Enquanto G7 se reúne e deixa Brasil de fora da cúpula, Bolsonaro estará passeando de moto

Enquanto G7 se reúne e deixa Brasil de fora da cúpula, Bolsonaro estará passeando de moto
Redação Enquanto Bolsonaro deverá estar passeando de moto com seguidores, amanhã (sábado,12), a cúpula do G7, composta por países de regime democrático mais desenvolvidos do mundo, aliados dos EUA, se reúne nesta sexta-feira (11) e, mais uma vez, optou por deixar o Brasil de fora do encontro. O Brasil alijado desse debate, que pode definir os rumos do mundo na pós-pandemia, aponta aumento do isolamento  internacional a que o País foi submetido e degradado na gestão bolsonarista. Se não fosse os inúmeros erros e equívocos cometidos pelo atual governo em sua desastrada política internacional, o Brasil poderia estar participando, como convidado, desse bloco do primeiro escalão mundial. Para entender melhor as implicações do que isso representa em termos econômicos e geoestratégicos, confira texto do jornalista Jamil Chade, colunista do Uol: G7 convida aliados para cúpula, mas frustra planos de Bolsonaro RESUMO DA NOTÍCIA Ambição do governo brasileiro de se aproximar de economias liberais do G7 não se concretiza Organizadores da cúpula que começa nesta sexta-feira optaram por convidar Índia, Coreia do Sul e Austrália Bolsonaro também ficou de fora da cúpula do G7 em 2019, quando Macron optou por convidar Chile, África do Sul e Egito As principais economias do mundo desenvolvido realizam nesta sexta-feira sua cúpula, com uma pauta que inclui a resposta à pandemia, a recuperação do crescimento e meio ambiente. A relação com a China e Rússia também irá dominar as conversas, num debate evidente sobre a reconstrução do sistema internacional para a era pós-pandemia. O G7, neste ano, optou por repetir o que já é uma tradição e convidou aliados. Mas deixou o presidente Jair Bolsonaro de fora, frustrando os planos do governo brasileiro de se aproximar dos países ricos. No evento que é sediado pelo governo britânico, o G7 (formado por Canadá, Reino Unido, Itália, Japão, França, EUA e Alemanha) estendeu o convite para Índia, Coreia do Sul e Austrália. Há dois anos, na França, o presidente Emmanuel Macron também fez convites a parceiros e emergentes durante a cúpula do G7. Mas, uma vez mais, o Brasil ficou de fora. Paris optou por chamar o Chile, Egito, África do Sul, Senegal, Índia e Ruanda. Em 2020, Bolsonaro anunciou que Donald Trump o havia convidado para a cúpula, que seria organizada nos EUA. Mas a pandemia e a derrota eleitoral do republicano obrigaram a Casa Branca a reconsiderar o evento.Dentro do governo brasileiro, as esperanças eram elevadas de que Trump incluiria o Brasil em uma nova aliança para repensar o mundo, no período pós pandemia. Em abril de 2020, numa reunião ministerial, o então chanceler Ernesto Araújo chegou a comentar que apostava numa redefinição do sistema internacional diante da covid-19 e indicava que haveria uma possibilidade real de que o Brasil fizesse parte de uma espécie de novo diretório mundial, ao lado dos EUA. "Eu tô cada vez mais convencido de que o Brasil tem hoje as condições, tem a oportunidade de se sentar na mesa de quatro, cinco, seis países que vão definir a nova ordem mundial", disse o então ministro, naquele encontro com a presença de Bolsonaro. "É, outro dia a...na conversa do presidente com o primeiro ministro da Índia, o indiano disse que vai ser tão diferente o pós-coronavírus do pré quanto pós Segunda Guerra do pré", explicou Araújo. Mas a ausência na mesa das maiores economias do mundo passou a ser uma frustração para o governo brasileiro que, desde que chegou a poder, demonstrou que tinha como objetivo se alinhar aos interesses do Ocidente. Parte da estratégia ainda envolve uma adesão à OCDE. Enquanto isso, o governo brasileiro esvaziou o Mercosul, desfez alianças na América do Sul, se afastou de projetos na África e passou a minimizar a cúpula dos Brics. Mas a aproximação esperada com as economias ricas não se concretizou da forma que se esperava e o Brasil continuou fora da mesa de negociações. No G7, se a ausência da China ocorre por uma questão estratégica e geopolítica, a situação do Brasil é interpretada no meio diplomático como um sinal da perda de prestígio internacional do país e de resistência por parte dos países ricos em aceitar a presença de Bolsonaro na mesa de negociações. A primeira real participação do Brasil nos eventos das economias desenvolvidas ocorreu em 2003, quando o então presidente Jacques Chirac convidou o país e outros emergentes para a cúpula em Evian e que, naquele momento, era conhecida como G8. O Brasil fez parte dos eventos de 2005, na Escócia. Em 2006, Angela Merkel uma vez mais convidou o Brasil para a cúpula que ela organizava, algo que se repetiu no ano seguinte no Japão e em 2008 na Itália. A partir de 2009, diante da crise econômica mundial, o G20 tomou o espaço que era do G7. Com as economias emergentes se transformando em um novo motor do crescimento global, uma das metas dos BRICS era justamente a de retirar o peso político do G7 e transferir para o novo grupo o papel de diretório do mundo. Naquele momento, o então ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, chegou a dizer que "o G8 morreu". "Não representa mais nada", disse. "Eu não sei como vai ser o enterro, às vezes o enterro ocorre lentamente." "Hoje, por qualquer critério, economias como China, Brasil e Índia são economias importantes, que têm um efeito na economia mundial maior do que muitos outros que estão no G8", disse. A partir daquele momento, o Brasil passou a se distanciar do G8, mas por uma ação deliberada do governo. O cenário muda radicalmente com o fim do governo de Dilma Rousseff. Mas o caráter transitório do governo de Michel Temer não credenciava o país a voltar à mesa dos grandes. A morte do G8, como previa Amorim, não ocorreu. Quando finalmente Bolsonaro assume, sua política externa tem como ambição convencer americanos e europeus a lidar com o Brasil como um aliado Ocidental e com projetos econômicos liberais. Mas, pelo menos por enquanto, o presidente brasileiro continua fora dos debates. Em 2022, sua última chance dependerá de um convite da Alemanha, país que presidirá o G7 no próximo ano.