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Abin apontou ligação de grupos neonazistas com apoiadores golpistas de Bolsonaro
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30/08/2023 - 21:43
Relatório da Agência Brasileira de Inteligência mostra como grupos neonazistas do Telegram embarcaram no movimento golpista após vitória de Lula
Redação, com informações de Gabriel Mansur - JB
Bolsonaristas de grupos de extrema-direita, adpetos do nazi-fascismo fazendo saudação nazista em ato pró-Bolsonaro em SCFoto: Reprodução
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin), ainda sob o comando do general Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), monitorou grupos que difundiram conteúdos neonazistas e supremacistas brancos para centenas de pessoas no Telegram.
O informe, produzido nos dias 25 de novembro e 1º de dezembro de 2022, após a derrota do então presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições, mostra como núcleos extremistas embarcaram no movimento golpista para causar instabilidade institucional. De acordo com a Abin, cinco comunidades do Telegram reuniram cerca de 2.800 membros para fomentar "narrativas de deslegitimação" das instituições.
"Alguns grupos neonazistas demonstram interesse em associar narrativas supremacistas a movimentos de contestação dos resultados eleitorais e adotam discursos que dialogam com pautas de outros movimentos para recrutar novos adeptos e promover ações violentas contra autoridades, instituições e agrupamentos antagônicos", diz um dos relatórios revelados em reportagem do jornalista Eduardo Gonçalves, do jornal O Globo.
A Abin aponta que as células neonazistas e extremistas tiveram um aumento de engajamento após a eleição presidencial.
“Até o pleito eleitoral de 2022, não se identificava histórico de envolvimento sistemático de grupos supremacistas e neonazistas com pautas políticas ou manifestações. Apesar disso, em monitoramento de grupos virtuais utilizados para disseminação de conteúdo supremacista na conjuntura eleitoral, observou-se aumento da interação e da visualização”, diz trecho do relatório.
O relatório mostrava nazistas apoiando os bloqueios que os caminhoneiros bolsonaristas fizeram em diversas rodovias federais após a derrota do ex-capitão para o presidente Lula (PT).
“O que está acontecendo pode mudar tudo. Precisamos nos unir para aproveitar essa oportunidade”, disse um integrante do grupo supremacista. “Estou pensando em fazer uma barreira na BR da minha cidade”, respondeu outro.
O documento foi enviado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI); à Diretoria de Inteligência Policial da Polícia Federal (PF); à Diretoria de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça, à Polícia Civil de Santa Catarina; e ao Gabinete de Transição do Governo. Também foi encaminhado à Polícia Civil do Rio Grande do Sul.
No entanto, as ações contra os grupos neonazistas só ocorreram com o Ministério da Justiça sob o comando de Flávio Dino, que determinou, em abril deste ano, a abertura de investigação.
“Assinei agora determinação à Polícia Federal para que instaure inquérito policial sobre organismos nazistas e/ou neonazistas no Brasil, já que há indícios de atuação interestadual. Há possível configuração de crimes previstos na Lei 7.716/89”, anunciou o ministro, em 6 de abril deste ano.
Também em abril, a Justiça suspendeu o uso do Telegram no país após o aplicativo não entregar os dados completos de canais neonazistas à Polícia Federal (PF). A plataforma, no entanto, voltou a funcionar três dias depois.
Prisões
Em junho, uma operação conjunta da PF com a polícia gaúcha resultou na prisão de três pessoas e cumprimento de mandados de busca e apreensão em Porto Alegre, Canoas, Nova Santa Rita e Novo Hamburgo.
"Eles (grupos nas redes sociais) guardam relação com várias destas células extremistas, inclusive com os materiais e folders que apreendemos", afirmou Tatiana Bastos, delegada titular da Polícia de Combate à Intolerância de Porto Alegre.
Os grupos
Um dos grupos identificados pela Abin, com o nome de “Resistência Sulista 1 Divisão", foi criado no Telegram em 3 de outubro de 2022, mas as primeiras publicações só se deram em 30 de outubro de 2022 - no dia do segundo turno das eleições. No canal, foi postado um vídeo que ensina técnicas de como fabricar armas de fogo por meio de impressoras 3D.
Outro canal identificado é o "Sul Independente Milícia", que, segundo o órgão, "difunde imagens com estética e teor associados ao neonazismo aceleracionista”. Trata-se de uma vertente do neonazismo que defende a necessidade de atos de violência por atores isolados ou pequenas células como forma de acelerar o colapso da sociedade.
Em 31 de outubro de 2022, foi criado outro grupo no Telegram, o "Soldati Della Luce" (Soldados da Luz), que se autodescreve como "milícia digital". O canal é repleto de referências racistas e diz em sua descrição que foi criado para defender a raça branca, criticando a criação do Ministério da Igualdade Racial no governo Lula.
Os relatórios trazem informações sobre a atuação dos neonazistas na disseminação de pautas propagadeadas por Bolsonaro, como fake news sobre as urnas eletrônicas e "luta contra comunistas". No relatório, a Abin conclui que os neonazistas ainda arregimentaram membros para "promover ações violentas contra autoridades", o que foi feito em 8 de Janeiro.