QUEM FALA A VERDADE: Bolsonaro ou Mauro Cid, que acusa seu ex-chefe de tramar golpe de Estado?
QUEM FALA A VERDADE: Bolsonaro ou Mauro Cid, que acusa seu ex-chefe de tramar golpe de Estado?
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22/09/2023 - 06:40
Enquanto o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e espécie da "faz tudo" de Jair Bolsonaro, afirma que seu então chefe se reuniu com alta cúpula das Forças Armadas a fim de buscar apoio para um golpe de Estado, logo após ter perdido as eleições para Lula, o ex-presidente nega o fato e diz que se trata de uma denúncia "caluniosa" de seu ex-auxiliar.
De acordo ainda com Cid, o golpe não avançou tendo em vista que apenas o então ministro da Marinha, almirante Almir Garnier, teria aderido e se prontificado a endossar a trama criminosa; já os comandantes do Exército e da Marinha, da época, se posicionaram contra atentar as instituições e o Estado Democrático de Direito.
De acordo com vários analistas políticos, a delação de Mauro Cid é coerente com as ações e falas de Bolsonaro, geralmente embasadas em desacreditar o sistema eleitoral brasileiro, na tentativa de deslegitimizar as urnas e o resultado das eleições, o que abriria um suposto espaço "jurídico" para anular o pleito.
Para se dar crédito à essa delação, corrobora o fato que Cid participava, até como ouvinte privilegiado, devido à proximidade com seu antigo chefe, de reuniões a portas fechadas, no palácio presidencial. Informações e detalhes, que podem ser checados e confrontados, é o que não deve faltar ao agora delator.
Em um trecho da delação premiada, ex-ajudante de ordens disse que ouviu ex-presidente e militares tratarem sobre golpe de Estado
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou, por meio de sua defesa, que teria consultado o alto comando das Forças Armadas para levar adiante um eventual plano de golpe de Estado após derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas eletrônicas. A acusação feita à Polícia Federal - e vazada nesta quinta-feira (21) - consta em trecho da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e braço direito de Bolsonaro durante seus quatro anos de mandato.
Em nota divulgada à imprensa, a defesa afirmou que o ex-presidente não compactua com ações "fora da lei" e insistiu na versão de que sempre agiu "dentro das quatro linhas" da Constituição Federal.
"Durante todo o seu governo, [Bolsonaro] jamais compactuou com qualquer movimento ou projeto que não tivesse respaldo em lei, ou seja, sempre jogou dentro das quatro linhas da Constituição Federal", diz o texto divulgado pelos advogados.
O ex-chefe do Executivo, que há oito dias chamava Cid de 'bom garoto', numa tentativa de afago perante ao que ele poderia dizer aos investigadores, agora já pondera "medidas judiciais cabíveis contra toda e qualquer manifestação caluniosa" por parte de seu ex-subordinado.
"[A defesa] Reitera que adotará as medidas judiciais cabíveis contra toda e qualquer manifestação caluniosa, que porventura extrapolem o conteúdo de uma colaboração que corre em segredo de Justiça, e que a defesa sequer ainda teve acesso", conclui a nota.
O cerco se fecha em torno de Bolsonaro. Além da suposta trama golpista, que ganhou os noticiários nesta quinta, o ex-presidente também teme que Cid possa implicá-lo no caso das joias sauditas desviadas do patrimônio da União para seu acervo pessoal, a fim de enriquecimento ilícito, e das fraudes nos cartões de vacinação.