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Ministro do TCU que já foi acusado de se locupletar em empreiteira vinha espalhando comentários com estímulos a golpes contra Lula
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27/11/2022 - 07:18
Ministro Augusto Nardes, do TCU. Foto: Reprodução arquivo internet e redes sociais
Por Mário Marques de Almeida, da Redação
O ministro Augusto Nardes é figurinha manjada nos meandros da corrupção e do golpismo brasileiro. Ele já foi alvo de operação, em 2018, determinada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), após ser acusado em delação premiada de ter feito parte do esquema do empreiteiro Fernando Cavendish e a empreiteira Delta, pivôs do megaescândalo que culminou com a prisão do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que segue na cadeia até hoje.
Agora, Augusto Nardes, apoiador assumido de Bolsonaro e bolsonarista de carteirinha, volta a protagonizar no banditismo político através de um áudio enviado a amigos do agronegócio, no qual insinuou que há um “movimento muito forte nas casernas” de consequências “imprevisíveis” que dará ao presidente “condições de enfrentar o que vai acontecer no país”
Com a repercussão negativa do caso e o risco de surgir notícias sobre o seu envolvimento anterior em maracutaias do esquema Fernando Cavendish – Sérgio Cabral, Nardes colocou o rabo entre as pernas, saiu de “fininho” e se licenciou do TCU com a justificativa que estava saindo por “licença médica”. O que, aliás, é um expediente maroto de poderosos flagrados em crimes.
No entanto, o episódio deve ter desdobramentos, haja vista que vários parlamentares federais estão acionando os poderes para investigar Nardes.
Entenda melhor o caso
Em gravação, compartilhada em um grupo no WhatsApp com amigos do agronegócio, o ministro insufla os ânimos antidemocráticos dos financiadores de atos em rodovias e em frente a quartéis, ao afirmar que “está acontecendo um movimento muito forte nas casernas” brasileiras. E que “é questão de horas, dias, no máximo uma semana, duas, talvez menos do que isso” para um “desenlace bastante forte na nação, de (consequências) imprevisíveis”, diz ele.
Fazendo segredos, Nardes acrescenta que não pode dar mais detalhes do que sabe sobre o “desenlace” para os amigos. “Eu não posso falar muito. Sim, tenho muitas informações, queria passar para ti, para o teu time do agro, que eu conheço todos os líderes”. Em outro momento do áudio, o ministro afirma também que o movimento “dará condições” ao mandatário derrotado de “enfrentar o que vai acontecer no país”, completa ele, que diz ainda ter conversado “longamente com o time do Bolsonaro essa semana”.
Como era de se esperar, as declarações foram repudiadas por parlamentares aliados ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e repercutiram negativamente junto aos demais ministros do TCU.
Confira as reações
O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) anunciou em sua conta no Twitter que apresentará um requerimento para que Nardes seja convocado a dar explicações ao Congresso.
“É inadmissível a participação de um ministro do TCU em conspiração golpista! As falas de Augusto Nardes são absolutamente incompatíveis com a Constituição Federal, violam as liberdades democráticas, desrespeitam o resultado das urnas e é urgente que o ministro vá ao Plenário da Câmara dos Deputados se explicar pelas falas golpistas.”, disse a deputada Fernanda Melchionna (Psol-RS).
O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), que chamou Nardes de “raposa experiente e perigosa”. “(Augusto Nardes) foi decisivo no golpe contra Dilma, uma mulher honesta que foi vítima de um esquema perverso. Aproximou-se muito de Bolsonaro e sua família e hoje é da cozinha do clã. Estabelece relações com o que de pior o agro e as Forças Armadas têm e custo a acreditar em sua ‘ingenuidade'”, diz o parlamentar.
“O áudio vazado é gravíssimo e não pode ficar impune. A sensação de impunidade alimenta monstros e faz de covardes pessoas perigosas. Suas movimentações são por interesses que sequer imaginamos. Mas uma coisa é certa: poder, privilégios, dinheiro e proteção aos seus crimes são alguns”, escreveu Pimenta.
Já o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) anunciou que o ministro do TCU será convocado nesta segunda a dar explicações no Senado. “Golpista e asseclas não conspirarão impunemente contra a democracia brasileira”, garantiu.
Por outro lado, reportagem do portal Metrópoles identificou que os ministros do tribunal dizem estar “constrangidos” com as declarações de cunho golpista do colega. Eles estariam aconselhando Nardes a se retratar para evitar o risco de ser enquadrado no artigo 359º da nova Lei de Segurança Nacional (LSN). A legislação prevê pena de quatro a oito anos de reclusão a quem “tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais”.
Os ministros do TCU também citam que Nardes pode ter infringido também o artigo 35º da Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman). A medida trata como dever do magistrado manter conduta irrepreensível na vida pública e particular.
O que diz Augusto Nardes
Percebendo a enrascada em que entrou, Nardes negou no mesmo grupo de WhatsApp que suas declarações visavam “incitar qualquer conduta que possa ser caracterizada como atentatória às instituições ou ao Estado e a Ordem Política Social”.
Questionado pela coluna Painel, do jornal Folha de S.Paulo, sobre o movimento nas casernas citado, o ministro bolsonarista afirmou que se referia aos atos de apoiadores do presidente derrotado em frente a comandos militares. E não a um movimento, segundo ele, dentro das Forças Armadas. Ele alegou também reconhecer a vitória de Lula. E disse que pretende procurar pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e o coordenador do Gabinete de Transição, Aloizio Mercadante, oara conversar sobre “governança”.
“Não estimulei e jamais estimularia atos violentos contras as instituições. Minha fala, que foi postada em grupo privado e restrito de mensagens, apenas compartilhou informações e externou minha percepção sobre fatos e acontecimentos em curso, dos quais não tenho qualquer domínio ou responsabilidade”, tentou se esquivar Augusto Nardes na postagem.