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INVESTIGAÇÃO: Ex-senadora cassada de MT assume na PF ter criado contrato usado em suposto caixa 2
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30/01/2021 - 20:18
selma100
REDAÇÃO
A EX-JUÍZA SELMA ROSANE DE ARRUDA DURANTE CARREATA PRÓ-BOLSONARO, SIMULANDO ARMA COM AS MÃOS, EM UM ATO DEPRIMENTE PARA A ENTÃO MORO DE SAIAS
A senadora cassada Selma Arruda (Podemos-MT) disse em depoimento à Polícia Federal (PF) que a ideia do contrato de mútuo, firmado entre ela e seu 1º suplente na chapa ao Senado nas eleições de 2018, Gilberto Possamai, foi dela própria. O negócio é apontado como uma das principais provas de uma “doação” de R$ 1,5 milhão, não declarada à Justiça Eleitoral.
De acordo com informações do VG Notícias, Selma Arruda prestou um depoimento à PF num inquérito que foi prorrogado esta semana por mais 60 dias. O contrato de mútuo – um documento que tem o objetivo de regularizar um empréstimo financeiro -, possui indícios de falsidade ideológica, segundo a PF. A declaração de Selma vai na contramão do que foi dito por Gilberto Possamai, que falou que a iniciativa partiu do advogado Lauro da Mata, que prestava serviços à chapa ao Senado nas eleições de 2018.
“O contrato de mútuo foi ideia da declarante, como uma garantia para Possamai de que iria concorrer para senadora e não para outros cargos. Possamai pretendia levar o nome como suplente de senador para ter maior visibilidade política”, diz trecho do depoimento.
A senadora cassada alegou ainda que o pagamento de R$ 1,5 milhão não tem relação com uma suposta “compra” de uma “janela” em seu mandato no Senado – ou seja, a atuação no próprio mandato, mediante uma licença de Selma, por exemplo. O negócio, segundo ela, “não tinha vinculação alguma com eventual janela no Senado para ela ceder, tanto para o primeiro suplente, quanto para a segunda suplente, Cleire Fabiana”.
Selma Arruda segue o depoimento dizendo que se aproximou de seus suplentes por conta da afinidade ideológica, pois todos eram “Bolsonaro Roxo”, em alusão ao apoio ao então candidato à presidência, Jair Bolsonaro (sem partido). Na sequência, a senadora cassada revelou que o contrato de mútuo foi assinado pelo seu coordenador de campanha, Hélcio Botelho.
“Com a cassação na AIJE não só a declarante foi prejudicada, mas toda a chapa; em relação a confecção do contrato, afirma que ele foi elaborado e assinado pela declarante e por Possamai em maio de 2018, porém Hélcio assinou depois. Confirma que Hélcio passou a trabalhar para a declarante já no período da campanha, mas nega que o contrato tenha sido feito com data retroativa”, declarou a senadora, que revelou que a responsável pela contabilidade da campanha, Helena Lopes da Silva Lima.
Sobre a declaração de Gilberto Possamai, de que a ideia do contrato de mútuo foi de Lauro Mata, a senadora cassada declarou que foi “coisa da cabeça dele”. Ela ainda criticou a equipe de marketing contratada para sua campanha, chamando-os de “esquerdalha”.
“Isso é coisa da cabeça dele. Ele também diz que tudo isso aconteceu porque ela deu a campanha para ‘esquerdalha’ tocar (se referindo a coordenação de marketing); até hoje não entende porque não poderia fazer o financiamento de campanha da forma como fez, uma vez que o dinheiro para financiamento de atos de pré-campanha, em período em que sequer era candidate e não possuía CNPJ e conta bancária de campanha para utilizar”, disse ela.
Por fim, Selma Arruda também comentou a demissão do advogado Lauro da Mata, revelando que ele pressionava Gilberto Possamai para dar "carro e combustível" ao defensor.
CASSAÇÃO
Selma Arruda ficou conhecida nacionalmente como a "Moro de Saias", em alusão ao "ex-juiz da Lava Jato", Sérgio Moro. A fama de "linha dura", porém, não foi suficiente para fazer com que ela escapasse da própria legislação eleitoral. Ela foi cassada em julgamento no Tribunal Superior Eleitoral em dezembro de 2019 após o voto do relator do recurso interposto contra sua cassação, já determinada em abril do mesmo ano, pelo TRE-MT.
Dos sete Ministros que participaram do julgamento, apenas Edson Fachin não seguiu o relator, Og Fernandes, e votou por manter a senadora no cargo, resultando num placar final de 6 x 1.
Selma foi condenada por gastos irregulares de R$ 1,2 milhão em sua campanha vitoriosa ao Senado em 2018. Os recursos não foram declarados e teriam sido utilizados em período proibido pela Justiça Eleitoral – o que configura a prática de “Caixa 2”, além de abuso de poder econômico. O órgão também já reprovou as contas da parlamentar.
A senadora disputou pela primeira vez uma eleição em 2018 após se aposentar como juíza do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT) em março daquele ano. Ela obteve 678.542 votos.