"DESBOLSONARIZANDO"? Atitudes do presidente repercutem em MT, inclusive em setores que votaram maciçamente nele

Cresce os ecos em Mato Grosso, considerado até então como o Estado mais “bolsonarista” do país, sobre preocupações quanto atitudes do presidente Jair Bolsonaro que estão levando o Brasil ao isolamento internacional. Por se tratar de um Estado que tem sua principal matriz econômica o agronegócio, com ênfase para a produção de soja e criação de gado, o sinal vermelho com referência às ações equivocadas do presidente da República vem piscando cada vez mais forte em um segmento que votou majoritariamente em Bolsonaro, o representado pelos produtores rurais. Nesse setor vem aumentando o desconforto com relação aos ataques que presidente, seus filhos e integrantes de seu governo, como o chanceler Ernesto Araújo, fizeram contra a China, sem que este país tivesse feito provocações ao Brasil. O que torna incompreensível para muitos é o fato que, ao contrário de hostilizar o Brasil, a China é o maior parceiro comercial de nosso país. As grandes aquisições, principalmente de soja e carnes, feitas pelos chineses são responsáveis pelos seguidos superávits que a balança comercial brasileira vem apresentando nos últmos anos. Com impactos diretos na economia mato-grossense, em grande parte voltada para as exportações de commodities para o gigante asiático. “Trata-se de uma insanidade, uma burrice sem tamanho ‘ideologizar o dinheiro’, ficando na contramão dos interesses econômicos do Brasil e de Mato Grosso”, afirma o analista e empresário Sidnei Pretto, referindo-se à postura de extrema-direita da política externa do Brasil. No entanto, Pretto separa o “joio do trigo” e diz que, embora os protagonistas de ataques que acabam prejudicando o desenvolvimento da economia, sejam fortes no grupo bolsonarista mais radical, nem todos os integrantes do governo “concordam com essa orientação estúpida” que está levando o Brasil ao isolamento. “Existe muita gente no governo que discorda dessas atitudes de dar tiro no próprio pé”, reforça. Entre as vozes sensatas no staff de Jair Bolsonaro, ele destaca a ministra da Agricultura, a sul-mato-grossense Tereza Cristina. Vacina Po outro lado, conforme já está sendo reproduzido no noticiário nacional, essa “estupidez bolsonariana” repercute agora na questão da saúde, ou seja, com o que pode ser um troco da China. Nesse sentido, integrantes do alto escalão do governo admitem que a relação conturbada do país com a China tem travado a importação de insumos para a produção das vacinas contra a Covid-19 no Brasil. O assunto teria sido um dos temas da reunião do presidente com ministros no Palácio do Planalto na tarde de segunda-feira (18). A determinação é “baixar a bola” nas críticas para que haja um esforço de reaproximação com o governo chinês. Um dos mais ferrenhos autores de ataques à China, o ministro das Relações Exteriores teria mudado sua conduta em nome de tratativas para agilizar a vinda de vacina. Na má vontade da China em fornecer os insumos para o Brasil, além de questões de preços que estariam levando os chineses a vender os fármacos a países que pagam melhor pelo produto, um fator que também pesaria agora em prejuízo do Brasil é o ataque do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que é filho do presidente, ao embaixador da China em Brasília, Yang Wanming, em novembro do ano passado. O parlamentar acusou os chineses de espionagem. Sua fala foi em apoio a adesão do Brasil à chamada Clean Network , articulada pelos Estados Unidos junto a outros países e cujo objetivo é banir a Huawei dos serviços de tecnologia 5G. Na época, a embaixada da China reagiu e afirmou que “declarações infames” de Eduardo e “algumas personalidades” brasileiras desrespeitam “os fatos da cooperação sino-brasileira e do mútuo benefício que ela propicia, solapam a atmosfera amistosa entre os dois países e prejudicam a imagem do Brasil".