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ABRIU O BICO: Cid "entrega" Bolsonaro à PF ao dizer que deu dinheiro das joias "nas mãos" do então presidente da República
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15/09/2023 - 17:59
Tenente-coronel, que era ajudante de ordens do ex-presidente, teria colocado antigo chefe em situação delicada
Redação, com informações de Gabriel Mansur / JB
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e braço direito do ex-presidente durante os quatro anos de seu mandato, admitiu à Polícia Federal, em delação premiada, ter coordenado a venda de dois relógios de luxo recebidos pelo mandatário enquanto chefe de estado - um Patek Philippe e um Rolex.
No ponto mais sensível do depoimento, o militar, dias antes de ter sua prisão relaxada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, deixou claro que o dinheiro obtido no negócio foi repassado em mãos ao ex-patrão, por seu pai - o general Mauro Lourena Cid - , em dólar e em partes, sendo uma delas ainda em território norte-americano, colocando o antigo chefe em situação delicadíssima. A informação foi revelada pela revista Veja.
“Em mãos. Para ele”, seria a frase exata dita pelo militar aos policiais federais, lembrando que os US$ 68 mil (cerca de R$ 320 mil) foram inicialmente depositados na conta de seu pai, que depois foi repassando aos poucos a Bolsonaro.
Ainda de acordo com a publicação, que em seu texto original traz todo o retrospecto das encrencas em que se Cid se enfiou por causa do antigo chefe de Estado de extrema-direita, até chegar à delação, o investigado alega que a apropriação e venda indevida do patrimônio da União teria acontecido diante ao exposto de um suposto desconhecimento da ilegalidade.
"O presidente estava preocupado com a vida financeira. Ele já havia sido condenado a pagar várias multas. A venda pode ter sido imoral? Pode. Mas a gente achava que não era ilegal", teria dito o tenente-coronel.
Ainda assim, diante do teor que a Veja reporta até o momento, boa parte dos depoimentos de Cid teria seguido a linha de 'aliviar' as coisas para Bolsonaro e, sobretudo para os militares de alto escalão suspeitos de ações golpistas, como os generais Walter Braga Netto, Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno, respectivamente da Casa Civil, Secretaria de Governo e Gabinete de Segurança Institucional.
“Nunca vi o general Braga Netto levando nada ao presidente, nenhuma proposta, nada. O general Ramos desapareceu naquele período. Já o general Heleno estava mais preocupado com a saúde do presidente do que com os manifestantes", teria acrescentado na delação.
Foi a Polícia Federal quem descobriu a transação, realizada na surdina nos Estados Unidos, para onde Bolsonaro viajou no fim do ano passado, para não passar a faixa presidencial ao presidente Lula (PT), acompanhado do ajudante de ordens e levando na bagagem dois kits de joias.
A polícia já havia rastreado praticamente tudo sobre a transação, mas ainda faltavam peças importantes para completar o quebra-cabeça. O relógio Patek Philippe, por exemplo, nem sequer chegou a ser registrado no setor responsável pelo recebimento de presentes — ou seja, oficialmente, o regalo nunca existiu para o Estado brasileiro.
Para os investigadores, Bolsonaro criou uma estrutura para desviar bens públicos de alto valor para fins de enriquecimento ilícito. Ao ser confrontado com a informação, o ex-presidente disse que desconhecia o negócio e que não havia recebido nenhum dinheiro proveniente da venda indevida dos presentes. O depoimento de Cid, porém, desmonta essa versão. A ideia de vender as peças, portanto, teria surgido de uma necessidade de levantar recursos para bancar suas despesas.
Conversas golpistas
O ex-ajudante de ordens também precisou dar explicações sobre um roteiro de teor golpista encontrado em seu celular que discorria sobre a anulação das eleições do ano passado, que se somaria a uma intervenção no STF e à convocação de um novo pleito.
Cid afirmou que, pelas funções que exercia, seu telefone canalizava incontáveis mensagens sobre diversos assuntos, e mais de uma pessoa lhe encaminhou planos mirabolantes com conotação golpista — mas garante que não passou de um choro livre e que não deu prosseguimento ao material.
“Eu recebia um monte de besteira nesse sentido, de gente que defendia intervenção, mas não repassava para o presidente. Qual o valor daquele texto encontrado no meu celular?”, disse.
O avanço das investigações sobre Cid sacoleja o meio militar desde o início do ano. Em janeiro, o então comandante do Exército, Júlio César de Arruda, acabou demitido pelo presidente Lula após se negar a revogar a promoção do tenente-coronel ao comando de um batalhão em Goiânia e impor resistência a uma operação da PF contra Cid, que à época morava em uma área da vila militar em Brasília reservada para generais e seus assessores.
Agora, a nova cúpula da Força, comandada pelo general Tomás Paiva, tenta virar a página. Por determinação de Moraes, Cid foi afastado de suas funções no Exército, embora siga recebendo seu salário na casa dos R$ 26 mil, e não tem prazo para que a medida seja revista. Entre o Alto-Comando, entretanto, é tido como certo que ele será punido, podendo até ser expulso, ao fim das investigações.