LÁ E CÁ: Biden vence em Michigan e se aproxima da vitória; Bolsonaro diz que "esperança é a última que morre" e espera a judicialização do pleito  

LÁ E CÁ: Biden vence em Michigan e se aproxima da vitória; Bolsonaro diz que
Redação Biden vence em Michigan e se aproxima da vitóriaAs projeções de vitória de Joe Biden em Wisconsin e Michigan nesta quarta-feira, 4, abriram caminho para o democrata chegar mais perto da Casa Branca. Conforme analistas alertaram nas semanas anteriores à votação, alguns Estados poderiam registrar uma virada democrata no curso da apuração dos votos, quando as cédulas pelo correio fossem contabilizadas. É o que tem acontecido nos dois Estados do crucial Meio-Oeste, região que deu a Donald Trump a vitória em 2016. Com 98% dos votos apurados em Michigan, projeções da mídia internacional apontam que Joe Biden venceu no Estado e, com isso, pode levar os 16 votos do colégio eleitoral. Michigan é um dos Estados decisivos na disputa presidencial, que tem sido apertada desde a noite de terça-feira. Em 2016, Trump venceu no Estado por pouco, derrotando Hillary Clinton por apenas 0,2%. Entre o começo dos anos 70 e fim dos anos 80, o Estado votou exclusivamente nos republicanos, mas alternou para o partido Democrata em seis eleições presidenciais consecutivas, de 1992 a 2012. Biden também venceu no Wisconsin, um Estado da chamada "parede azul" que tirou as esperanças de Hillary em 2016, segundo projeções da TV CNN, do jornal New York Times e da rádio NPR. A vitória de Biden veio um dia após o fechamento das urnas e com a contagem de votos de ausentes da cidade de Milwaukee. Biden ultrapassou Trump na quarta-feira, quando Milwaukee relatou seus cerca de 170 mil votos ausentes, que eram esmagadoramente democratas. Retornos tardios de Green Bay e Kenosha apenas aumentaram sua liderança. O Estado, com 10 votos do colégio eleitoral, há muito é considerado um dos principais campos de batalha com potencial para dar um grande impulso a Biden ou Trump. Para vencer, o candidato precisa de 270 votos. Até agora, Biden tem 264 no total, contando com Arizona, enquanto Donald Trump aparece com 214. Apelação Após o avanço da apuração em Wisconsin, a campanha de Trump anunciou que houve alegações de irregularidades em muitos condados no Estado, "o que levantava sérias dúvidas sobre a validade dos resultados". Pouco depois, a campanha entrou com um pedido de uma recontagem de votos no Estado, como explicou o chefe de campanha republicana, Bill Stepien.A campanha também apresentou uma ação em um tribunal no Michigan para suspender a contagem de votos no Estado até que seja dado acesso para observar o processo de apuração. A campanha alega que não teve "acesso significativo" para observar a abertura das urnas em vários locais. Candidatos democratas costumam ter ganhos na apuração após a votação nos Estados onde a contabilização das cédulas pelo correio é feita após a contagem dos votos presenciais. Isso porque o eleitorado democrata é mais propenso a votar de maneira antecipada. Neste ano a votação pelo correio bateu recorde em razão da pandemia, o que deu esperanças à campanha democrata ontem mesmo diante de resultados iniciais favoráveis a Trump. Os democratas esperam que o mesmo aconteça na Pensilvânia quando os votos à distância forem contabilizados, mas o Estado pode demorar dias para concluir a divulgação. Na tarde desta quarta-feira, a campanha republicana informou que também acionou a Justiça para parar a contagem dos votos no Estado alegando "falta de transparência". Além disso, a campanha republicana anunciou que entrará com um pedido em um caso já em andamento na Suprema Corte envolvendo o prazo para recebimento de cédulas pelo correio no Estado. Não há relatos de fraudes ou qualquer tipo de preocupação na votação por parte do Estado da Pensilvânia. Se Biden confirmar a dianteira nos Estados onde está à frente na apuração, tem chance de vencer sem que seja necessário aguardar o resultado na Pensilvânia. Na noite desta quarta-feira, campanha republicana entrou com mais um processo para pausar a contagem dos votos também no Estado da Georgia, o terceiro processo do tipo hoje. A Geórgia também é um dos Estados-chave desta eleição e o republicano vinha liderando por uma pequena margem: 50% a 48,8% de Biden, com 94% dos votos contados. A perspectiva de que a campanha de Biden ganharia espaço conforme as cédulas de voto pelo correio fossem contabilizadas é o que tem motivado os ataques de Trump ao método de votação amplamente empregado no país. Por isso, o presidente argumenta que a contagem deve ser paralisada. Os eleitores do republicano preferem o voto presencial, o que dá a ampla vantagem no início da apuração. "Eles estão achando votos para o Biden em todo lugar -- na Pensilvânia, Wisconsin e Michigan. Muito ruim para o nosso país", escreveu Trump no Twitter nesta tarde. Na madrugada desta quarta-feira, ele prometeu pedir à Suprema Corte para paralisar a contagem de cédulas, argumentando que se trata de fraude da oposição para vencer, e se declarou vitorioso em Estados onde a apuração não tinha sido encerrada, como Geórgia e Carolina do Norte. No Michigan, onde Biden e o ex-presidente Barack Obama fizeram atos de campanha nos últimos dias, com 94% da apuração, Biden tinha 2,629,877 votos e Trump, 2,551,701. A vantagem de Biden é de 49,6% a 48,7%. Michigan tem 16 delegados no colégio eleitoral. Cautela Para o diplomata Rubens Ricupero, que foi embaixador do Brasil nos Estados Unidos, é cedo para traçar um cenário antes do resultado da Pensilvânia, que pode demorar dias por conta do método de contagem dos votos. "A expectativa é que Biden só ganhará se os votos que foram pelo correio mostrarem uma maioria esmagadora em seu favor".Ricupero acrescentou que a lição da disputa de 2020 é que não houve uma reversão, como se esperava, da eleição de 2016. "Em grande parte, é um replay", compara. Para o veterano diplomata, as causas da divisão da sociedade americana são muito profundas e não desapareceram. "Trump não é um fenômeno passageiro e vê-se que ele tem um apoio muito sólido. Qualquer um que ganhe terá de lidar com essa radicalização e com essa polarização". Na avaliação do professor Roberto Goulart Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), a principal surpresa da apuração dos votos foi o Arizona, onde Biden deve vencer com 11 delegados (a apuração está próxima de 90%). "Agora, o democrata precisa manter a pequena margem de vantagem no Michigan, Nevada e Wisconsin para conseguir os votos que faltam para alcançar os 270 delegados. Com isso, os votos da Pensilvânia seriam um bônus", afirma Menezes, que é pesquisador do Instituto Nacional de Estudos sobre os EUA (INEU). Os resultados de Nevada, Alasca, Geórgia e Carolina do Norte também ainda estão em aberto. Professor de relações internacionais da FAAP especializado em política americana, Carlos Poggio avalia que a virada se deu porque os votos por correio, que começaram a ser contados apenas tardiamente, são favoráveis a Joe Biden. "É sempre importante olhar qual tipo de voto está sendo contabilizado e de onde ele está vindo", explica. "Em lugares altamente populosos, nas grandes cidades, os votos são pesadamente democratas, enquanto em áreas rurais e cidades menores, são republicanos". Poggio vê a possibilidade de um cenário parecido com 2016, mas "com sinal invertido", caso haja vitórias apertadas de Biden em Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, onde Trump venceu Hillary há quatro anos. Bolsonaro aposta em reviravolta para Trump na Suprema Corte BOLSONARO DEIXA DE COMEMORAR ANTECIPADAMENTE Com o avançar da contagem de votos que colocou o democrata Joe Biden mais próximo de Casa Branca, Jair Bolsonaro trocou o otimismo das primeiras horas de apuração pela narrativa do colega americano Donald Trump de que o processo eleitoral dos Estados Unidos está fraudado. Diante do cenário adverso, nos bastidores, a torcida no Palácio do Planalto passou a ser para que Trump reverta a derrota com a recontagem na Suprema Corte. Ao chegar no Palácio da Alvorada no início da noite desta quarta-feira, 4, Bolsonaro evitou comentar a situação, seguindo o orientação de auxiliares da área internacional para que se mantivesse neutro diante de uma judicialização da eleição americana. "O que que tu acha? Todo mundo acompanhando. Parece que foi judicializado o negócio lá, né. Um estado ou outro. Esperar um pouquinho", disse Bolsonaro ao ser questionado por um apoiador na chegada do Palácio da Alvorada. "A esperança é a última que morre", respondeu o presidente a uma apoiadora que relatou a ansiedade pela apuração dos votos na eleição americana. "O que seria de nós sem o senhor e o Trump? A gente está aqui com o coração na mão pelo que está acontecendo nos Estados Unidos", afirmou a mulher. Pela manhã, no entanto, o presidente, que passou a madrugada checando os resultados, disse que achava que Trump ganharia a disputa. Ele voltou a dizer que não se tratava de uma interferência, mas de uma preferência. Bolsonaro passou o dia de olho na apuração da eleição dos Estados Unidos com a televisão ligada e recebendo análises do cenário do assessor-chefe para Assuntos Internacionais, Filipe Martins. Ele ainda almoçou com o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e se reuniu com os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Braga Netto (Casa Civil) e José Levi (Advocacia-Geral da União). Diante das notícias indicando o quadro favorável a Biden, Bolsonaro fez uma piada com os ministros dizendo que se Trump não vencesse jogaria o Filipe Martins da janela do terceiro andar do Planalto, onde está localizado o seu gabinete. Na previsão do assessor, Trump levaria os votos do Arizona. A projeção de vitória no Estado é para Biden e até agora o único equivoco da perspectiva de Martins. Com 86% das urnas apuradas no Estado, o Planalto ainda acreditava que seria possível uma reviravolta. O assessor se tornou uma espécie de oráculo do governo sobre as eleições americanas após ter acertado o resultado de 2016, com vitória de Trump sobre Hillary Clinton. Neste ano, Martins traçou três cenários possíveis, em um deles com vitória de Trump se daria com 280 delegados dos colégios eleitorais dos 538. O vencedor precisa de 270 delegados. Ao longo dia, aliados do presidente passaram a compartilhar publicações nas redes sociais de sites americanos de direita com supostas denúncias de fraudes, nenhuma comprovada. Entre ela uma postagem que engana ao afirmar que cédulas com votos para Donald Trump foram achadas enterradas no Arizona. De acordo com a Procuradoria Geral do Estado americano, os votos foram encontrados em envelopes selados - portanto, não é possível atribuí-los ao candidato republicano. Além disso, as cédulas roubadas foram devolvidas aos eleitores, que tiveram a oportunidade de reenviar seus votos. E se der Biden? Apesar da torcida por Trump seguir, interlocutores do Planalto já veem na vitória de Biden o aumento da pressão para a saída do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Os dois atualmente são vistos como entraves até mesmo para uma relação pragmática com um governo democrata. A política ambiental do governo Bolsonaro foi alvo de crítica de Joe Biden no primeiro debate no fim de setembro. Na ocasião, o democrata prometeu se juntar com outros países e oferecer US$ 20 bilhões para ajudar na preservação da Amazônia. "Parem de destruir a floresta e, se não fizer isso, você terá consequências econômicas significativas", completou, indicando possíveis retaliações ao governo brasileiro. Bolsonaro respondeu, dizendo que a observação era "lamentável" e "desastrosa". Nesta quarta-feira de manhã, ele voltou a criticar Biden. "O candidato democrata, em duas oportunidades, falou sobre a Amazônia. É isso que vocês estão querendo para o Brasil? Aí sim uma interferência de fora pra dentro", declarou. (Com Agência Estado)