas em colocar o crime ambiental dentro do governo dele, no gabinete da Presidência da República e nos Ministérios. “A agenda de clima, de direitos humanos e indígena são agendas de responsabilidade, cuidado coletivo, direito social e isso, nesse governo, não vai ter espaço. Na verdade, essas agendas atrapalham [esse governo]”, explica Marcio Astrini. Ele complementa que, pensando nos acordos internacionais assumidos pelo Brasil sobre a questão climática, o Brasil está contra os esforços globais de poluir menos o planeta. “Existem projeções de que o Brasil pode aumentar as suas emissões até o ano de 2030, ainda na trajetória do que o governo Bolsonaro apresenta hoje. Então a gente teria uma situação em que o Brasil isoladamente representaria um risco pra questão do clima no mundo inteiro por conta do aumento de emissões”, acrescenta. Confira abaixo quem são alguns dos doadores para a campanha de Jair Bolsonaro que estão envolvidos em multas e investigações por crimes ambientais ou em suas propriedades. Celso Bala Celso Gomes dos Santos, conhecido como Celso Bala, é o 21° no ranking de doadores de Jair Bolsonaro, com uma doação de R$500 mil contabilizada em 1 de setembro. Ele foi um dos primeiros doadores da campanha de Bolsonaro. Celso é pecuarista em Rondonópolis e Alta Floresta, em Mato Grosso, e considerado o "Rei do Gado” na região. De acordo com análise do InfoAmazonia e dados do projeto Data Fixers, em parceria com a Fiquem Sabendo, o fazendeiro tem quatro registros de infrações por desmatamento e armazenamento irregular de agrotóxicos em Alta Floresta (RO) e Nova Monte Verde (MT). As multas, aplicadas em 2014 e 2020, somam R$ 552 mil e os processos aguardam julgamento. Em Nova Monte Verde, as multas foram aplicadas por conta do armazenamento de produtos nocivos à saúde humana e ao meio ambiente em desacordo com as exigências legais na propriedade Fazenda Agrocondor I.  * Com informações do JB e Alma Preta jornalismo.