Em posse de mapa de cidades onde Lula venceu Bolsonaro com folga no 1º turno, ex-ministro da Justiça é suspeito de interferir para PRF retardar transporte de eleitores no segundo turno na Bahia

Em posse de mapa de cidades onde Lula venceu Bolsonaro com folga no 1º turno, ex-ministro da Justiça é suspeito de interferir para PRF retardar transporte de eleitores no segundo turno na Bahia
Redação, com CNN Reprodução: Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, delegado Anderson Torres, que se encontra preso por ordem do STF A Polícia Federal também suspeita que Torres tenha dado orientações à Polícia Rodoviária Federal (PRF) para dificultar a chegada dos eleitores de Lula às seções eleitorais no dia da votação, quando aconteceram diversas blitzes, principalmente na região Nordeste do País. A ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar, disse à Polícia Federal que entregou uma planilha impressa com o mapa de votação de Lula e Bolsonaro, por município, a Anderson Torres, revela a íntegra do depoimento, obtido pela CNN. Torres, que foi ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL) e também ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, está preso desde o início do ano, sob suspeita de omissão na ocasião da depredação dos prédios dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro. A Polícia Federal também suspeita que Torres tenha dado orientações à Polícia Rodoviária Federal (PRF) para dificultar a chegada dos eleitores de Lula às seções eleitorais no dia da votação, quando aconteceram diversas blitzes, principalmente na região Nordeste do País.  Segundo ela, o objetivo era apurar “um indicativo de compra de voto”. A ex-diretora conta que pediu que a planilha fosse “extraída, impressa e entregue” e afirma que apresentou o documento a Torres “numa reunião na qual também estavam presentes outros servidores”. Marília nega ter repassado os dados para a PRF e diz não ter conhecimento se o ex-ministro o fez. E que também acredita que Torres ficou com a planilha, que eram “páginas envolvendo ambos os candidatos”. Sobre ter apagado o documento dos servidores do ministério, ela dá a sua versão: “Que, por não se transformar em produto da DINT (diretoria de inteligência), acredita que esse BI (boletim de inteligência) sequer subiu para o report server do Ministério da Justiça e deveria ser apagado, como outro que servisse apenas como ferramenta interna de análise de dados”, diz trecho do depoimento. A servidora também se referiu a outro boletim de inteligência que teria sido preparado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) com os efetivos policiais em cada região. Ela diz acreditar que a planilha tenha sido elaborada para “solicitar recursos para as diárias” e verificar “se o efetivo estava bem distribuído”. Também afirma que os dois boletins de inteligência — mapas de votação e efetivos da PRF — “não tinham relação”. Segundo a defesa de Torres, “não houve ‘determinação’ para atuação conjunta entre PF e PRF”. “Marília apresentou o mapa ao Anderson, que não o compartilhou com a PRF, nem, tampouco, com o superintendente da BA. Anderson jamais interferiu nos planejamentos operacionais da PF/PRF (blitzes, abordagens, etc). A única preocupação de Anderson era o combate aos crimes eleitorais, independentemente de candidato ou partido”, explicou Eumar Novacki, advogado do ex-ministro. Procurada pela CNN, a ex-diretora Marília pediu que a reportagem procurasse o advogado dela, que não respondeu. Confira abaixo trechos do depoimento:“Que a declarante solicitou, com base no BI anteriormente mencionado, ao servidor CLEBSON FERREIRA DE PAULA VIEIRA que confeccionasse um BI com o resultado das eleições, mencionando os resultados nos quais cada um dos dois candidatos à Presidente da República tiveram mais do que 75% dos votos no primeiro turno, confrontando com os partidos políticos dos respectivos prefeitos de cada município do Brasil inteiro, o que poderia caracterizar indicativo de compra de voto a depender do informe recebido”. “Que solicitou que a planilha fosse extraída, impressa e entregue à DECLARANTE: Que apresentou a planilha ao ministro Anderson Torres em reunião na qual também estavam presentes outros servidores da SEOPI, tendo explicado o intuito das análises (…) Que a declarante afirma não ter passado, de forma alguma, tais dados para a PRF ou mesmo para quaisquer pessoas fora as que estavam presentes na reunião em questão. Que não sabe dizer se o ex-ministro Anderson Torres repassou as informações em questão para a PRF (…) Que acredita que o ex-ministro ficou com a planilha, que eram várias páginas envolvendo ambos os candidatos. Que, por não se transformar em produto da DINT, acredita que esse BI sequer subiu para o report server do MJSP e deveria ser apagado, assim como qualquer outro que servisse apenas como ferramenta interna de análise de dados”. “Que com relação ao BI das UOPs da PRF, a declarante afirma que as informações em questão foram apresentadas diretamente pela PRF à SEOPI e se referiam apenas à localização das unidades operacionais já existentes de forma fixa (…) Que a planilha foi apresentada em um plano de trabalho das eleições, sendo que acredita que os dados da PRF tinham o intuito de solicitar recursos para custear as diárias (…) Que a justificativa do ministro para solicitar as informações das polícias seria para visualizar se o efetivo estava bem distribuído nos Estados brasileiros e se o planejamento estava sendo eficaz (…) Que os BIs não tinham relação um com o outro”.